O artigo de Elimar Nascimento, publicado na edição anterior da Revista Será? – “Carta a um amigo petista” –, deu origem a um debate de muito bom nível. Com dezenas de comentários na própria Revista e no facebook e milhares de compartilhamentos na rede social, esse debate evidenciou o desejo e a possibilidade de uma discussão respeitosa e elegante em torno da dramática situação econômica, social e política do Brasil e das responsabilidades dos governos. No ambiente de forte polarização política que vive o Brasil na atualidade, com agressões mais que argumentos e explanação de ideias, a qualidade desse debate é uma gratificante exceção de equilíbrio e racionalidade.
A Revista Será? se sente orgulhosa de constituir este espaço virtual de debate de ideias e confronto de percepções e visões de mundo, entendendo que esta é única forma de ampliar o conhecimento sobre o mundo e o pais e ajudar na definição de propostas de desenvolvimento. Mérito de Elimar Nascimento, pela qualidade da sua análise, mas também mérito dos comentaristas que, convergindo ou divergindo em torno das suas ideias, argumentaram e procuraram fundamentar seus pontos de vista e, desta forma, contribuíram para ampliar a compreensão e formar um pensamento mais completo diante da complexidade da realidade.
O debate não precisa ser desapaixonado. Discutir política sem paixão, além de difícil, não é correto, já que o debate da política envolve emoção, percepção do mundo e mesmo interesses. Mas a paixão não pode gerar cegueira intelectual menos ainda provocar desrespeito pelo interlocutor e pelos que pensam diferente. As ideias, as críticas e as análises devem ser fundamentadas, de preferência com dados e informações confiáveis ou mesmo com observações pessoas consistentes. Mais do que tudo, o bom debate deve evitar o recurso desonesto de desqualificação dos formuladores das ideias, recurso que reflete, na verdade, a fragilidade dos argumentos.
Para que o debate não seja poluído pelas paixões fanáticas são necessários informação, dados sobre a realidade e fundamentação para os argumentos. Neste sentido, o debate deve levar em conta dois aspectos fundamentais: a confiabilidade da informação e os conceitos difundidos sem coerência com o mundo real e que se transformam em verdades.
No que diz respeito à informação, o principal conflito se dá em torno da grande imprensa, acusada pelo PT de mentirosa e chamada depreciativamente de PIG – Partido da Imprensa Golpista. Embora os órgãos de imprensa não sejam totalmente isentos, é preciso tomar cuidado para não culpar o mensageiro das más notícias e desqualificar a notícia pela sua fonte. A imprensa brasileira tem de tudo um pouco e, sejamos prudentes, grande parte da mídia tem tido um comportamento equilibrado, mesmo quando atacam o governo nos seus editoriais, como faz o Estado de São Paulo. A imprensa é muito vigiada, conta com corpo de profissionais e jornalistas sérios que têm, na sua maioria, ética jornalística, e está subordinada à legislação que protege o cidadão e os políticos contra a mentira e a calúnia. A imprensa é muito mais controlada que os blogs individuais. Uma informação veiculada pelo Estado de São Paulo, considerado um jornal conservador, é muito mais testada no contraditório pelos seus jornalistas e editores que os artigos e notas dos blogs, como o de Paulo Henrique Amorim, baluarte da chamada esquerda, com sua linguagem deselegante e grosseira.
Se a qualidade e a confiabilidade da informação é fundamental para um bom debate, é necessário também despojar-se de alguns mitos difundidos à exaustão e que passaram e constituir uma verdade inquestionável. O principal mito atual é que as chamadas políticas sociais e de distribuição de renda promoveram a ascensão das classes E e D, “engordando” a classe C. Em primeiro lugar, parece difícil imaginar que uma renda em torno de cem reais para uma família que ganha até R$ 140,00 per capita possa leva-la a um patamar de classe D e menos ainda C. Tudo indica (e um estudo de Marcelo Neri mostra isso com dados) que a “engorda” da classe C se deu muito mais pelo aumento real do salário definido pelo mercado de trabalho e, em menor medida, pela elevação do salário mínimo. O aumento da renda média foi muito mais um produto do mercado, por conta do crescimento da economia, que das políticas sociais. A intensificação da melhoria dos indicadores sociais com os governos do PT (e quando se diz intensificação é para deixar claro que o movimento era anterior) também tem mais a ver com a economia que com políticas de assistência social como o Bolsa Família. Explico: a manutenção da estabilidade econômica que permitiu o início de um crescimento do PIB mais elevado, combinado com um fenômeno demográfico de redução do aumento da população em idade ativa, elevou o nível de renda dos trabalhadores.
