Meu pai nasceu em 28 de maio de 1928. Segundo filho em uma família de classe média baixa, bem modesta, ele me contou que lia à noite à luz de velas para não encarecer a conta de energia da casa. Teve, porém, por cuidado providencial e produto do esforço espartano de seus pais, educação esmerada, pois estudou no Colégio Marista, célebre por congregar os filhos das pessoas abastadas de Recife e pelo alto nível de ensino. Ele e meu tio, Eleuberto, foram notabilizados nas revistas do Marista como estudantes dedicadíssimos, sempre entre os primeiros da classe, meu pai também se notabilizando como excelente goleiro, em uma foto dele, desviando bola certa ao gol, estampando-se uma legenda imortal para nós: Martorelli, o gato das traves. Dedicou-se muito cedo à matemática, sua grande paixão intelectual, impressionava-nos como, em fração de segundos, multiplicava na cabeça 10.834.535 por 27.875.346.987, é isso mesmo, nós, os filhos, ficávamos embasbacados, e ele, sério ao dizer o resultado, ria em seguida, dizendo ser muito simples, bastava praticar números. Gostava de ensinar e, ainda jovem, tornou-se professor da escola de engenharia, cujas bancas abrilhantara também como extraordinário aluno. Professor de concreto armado e de resistência dos materiais, era muito exigente com seus pupilos, mas deles se tornava amigo facilmente, tanto que foi paraninfo de diversas turmas, e me emociona ainda hoje encontrar ex-alunos, companheiros de docência, empresários e profissionais da engenharia comentando sua argúcia, precisão e dedicação profissional, como professor e como engenheiro calculista, dono de uma das maiores firmas de cálculo estrutural da região, mas também, e principalmente, sua seriedade e ética. Cantava muito bem e tocava gaita, apreciando um bom uísque, bebida de que era exímio conhecedor. Culto, lia todos os gêneros, com maior interesse nos romances e teatro, possuía vasta literatura política, com inclinação à esquerda, amava viajar e conhecer o mundo, aprendeu e foi fluente em oito línguas. Apossei-me de sua biblioteca como quem recebe um tesouro, foi uma de suas heranças para mim. Também, claro, o grande amor pelo Sport. A principal, porém, foi seu exemplo de vida, de homem sério no trato pessoal e nos negócios, comprometido com a família, intransigente com os desvios, fazedor de amigos, e cheio de amor. Era um homem inteligentíssimo, fascinante, bonito, elegante, educado. Morreu em 9 de agosto de 1996, próximo ao dia dos pais, este ano coincidindo as datas. Queria erguer-lhe um monumento, mas só posso deixar este curto elogio de uma crônica despretensiosa, na esperança de perpetuar sua memória. Que termina com uma lágrima de saudade por, enfim, dedicar a ele, meu paizinho querido, esta coluna às vezes tão impessoal. Feliz dia dos pais, leitor.
Sobre o autor
João Humberto de Farias Martorelli
Nascido em 26/09/55. Formado pela Faculdade de Direito do Recife. Colou grau em 18/08/77 (Turma Torquato Castro – foi laureado e orador da turma). Foi membro efetivo do Conselho de Recursos Fiscais do Município do Recife (1981) e Procurador Judicial da Prefeitura do Recife (1981/2001) com atuação na Procuradoria Fiscal (ambos os cargos, ingressando por concurso público). Foi também Secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife, no período 01/01/86 a 02/05/88 e Conselheiro Federal da OAB, Seccional Pernambuco, no triênio 98/2000. Ex-Conselheiro e Ex-Presidente da Causa Comum. Membro da Associação Internacional de Juristas Democratas. Membro do Conselho Diretor do CESA – Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (até 2005), sediado em São Paulo, Vice-Presidente da Regional do CESA/PE. Chairperson do Comitê de Legislação da AMCHAM (2003). Fundador de MARTORELLI ADVOGADOS, Escritório de Advocacia Empresarial com atuação em todo o Nordeste, com 30 Anos de atuação. Vários artigos publicados em coluna quinzenal no Jornal do Commercio e um livro em edição privada, “O Cofre é o Coração”, reunindo alguns dos artigos. Presidente do SPORT CLUB DO RECIFE (2014).
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Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
Fui seu aluno e monitor na UFPE em resistência dos materiais III e IV. Corroboro com tudo isso dito. Sempre foi minha referencia na área de cálculo e me arrependi até hoje por não seguir seu conselho e transferir mecânica para civil e me tornar calculista.
Excêntrico
Bom dia
Meu Professor das disciplinas de Mecânica e Resistência dos Materiais.
Encontrava-nos na SUDENE quando o órgão precisava do seu parecer na troca de mainframe para saber se o esforço físico da nova máquina era compatível com os cálculos estruturais que tinha feito para o projeto de construção civil do prédio da entidade que trabalhei junto à Coordenação de TI.
Longos tempos.
Mui grato por tudo.
Cordialmente,
Eduardo