A primeira manifestação (única até agora) de boas vindas escutada pelos milhares de refugiados sírios, curdos e afegãos foi em alemão: “Willkommen”. A acolhida generosa e responsável da Alemanha foi um diferencial na Europa com vários países construindo muros e cercas para impedir a entrada de homens, mulheres e crianças que fugiam da guerra e da violência religiosa e racista. A língua e a nação de Goethe, de Hegel, de Marx, de Thomas Mann, de Einstein e de Bethoven, que tinham sido estigmatizas pelo racismo e pelo terror do nazismo, mostra agora sua solidariedade e sensibilidade humana, recuperando a imagem criada no passado pelos grandes poetas, escritores e filósofos que marcaram a civilização mundial. Angela Merkel, a longeva primeira-ministra alemã, recentemente criticada pelo seu rigor diante do desmantelo fiscal da Grécia, assumiu a liderança da Europa para derrubar os muros e cercas e para organizar uma recepção digna e respeitosa das vítimas de fanatismo e intolerância do outro lado do continente. Quando todos os governos e nações europeias rejeitavam com recursos muitas vezes violentos a entrada dos refugiados, a chefe de governo alemã, na contramão da insensibilidade geral, anunciou que a Alemanha receberia 800 mil refugiados. Na chegada a Munique, os primeiros grupos de refugiados foram recebidos com generosidade e simpatia pelo povo alemão, com um afetuoso “Willkommen” que emociona as vítimas e dá uma lição ao mundo e, principalmente, uma tapa de luvas no povo e nos governantes de outras nações de Europa. A postura da Alemanha redefiniu o quadro político na Europa que agora assume coletivamente um plano de absorção organizado dos refugiados, desesperados por uma nova oportunidade de vida e segurança. Danke Deutschland!
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Interessa-me mais o fato das nações árabes e muçulmanas, ali bem vizinhas no Golfo Pérsico, ricas e perdulárias, recusarem-se a receber um único irmão refugiado. Os europeus têm recebido imigrantes do Oriente Médio e Norte da África ao longo de décadas e parece que isso é fundamental para manter o crescimento econômico de sociedades cuja tendência demográfica é negativa. Isso não desmerece o papel positivo da Alemanha nesse episódio, mas não é inédito. O que surpreende é a Ásia como um todo e o Golfo Pérsico em particular ser tão refratário a valores humanos universais, como a solidariedade com vítimas de uma guerra civil duradoura e cruel.
Concordo inteiramente com a opinião expressa neste Editorial. A posição assumida pela Alemanha diante da questão da massa humana que procura refúgio neste momento na Europa é exemplar. Para mim, que recebí asilo político da Alemanha quando fui perseguido pela última ditadura que vigiu no Brasil, compreendo de modo especial o quanto significa esta atitude.