Ninguém pode negar a melhoria da renda média da população brasileira nos anos do governo Lula. Mas é completamente incorreto dizer que foi resultado das políticas. E quando se erra no diagnóstico se falha nas estratégias. O grande mérito do Governo Lula, abandonado depois, no final do seu segundo mandato e, principalmente, no governo Dilma Rousseff, foi a manutenção da política macroeconômica do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, que permitiu a retomada de níveis aceitáveis de crescimento da economia, responsável por grande parte dos resultados sociais positivos do período 2004/2010. Mas esta talvez seja a informação mais difícil de ser aceita pelos militantes do PT porque pensam, como Lula costuma afirmar, que a história do Brasil começou em 2003.
O debate atual em torno do PT e seu governos dos últimos anos, com Lula e Dilma, me parece que está se esgotando. Não há mais nada a ser desenvolvido, todas as cartas já foram postas na mesa. Os petistas trincam os dentes em torno dos avanços sociais obtidos na gestão Lula; os ex-petistas e eleitores convictos acreditam que as variáveis externas foram e são determinantes para a crise deste segundo governo de Dilma, que vai conseguir dar a volta por cima; e continua-se falando em uma esquerda genérica, algo que só existe no Brasil e na América Latina, como já foi dito por alguém que não lembro no momento. Direita, liberais e conservadores, são epítetos usados na condenação daqueles que não amam Lula e o PT. E os mantras que são sempre repetidos se referem à elite capitalista, ao desprezo pelos pobres e humildes, ao controle da imprensa, ao golpe do impeachment. Quem acompanha o noticiário político nacional, vai cansando de sua repetição.
Por outro lado, o Governo Petista não está dormindo. O artigo do Marco Antonio Villa, ¨A Revolução Cultural do PT¨ publicado no ¨O Globo¨, (http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2016/01/revolucao-cultural-do-pt.html) é assustador, tão ou mais que as propostas de Franklin Martins para a mídia anos atrás. Trata-se de fazer outro Brasil, ou melhor, refazer, refundar. Este Brasil não precisa apenas ser desenvolvido, ampliado, modernizado, crescer, ter educação, justiça social, não: ele tem de ser REFUNDADO. O proposto pelo Governo Dilmista não é diferente do que já lemos sobre as ¨universidades¨ do MST.
Acredito, portanto, que o bom debate não tem mais muito sentido. O que tem sentido é uma luta sem trégua contra estes conceitos, contra a transformação do país em uma república bolivariana, que é o objetivo real dos petistas. Este será SEMPRE o seu objetivo, custe o que custar. Podem existir 100 Operações Lava Jatos, 200 julgamentos de Mensalão, mas o PT não terá humildade para reconhecer seus erros, não terá nenhuma vergonha, e continuará perseguindo aquele objetivo.
Eu não acreditei. Reli mais de uma vez. E lá está o surrado argumento da república bolivariana. Sem comentários. É discurso encomendado, pactuado com a direita venezuelana e colombiana. É lixo. Meu caro Afrânio, não sei onde você estava no governo do Cristovam Buarque, correligionário desta revista, mas quem inventou esta história de REFUNDAR foi ele, quando queria refundar Brasília. Neste tempo todos os fundadores desta revista reiteraram este coro. Até parabenizaram o então governador. E agora? Claro, tudo que o PT fala ou propõe, mesmo que seja exatamente igual ao que já foi dito, passa a ser o pior mal da história. Não sou católico, mas … Nossa Senhora … haja incoerência. Mais uma vez: é esse o educado debate?
É muita elegância considerar Paulo Henrique Amorim baluarte da esquerda. Mais que tudo é baluarte do governismo, e se expremer um pouquinho vai se ver que representa uma direita que cacareja pela esquerda.
