Eli S. Martins*

Personagem do filme V de Vingança.

Personagem do filme V de Vingança.

No fundo do poço

Dilma teve que adiar sua viagem e destacar três ministros para explicar o inexplicável. Três pobres figuras. O Edinho, aquele que tem a grande qualidade de ler todos os jornais mal nasce o dia, embora haja dúvidas se ele entende o que lê; Cardozo, aquele que o PT começa a odiar e guarda uma cara de mordomo honesto em casa suspeita, sem jamais perder a compostura; e o Mercadante, conhecido no senado pela arrogância ao ponto de que no momento em que um senador entra na sala sem cumprimentar, diz-se imediatamente – “pegou a gripe do Mercadante”.

E o poço sem fundo

O governo Dilma é aprovado por apenas 9% dos brasileiros, e reprovado por 68%. 78% não confiam nela e 83% reprova sua maneira de governar. Índices piores do que os de Collor de Mello. Tia Dilma tá numa pior, disse meu neto de 10 anos.

Esquerda volver

É o movimento que Tarso Genro tenta fazer, convertendo pouco a pouco as correntes do PT às suas teses de refundação do Partido. O problema é saber para qual esquerda ele vai: aquela que o PT defendia no século passado, repleta de figuras  “jurássicas”  que aos poucos foram abandonadas ou uma esquerda moderna, jovem, sintonizada com as mudanças do tempo? O problema é saber se Tarso e seus companheiros entendem os tempos em que vivem.

Capitalismo de negócio e capitalismo de Mercado

Embora não esteja entre meus economistas preferidos, e sempre dele desconfio, o artigo do Gustavo Franco é digno de ser lido, em O Globo de domingo passado. Aliás, similarmente brilhante ao de Gabeira no mesmo periódico, falando do “volume morto” em que se encontra o PT e seu líder, e  que levou também o País. À diferença da crise pretérita dos anos 1980, em que víamos com esperança no futuro, hoje falta futuro.

Enquanto a lavagem não vem….

A liderança das esquerdas continua nas mãos no seu mais recém convertido, o presidente do Senado. Pegou a reforma política pelos chifres, depois do desastre que a Câmara dos Deputados realizou na matéria – uma amontoado de besteiras como clausula ridícula, recusa da cota feminina e do fim das coligações. Salvo duas ou três pequenas coisas, o mais relevante encontra-se nas derrotas do distritão e do voto facultativo. Como dizem alguns analistas, a Câmara dos Deputados provou que o ruim pode ficar pior. Neste quadro, o líder das Alagoas resolveu fazer uma reforma do sistema eleitoral com começo, meio e fim. Criou uma comissão de sistematização, abriu a consulta aos tribunais superiores e à Presidência da República e agora à sociedade civil organizada. Participação  que nenhum petista pode botar defeito.

Todos calçam 40

Nos anos 1950 um ditado muito popular para caracterizar os políticos era dizer que todos calçavam 40, ou seja, em termos bem popular = todos são igualmente ladrões. Era, e continua a ser, um ditado despolitizador, mas certa esquerda agora quer ressuscitá-lo. Da situação ou da oposição quem recebeu dinheiro das empresas comprometidas com a operação Lava Jato são todos iguais, dizem. Meu vizinho padeiro não deixou de me perguntar uma manhã dessas: “Que o José Dirceu ou o Vaccari tinham influência nos negócios do governo e das suas empresas eu sabia. Mas agora acabo de saber que o Aloysio Nunes do PSDB também”. Fiquei intrigado. Ainda estou buscando quem o Aloysio indicou para diretor da Petrobrás. Pergunto-me: será que lá também tem diretores secretos, como os decretos do Sarney na época em que era presidente do Senado?

Campanha pizza gigante

Não para de aumentar os adeptos da corrente do enterro do Lava Jato. Além de advogados conhecidos, e, por motivos óbvios, bem remunerados, os jornais se enchem de artigos tentando mostrar que o Juiz Sergio Moro é um fanático, um exibicionista, um perverso, um ignorante…só falta dizer que é um ET disfarçado. Enfim, qualificativos não faltam, e títulos aos autores também não: advogados famosos, professores de direito, jornalistas reconhecidos. Vale tudo para impedir que o País ingresse numa maneira diferente de considerar a corrupção, ou seja, punindo os corruptos e os corruptores. Simples e banal como isso. Bem que dizia Nelson Rodrigues, ser subdesenvolvido dá trabalho, não é coisa de amadores.

Qual o caminho?

A grande dúvida sobre o futuro do País entre alguns economistas é se caminhamos para nos tornar a Grécia, a Espanha ou a Turquia. Ismeralda, minha vizinha enfermeira, disse-me na padaria que não prefere nenhum dos três.  Disse, também, que depois de Mantega não acredita mais em economista. Encontrar gente otimista no começo do dia faz um bem aloprado. Será que tem gente assim na caminhada matinal do Sergio na Jaqueira?

* Observador anônimo da política nacional