A história da humanidade é pontuada desde sempre por grandes movimentos de população. Os atuais são a manifestação mais perversa do processo de globalização, onde o capital circula livremente enquanto a mão de obra é crescentemente cerceada por cercas de policiamento de fronteiras e até cercas físicas, como entre Tijuana no México e Califórnia nos Estados Unidos. A imprensa voltou a noticiar o horror desses êxodos do mundo globalizado. Os locais são geralmente áreas de fronteira entre países. Hoje pode ser Idomeni na Grécia com Gevgelija na Macedônia; como ontem e hoje continua sendo a pequena Lampedusa na Itália, notabilizada pelos desastres com os modernos navios negreiros que carregam africanos pelo Mediterrâneo para a Itália, como porta de entrada para os demais países prósperos europeus. A Europa é o destino de 560 mil imigrantes ilegais todos os anos, sejam eles fugitivos de guerras religiosas, lastreadas no fundamentalismo dos Estados Islâmicos; sejam imigrantes das antigas colônias europeias que, após a crise instalada em seus respectivos países, retornam para os países colonizadores a herança dos problemas sociais herdados da colonização, através dos imigrantes. O maior problema reside na imigração ilegal, visceralmente ligada ao tráfico de seres humanos. Um documento da ONU confirma o tráfico de 600 a 800 mil pessoas por ano, rendendo 8,2 milhões de euros anuais aos traficantes. A Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais (CMMI) revela, por sua vez, que, dos 560 mil imigrantes ilegais chegados a Europa todos os anos, dois mil africanos morrem ao tentar atravessar o Mediterrâneo. Esse é o grande dilema do século XXI: a economia próspera do mundo necessita da mão-de-obra imigrante em face de uma população que envelhece; enquanto a sociedade desses países, respaldada por leis imigratórias, rejeita o sujeito imigrante que traz consigo o diferente, tornando-se o bode expiatório para todos os problemas sociais.
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