Meu caro Sérgio: Admiro os critérios implícitos ou explícitos que regem sua intervenção no debate de ideias. Você os reitera neste artigo e por isso o leitor tem sempre o que aproveitar nos seus escritos. Infelizmente não consigo compartilhar o otimismo com que você aprecia o debate de ideias na realidade política brasileira. Os aspectos que você ressalta positivamente no artigo de Elimar são reais, mas de alcance apenas tópico, diria até seletivo.
Meu ponto de vista geral é o seguinte: não existe debate de ideias no Brasil. É claro que há gente tentando isso. Você e outros articulistas da revista são evidência disso. Mas para que houvesse debate efetivo seria necessário, antes de tudo, criar ou recriar uma linguagem política, pré-condição necessária para qualquer debate. O que prevalece é a guerra ideológica, a desqualificação sectária e coisas desse tipo. Basta observar o que se escreve nas redes sociais e nos círculos ideologicamente identificáveis. O PT, aliás, concorreu mais do que qualquer outro partido para dissolver a linguagem política. Mesmo alguns dos seus intelectuais mais notáveis, bastaria pensar em Marilena Chaui, mobilizam os artifícios retóricos típicos de uma guerra ideológica. Aliás, para quem conhece a história do comunismo, essa sempre foi uma de suas armas mais poderosas. Estou por coincidência relendo O Século dos Intelectuais, de Michel Winock, que sintetiza a história dos intelectuais franceses ao longo do século XX. É instrutivo observar como o vocabulário de agressão e desqualificação moral do adversário é basicamente o mesmo usado pela esquerda petista e facções afins.
Desculpe o comentário em demasia alongado, Sérgio. Quis apenas ilustrar com um argumento geral meu ceticismo relativo à viabilidade de um efetivo debate de ideias no Brasil. Há por fim fatores de ordem histórico-cultural particulares, é o caso da nossa tradição cordial, no sentido que Sérgio Buarque de Holanda confere ao termo, que sempre entravam qualquer tentativa de debate. Friso aludir não apenas às ideias políticas, mas às ideias em geral. Como promover a crítica de ideias numa cultura onde quase sempre se confunde a pessoa com a ideia que ela defende?
Concordo contigo Fernando. Basta ver como ex, o Dep Jean Willys. Ele acredita q as pessoas são burras, e não ignorantes. Algum sentido pode até ser o mesmo (não saber das coisas) mas existem diferenças. Preferir usar a palavra “burrice” em vez de ignorância é agressivo e não dá conta de clarificar o fenômeno. Não dá conta por que não sabemos, afinal, se a pessoa é “burra” por escolha ou por inatismo ou outra coisa qualquer. O conceito de “ignorante” é simples: falta-lhe conhecimento, e a falta de conhecimento se desdobra em uma miríade de consequencias (negativas em sua maioria) cujo uma delas é a resistencia ao debate. Ou seja, chamar alguém de ignorante é enxergar esse alguém como um ser com pouco conhecimento. Chamar alguém de “burro”, não sei oq é. Mas realmente, o desafio (necessário) hoje é promover debates civilizados e conscientes. Esse final de semana mesmo, estava debatendo sobre políticas de armamento e violência com o meu sogro e mais duas pessoas. Quando o debate começou, só estavam nós 4 no recinto. Depois , chegaram outras pessoas no recinto mas nao estavam participando do debate. Pois então chega um determinado momento o qual começamos a nos exaltar no debate, mas sem falta de respeito, sem violencia, como disse o Sergio Buarque, fora uma exaltação apaixonada. Mas fora tbm nesse exato momento que o debate se encerrara por conta das outras pessoas que tinham chegado depois, pois essas pessoas nos forçaram a desvirtuar o assunto (acho q pelo medo do debate tomar rumos desagradáveis, coisa q, por mim, dificilmente iria acontecer). Mas penso, que esse fenomeno deveria ser tema central de pesquisas academicas das areas de humanas. Precisamos ter mais consciencia sobre os aspectos de cercam esse fenomeno.
