David Hulak

O Pensador.

O Pensador.

Ouvi que um pai, dia desses, foi buscar o seu filho de 16 anos numa das manifestações contra alguma coisa. Tirou-lhe a máscara. Argumentaram entre si, mas valeu o pátrio poder. O moleque reclamava que seria preciso protestar por mais saúde educação.
Entrei na máquina do tempo até o século passado, quando, tão moleque quanto o de hoje, sacudia pedras em ônibus ou percorria as ruas em passeatas, algumas delas que terminavam com assuadas, piquetes, vaias, palavrões em frente ao Colégio Padre Félix. Sempre por causa de aumentos na passagem dos ônibus ou das anuidades escolares.

A polícia de Cordeiro de Farias reprimiu passeatas com cacetadas e tiros. Um deles pegou no pé de Hamilton, do Centro de Estudantes Secundários, que teve que pular no Capibaribe para não ser preso. Isso gerou mais protestos. Os da Juventude Comunista foram advertidos por experientes dirigentes como Capistrano e Hiram Pereira para evitar os excessos e provocações de infiltrados, pois os tiras só estavam querendo motivos. E já se antevia a eleição que, depois poria fim aos resquícios do Estado Novo.
“Já nos quebra-quebra de ônibus, em 54, o presidente da União dos Estudantes de Pernambuco – UEP – o sábio acadêmico Egídio Ferreira Lima, que não era comunista nem nada, foi contra a destruir e tacar fogo nos coletivos. Houve também aprendizagem por parte de estudantes mais centrados, tipo “emos”, com as lições de Rodolfo Aureliano, diretor do Padre Félix e líder do órgão de classe dos proprietários de colégio, católico, democrata, jurista, grande figura.

Inesquecível aula após uma reunião dos estudantes com o sindicato patronal para negociar o tal aumento de anuidades. Firme, educado, didático sem ser chato, a sua conversa alertou para o direito de chiar, mas com cuidados educados e democráticos.

Alguns de nós não entenderam, pois ele seria a imagem do conservador reacionário etc; outros sacaram; uns tanto mangaram e vários de nós introjetamos. Eu, ainda por cima, saí encabulado, pois, além de admirá-lo, o cara era pai de Rodolfinho, irmão de Dr. Antônio, cunhado de Dona Adail irmão da grande pernambucana Dedé, o amor no Recife e tio da revolucionária e companheira Liana. Vôte!

Bom mocismo, covardia ou um outro tipo de estratégia e de suas táticas?

Já vimos esse debate quando os poderosos sindicatos franceses caíram fora da “revolução” estudantil de 1968, na contradição entre luta armada e a lenta e gradual “mobilização das massas” durante a ditadura brasileira.

Houve quem achasse que o foquismo de Guevara e o seu manual teórico, aquele de Régis Debray, seria aventura inócua, pois a América Latina não era Vietnam e que uma nova Cuba não seria tolerada pelos Estados Unidos e seus aliados morenos. Chê, amada saudosa lembrança, virou camiseta e Régis, site. Mas muitos “focaram” no interior de Goiás.

Moral da reminiscência: há novidades no front? Sim: internet e black bloc.

Há a internet substituindo os panfletos mimeografados. E quem sabe que porra é um mimeógrafo pode pedir ingresso mais barato no cinema e furar as filas, sem culpa.

Há mistura dos que querem educação e saúde, mesmo sem saber como, com a rapaziada do pega prá capar. Há o acompanhamento, com regozijo, das vivandeiras dos porões que apenas iniciam a ser abertos e houve Copa. O povo, encamisado de auriverde está nos estádios e nos auês, pois Arena e Funfest é a pqp…

Está havendo Copa e então não se está dando muita importância para esse globalizado black bloc. As massas não os seguiriam. Nem os da elite, nem os da patuleia excluída. Mas eles merecem cuidados além das tentativas psicosóciofilosóficas de entender o que está rolando.

Para ser um autêntico black bloc há um manual editado não sei onde com circulação global. Ensina como se planejar, defender atacar. Indica quem são os inimigos genéricos como o capitalismo e outros bem abstratos e os específicos, como a polícia.

A improvisação do pega prá capar é na hora de estar nas ruas, mas o planejamento não é banda voou. O manual diz como chegar nas manifestações alheias, aquelas de reivindicações pontuais e transformá-las em caos pela destruição da propriedade privada e açulando a polícia.

Tem havido reação dos protestantes e até agora os organizados movimentos dos sem algo estão deixando os blacks de fora. Mas há casos como no Brasil de Junho ou o de Seattle de 99 quando o gosto de sangue caiu na boca de todos, em manada. Como em Pernambuco quando houve um apagão no município de Abreu e Lima e muita gente boa entrou no saque generalizado.

Soluções são apontadas Manifestações politicamente corretas e polícia bem treinada e de cabeça feita. Mais daqueles domados pela escola, pela fábrica e pelos quartéis e menos irredentos com a faca nos dentes.

Aproveitando que não se conseguiu – até agora? – acabar com a Copa pelo refinamento da ação policial e pelo entusiasmo da bola rolando o que estarão fazendo o os blackblokers?

Relendo o “Guia civil da ação direta- o que é, para que serve, como funciona”?

Ver-se-á depois do apito finalíssimo no Maraca.

Certo, é que: não haverá mais grandes eventos e muitos feriados encangados; termos que correr atrás de aumentar o pibinho para ficar com parte dele e para mantermos nossos empregos e rendas, pagarmos os impostos devidos; não haverá mais concursos públicos por um tempo razoável e cada vez menos vestibulares e mais enems; branquelos tostados de Raios UV se declararão pardos e quando esta Revista circular já saberemos quem terá mais tempo de televisão em coligações esdrúxulas.

Certo, certo mesmo é que teremos eleições gerais neste ano.

Incerto é se teremos novos representantes e “gestores” que representem os que querem mais educação e saúde, se os eleitos terão que ser patrulhados por sovietes da sociedade civil organizada e manipulada; se heranças malditas se perpetuarão sendo legadas para várias gerações adiante.

Ver-se-á ano que vem.

Enquanto isso cuidado que os black blocs vem aí.

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