O atentado ao semanário Charlie Hebdo e as grandes manifestações em Paris, condenando o terrorismo e a intolerância política e religiosa, desviou a atenção do mundo e dos analistas políticos para um pequeno mas significativo evento na América Latina: a libertação de 53 presos políticos em Cuba, que faz parte das negociações para o reatamento de relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos. O próximo passo será o envio de uma missão norte-americana a Cuba para a primeira rodada de negociações que preparam a normalização das relações bilaterais, encerrando décadas do embargo comercial com enorme prejuízo do país do Caribe; segundo as Nações Unidos, até 2005 o embargo já teria provocado um prejuízo superior a 89 bilhões dólares à pequena economia cubana. O embargo econômico a Cuba é talvez a mais anacrônica medida da política externa norte-americana, principalmente depois do desmonte do bloco soviético que sustentava Cuba economicamente e que constituía, durante a guerra fria, uma grave disputa geopolítica. O lobby dos exilados cubanos nos Estados Unidos e o álibi do anti-imperialismo cubano deram sustentação a esta política por mais de 50 anos. A atual reaproximação de Cuba e Estados Unidos contribui para a distensão política no continente e constitui um grande alivio para as enormes dificuldades da economia cubana. O comércio com os Estados Unidos se soma às reformas econômicas iniciadas pelo governo cubano (lentas, mas consistentes) para promover uma reestruturação da economia, abertura externa e ampliação do mercado interno. A reorganização do sistema político com liberdade de imprensa e pluralidade partidária serão consequências prováveis deste movimento renovador de Cuba.