Abraços
É realmente bastante interessante a observação de que o “vocabulário de agressão e desqualificação moral do adversário é basicamente o mesmo usado pela esquerda petista e facções afins.”. Essa tem sido a melhor tática da direita, atribuir a sua verborreia histórica à esquerda. Por favor, sejamos ao menos honestos: de onde é mesmo que tem vindo sistematicamente ataques desqualificados, xingamentos de baixo galão, acusações infames, ridículas e mesquinhas, se não da direita fascista, contra o PT? O comentarista ou invés de tecer suas críticas à esta direita fascista, faz coro com ela e atira no PT. Depois querem debates de ideias. Que ideias? Essas “ideias”? Não são ideias. É pura ideologia e de direita.
Meu caro, a guerra ideológica, assim como a luta de classes não foi e não é uma invenção do PT ou da esquerda. A direita e seus métodos são muito mais antigos que a esquerda. A iniciativa do ataque sempre veio da direita, com suas artimanhas fascistas de dissimulações, quando não de mentiras deslavadas. Agora a direita quer se travestir de educada, quando o fato real é que a direita, sempre que pode nos torturou, nos matou e nos exilou. É deste debate educado que esta revista esta falando?
Sérgio,
Seu artigo trás luz sobre um tema polêmico é importante para decidirmos os caminhos do Brasil para as próximas décadas.
Parabéns
Alcides
Belo artigo de Sergio C. Buarque, e vale a campanha por um debate educado, baseado em fatos e com argumentação lógica. Algum debate educado existe, sim, no Brasil. Verdade que, ao menos no Face, há um excesso de pura xingação sem argumentação. E bem poucos de nossos políticos argumentam educadamente: prevalece entre eles a má fé e o “double speak” (como explicado por George Orwell em outro contexto). Mas cada um deve esforçar-se por um debate racional. A revista “Será?” (Penso, logo duvido) é um exemplo. Para irritação, existem a psicanálise e os calmantes, em vez de postagens no Face. Aliás, há acadêmicos sérios que ignoram o Facebook. E o hábito do debate racional nem é ensinado nas escolas: nos recentes protestos dos estudantes secundários paulistas que fecharam dúzias de escolas e depredaram algumas não houve um único líder estudantil que argumentasse sobre a reestruturação proposta. Estavam contra. Ponto. Nenhum estudante achou que precisava esclarecer por que era contra, e muito menos considerou que o “bem comum” da sociedade é algo a levar em conta.
Realmente é muito educada a colocação de vossa senhoria. No entanto, é preciso observar a profunda desigualdade no “debate” entre o governo paulista, comandado por um homem que já foi ou é da “Agnus Dei”, uma organização fascista, amparado pela policia, que também faz “o bom debate” e os estudantes de nível médio, jovens que buscam um rumo, mas não aceitam “reformas” de cima para baixo, bem ao estilo do PSDB. Me diga, honestamente, caso algum estudante tivesse feito e é provável que tenha feito alguma observação critica educada, esta observação teria espaço na grade mídia? Por favor, me sirva uma garapa.
Gostei muito do texto elaborado pelo professor Elimar Nascimento e mais ainda do debate que se deu a partir do mesmo. E esse artigo de Sérgio Buarque, a meu ver, pegou muito bem o espírito da coisa.
Compreendo o pessimismo de alguns que aqui já se manifestaram, no sentido de que o bom debate é, por assim dizer, um investimento sem retorno no quadro de miséria reinante na nossa política, mas, talvez, o que mais estejamos precisando seja disso mesmo, ou seja, de voltar a investir na política mais a fundo perdido, sem expectativas de retorno imediato.
A opção pelo pragmatismo foi o grande ponto de desvio de rota da esquerda brasileira, que nos trouxe ao ponto em que estamos e de onde, infelizmente, não vislumbramos ainda a porta de saída. Até mesmo algumas tentativas de saltar fora desse aquário do pragmatismo tem se mostrado frustradas, como no caso da Rede Sustentabilidade, que nas reiteradas vezes em que topou com uma encruzilhada, a propalada via “sonhática” foi solenemente esquecida em prol de opções claramente pragmáticas, fazendo com que o tão esperado partido de Marina Silva, na prática, seja hoje apenas um a mais.
Neste sentido, é importante e salutar, sim, o bom debate proposto pela Revista Será. Que comece do zero, replantando sementes de utopia, se elas ainda existirem, nesse deserto árido e miserável em que se transformou a nossa política.
Acima de tudo, um debate que fale de transformar o Brasil e não de tomar o poder.
Com certo atraso me permito responder aos apelos do professor Elimar Nascimento que, com certeza, ao fazer uma carta aos amigos petistas, deles esperava uma resposta. Não me incluo neste circulo de amizades do professor, não tenho essa proximidade, mas com ele compartilhei experiências de governo, e assim, conhecendo-o quando ele estava no poder, pude o conhecer melhor também. Afinal, se queremos conhecer alguém é só dar a este alguém um pouco de poder. No poder, poucos, muitos poucos, não são arrogantes e prepotentes, só para lembrar, de início, um dos aspectos abordados pelo professor. Mas, não é disto que queremos tratar, queremos apenas debater algumas ideias do artigo do professor Elimar Nascimento e acrescentar alguns comentários de natureza áspera, muito áspera, que com certeza serão tachados de debate “mal educado”. Pode até ser, mas prefiro ser aquele não convidado que ao falar, estraga a festa de gente educada que quer comer o bife, sem saber do sangue que teve que escorrer.
Do artigo do professor, gostaria de selecionar algumas passagens:
1. Quando o Nordeste, nos anos 1980, estava nas mãos do antigo PFL, era porque os nordestinos eram atrasados, diziam os petistas, em particular sua vertente hegemônica, no caso, os paulistas. Quando o Nordeste na primeira década deste século fechou com Lula, transformou-se na vanguarda.
2. Quando os votos mais pobres, denominados de descamisados, elegeram Collor era porque eram ignorantes. Agora que votam em Lula, são clarividentes.
Bem professor, esta sua lição não me parece muito coerente com o processo histórico mais recente do Brasil. Chega a ser algo eivado de muito simplismo. É a-histórico.
Nos anos 80 o Brasil não estava só nas mãos de PFL. Estava nas mãos da ditadura, já combalida, mas ditadura, com sua exclusão, perseguição politica, profundo analfabetismo, fome e miséria em larga escala, principalmente no Nordeste. Não sei se o professor estava no Brasil nos anos 70/80. Eu estava e lutei muito pela democracia, cheguei a ser preso, enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional e ainda, de quebra, fui expulso da Universidade de Brasília, pelo então Capitão-reitor José Carlos de Almeida Azevedo, no semestre de minha formatura. Escrevi um pequeno livro sobre esta história, e ele pode ser adquirido no Sebinho de Livros, na 406 Norte. Lutei muito também, para eleger deputados do MDB (único partido legal de oposição à ditadura, que abrigava ainda os chamados deputados autênticos, que muito contribuíram também para o fim da ditadura). Isso, ainda na década de 1970, mais precisamente no ano de 1978, quando presencie fatos estarrecedores da compra aberta de votos, em dinheiro vivo, nas portas das secções eleitorais, sem que houvesse qualquer Sergio Moro ou Barbosas da vida para coibir estes fatos. Grande parte dos eleitores do Nordeste caminhava para as urnas, como quem caminhava para o golpe de misericórdia, pois, por muito pouco, votavam contra si mesmos. A maioria dos nordestinos não eram apenas atrasados (no sentido da falta de formação e conhecimento), eram pisados, humilhados, famélicos e excluídos. Era desta situação que o PFL retirava seus votos, como sempre fizeram os coronéis da República Velha e depois, daquela que se disse “nova”. O coronelismo professor, e me espanta ter que chamar sua atenção para este fato, foi o produto histórico da exclusão social secular do nordestino, com suas raízes no latifúndio e na apropriação patrimonialista do Estado. Não é assim professor? Não foi assim que o professor ensinou gerações e gerações de estudantes na UnB? Portanto, o seu simplismo é estarrecedor! Só pode ter um viés ideológico. Muito me admira que o professor desconheça essa realidade e tente igualar tempos históricos muito distintos. O viés, infelizmente anti-petista, mesmo não declarado, é o que se deixa transparecer em seu tão elogiado artigo.
O PT só veio a ter fortes votações no nordeste (principalmente fora das capitais) a partir do segundo governo Lula, quando o nordestino, já sob uma democracia politica bem mais ampla, percebeu claramente que as politicas sociais não eram esmolas, como gosta de dizer a direita e espero que o professor não faça coro com mais este simplismo. Só a titulo de exemplo: as mais de 100 mil Margaridas que marcham em Brasília, todos os anos, professor, não são fruto de manipulação politica, nem de sindicalismos igualmente simplistas aludidos de sua parte, utilizando Lenin, de forma equivocada. São mulheres lutadoras que hoje dão importante contribuição no sucesso da agricultura familiar, que contribui de forma decisiva para colocar o alimento mais barato de toda história do Brasil (com toda alardeada inflação), na mesa dos brasileiros. Hoje é plenamente reconhecido o papel decisivo da agricultura familiar no Brasil. O nordeste congrega o maior contingente dos agricultores familiares do Brasil e que ainda praticam uma agricultura com fortes traços de subsistência.
É daí, professor, e de um amplo conjunto de politicas sociais e desenvolvimentistas do Governo do PT, que este partido retira, no Nordeste, legitimamente os seus votos.
Quanta diferença, heim! Professor. No nordeste de ontem, do PFL, professor, o voto vinha da exclusão, da violência, da ditadura. No Nordeste de hoje, do PT, o voto vem da inclusão do nordestino na cidadania, vem da esperança concreta de dias cada vez melhores para milhões de brasileiros.
Vejamos outra grande perola do nosso professor:
3. Quando a classe média estava com o PT, nos anos de 1980 a 2010, era o segmento intelectual e avançado do País. Agora que deu as costas para o PT viraram elite conservadora e racista.
É igualmente estarrecedor o seu simplismo professor. Só houve, de fato, um momento em que a classe média foi decisiva para a vitória do PT. Foi quando a política neoliberal demonstrou todo o seu fracasso, no segundo mandato do FHC. O salvacionismo da direita não tinha mais qualquer credibilidade, pois a “experiência Collor”, ainda recente, já havia fracassado. Só restava o “Agora é Lula” e nada mais. Por isso o Lula foi eleito pela classe média do sul e do centro-oeste, pois no norte e nordeste, o PFL ainda dominava, com o “dinheiro na mão e o chicote na outra” (como gostava de dizer o “grande líder pflista nordestino” ACM – Antônio Carlos Magalhães, de triste memória), com a violência que sempre lhe foi peculiar. Nas demais eleições o voto do povo, dos trabalhadores e do norte e nordeste de maneira mais ampla é que passaram a ser decisivos, pois estes segmentos passaram a ver no PT uma das poucas possibilidades históricas de ascensão, como de fato todas as estatísticas, mundialmente aceitas, demonstram.
O segmento intelectual da classe media que existe praticamente em todos os países do mundo é muito reduzido estatisticamente nas eleições. O professor também sabe disso. Elege parlamentares intelectualizados como o Cristovam e mesmo o Suplicy. Nada mais. Jamais elegeria um presidente, que precisa de vários milhões de votos. O professor também sabe disso e também é muito estranho que se valha deste tipo de argumento.
Outro ponto de grande destaque do nosso professor:
4. A imprensa que nós temos é a mesma da fase áurea do Lula, quando sua popularidade chegava aos 80%, e ninguém reclamava. Agora a mídia virou instrumento da elite reacionário e dos agentes do imperialismo. Reclamam que a imprensa não diz o que Dilma está fazendo de bom. Mas imprensa nunca deu notícia do avião que chegou bem, apenas o avião que caiu. Porque as pessoas se interessam é por este e não por aquele.
Perdoe-me professor, mas este “argumento” não pode prosperar. Em que lugar do mundo a grande imprensa vai bater em um presidente com mais de 80% de aprovação? A grande imprensa não é idiota, de jeito nenhum. Quem falava para as paredes nesta época era a oposição, que por isso não tinha eco na imprensa. Você sabe professor que a imprensa nunca “torceu” pelo Lula. Engolia o “sapo barbudo” porque não tinha como bater. No período eleitoral, da primeira vitória do Lula, ainda com FHC no governo, a imprensa buscava atribuir as quedas de todos os indicadores econômicos (do fracassado governo FHC) a uma possível vitória do Lula. Fazia o terrorismo de que com Lula o país iria à bancarrota. Chegaram a noticiar que petistas estavam medindo as calçadas de prédios em São Paulo, que seriam desapropriados para serem entregues à “plebe ignara”. É só pesquisar a imprensa deste período. A torcida para que o governo desse errado no primeiro ano foi grande. É só consultar os “artigos” do Globo, Estadão, etc. Quando o governo mostrou seu vigor, foi tachado de “estelionatário eleitoral”, mas a aprovação do povo cresceu e o oportunismo da grande imprensa se fez presente, mais pelo silencio, que pela aprovação.
A grande imprensa professor, num país como o Brasil, infelizmente ainda com muitas limitações quanto à capacidade critica da população é mero folhetim da espetacularização dos fatos e dos factoides criados, sempre no afã de somar aliados aos seus grandes e inescrupulosos negócios. Infelizmente o que vemos hoje é uma perfeita articulação desta grande imprensa com os vazadores de informações judiciais sigilosas e de modo seletivo, mancomunada com o provinciano e partidário “juiz” Sergio Moro e alguns policiais da PF e outros ditos procuradores do MP. São poucos, são muito poucas pessoas a fazerem um grande estrago ao país, pois a crise econômica, que todos pagamos, vem sendo estimulada e precipitada pelo descredito que estes veículos e estes agentes fazem contra o país.
Pois é professor, estes seus argumentos não convencem. Seria necessário acreditar em Papai Noel. O seu anti-petismo é claro. Mas, a sua conclusão é brilhante, em suas palavras:
Em resumo, a análise de quem está conosco é bom e quem está contra é ruim é pobre e não permite compreender o que se passa. Ajuda aos que querem se convencer que estão certos e os outros errados, são argumentos, no mau sentido, ideológico porque aludem à realidade, iludindo-a.
Foi exatamente isso que o professor fez.
Não quero aqui me filiar à ideia de que no PT não existam problemas. Existem sim, e graves problemas. Onde eles não existem neste mundo? Só que às vezes é oportuno dar destaque (e haja destaque, quando não calunias e inverdades, propaladas em grandes sons e imagens) às vezes não. Depende de que? De quem esta no governo. Se quem esta no governo agrada a quem de fato tem o poder (econômico e de mídia) tudo bem. Se não, é porrada prá todo lado, perdoe-me a expressão e a franqueza que ela transmite. A ascensão das classes “D” e “E” para a classe “C” foi o fermento do ódio da elite e sua grande imprensa. É isso que vemos hoje no país. No momento em que a crise econômica mundial não pode mais ser debelada no Brasil e também devido a erros (que já estão sendo corrigidos) na política econômica, pronto, acabou o silencia da mídia. Com 4 derrotas eleitorais consecutivas o ódio de classe e da esquerda achou o terreno por onde andar.
O PT, professor, esta inserido em um mundo em que tem corruptos até no Vaticano, e como tem! Lá, os mais notórios próceres costumam virar santos! Nem por isso vejo falarem de impeachment do Papa. Nos EUA, o país responsável pelo consumo de 30% de toda a cocaína do mundo (ver dados da OMS) nunca se houve falar em nenhuma grande apreensão da droga ou de seus traficantes. Sabe por quê? Porque eles estão sentados nos luxuosos escritórios da V Avenida, onde as finanças se misturam ao tráfico de armas, de gente e de drogas, na mais bela e elogiada “democracia” do mundo. São negócios de trilhões de dólares, que não estão nas mãos de traficantesinhos latino-americanos, africanos ou asiáticos. Pablo Escobar foi morto e o Cartel de Cali mudou de endereço.
Sabe por que defendo o PT? Porque em muitos aspectos, todos os governos são iguais. Não há muita saída. Os limites da governabilidade estão dados em um quadro que é mundial. O professor também sabe disso. Em todos os governos, em todo o mundo, há corrupção. Falar dela é uma questão de oportunidade ou de oportunismo, como já remarquei. A corrupção não é inerente ao ser humano, como já foi propalado por muitos ideólogos do capitalismo. A corrupção é inerente a este sistema, produto histórico passageiro da humanidade. A corrupção também se instalou em países do chamado socialismo real, porque a experiência socialista faliu, com a vitória americana, em parte significativa da Europa, no pós-guerra. O EUA só entrou na segunda guerra mundial, no famoso “desembarque da Normandia” por temer uma vitória esmagadora do Exercito Vermelho, que após conquistar Berlim (onde os americanos literalmente caíram de paraquedas), marcharia por toda a Europa, se transformando em grande poder popular mundial, que ameaçaria os EUA. Não foi em nome de nenhuma democracia, foi em nome do poder americano, e nada mais. A grande covardia das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, até hoje são propalados como atos heroicos e libertários. Grande hipocrisia, que custou a vida de milhões de inocentes. Também no Oriente, não poderiam ser os comunistas a vencerem. Nada melhor que uma grande bomba. E eles não excitaram.
A corrupção existiu, existe e existirá enquanto a ideologia individualista da fortuna ilimitada for a grande aspiração. Aspiração reservada a muitos poucos, mas almejada por uma legião de cidadãos iludidos ideologicamente, por uma possibilidade inexistente, a que se somam os sonhos das loterias e outras mazelas, que assim legitimam toda a corrupção, seja estatal, seja privada. A corrupção é estrutural em nossa sociedade, em todo o mundo. É hipocrisia pura querer dizer que depois de varrido o PT do poder, acabaremos com a corrupção. No máximo mudaremos os corruptos. Dificilmente diminuirá. Poderá até mesmo aumentar, pois não haverá mais motivo para combatê-la, uma vez que o motivo real não é acabar com a corrupção, mas acabar com o PT. No entanto, é preciso combater a corrupção e colocar corruptos na cadeia. Mas, seletivamente, não. Mas, é só isso o que vemos. Gostaria de viver no dia em que uma sociedade possa ser planejada e regulada, onde as grandes fortunas sejam simplesmente ilegais. Aí sim, poderemos a começar a falar em fim da corrupção. Tudo mais é balela. Não precisa ser socialismo. Só precisamos regular e regulamentar o tal do senhor mercado, particularmente o financeiro. Só que falar nisso, é heresia. Ninguém fala. E se fala, nada se faz, em todo o mundo.
Pergunto-me muito onde estão os ditos partidos socialistas de hoje em dia no Brasil, assim como de outros moralistas como a tal de Rede. Rede de que? Que teia esta rede esta tecendo? A teia do apoio ao Aécio no segundo turno e do abraço ao governador de um dos Estados campeão histórico do desmatamento, como fez a Marina no segundo turno, ao abraçar o Sr. Jatene, governador do Pará? Onde estão estes partidos? O que fazem na defesa de uma ordem social menos desigual? Nada. Porque no entendimento destes “socialistas” e “redistas” o que dá voto mesmo é acusar o PT. Ledo engano, pois o tiro poderá sair pela culatra.
A Dilma em seu pior momento sustentou 30% de apoio, entre excelente, bom e regular. Mas a mídia manipula e acrescenta o regular, ao ruim e péssimo, apresentando assim baixos níveis de aprovação. Grosseira manipulação. FHC foi enxotado do poder com menos de 4%. Por isso é balela também dizer que o PT acabou. O PT esta vivo e viverá ainda por muito tempo, para o desespero desta gente que torce pela crise, pelo quanto pior melhor e pela destruição do país no afã do poder a qualquer custo.
A volta da direita ao poder será a volta da desmontagem do Estado. O senador Álvaro Dias já proclamou que o PSDB, se voltar ao poder, vai diminuir em 50% a maquina estatal. Só não tem coragem de dizer que isso será feito com a demissão em massa de funcionários públicos concursados e capacitados, nos governos do PT, que acabou com entrada no serviço público pela janela do QI (“Quem Indica”, como se dizia antigamente). A desmontagem do Estado num país como o Brasil é a desmontagem dos serviços públicos, ainda que carentes de qualidade, mas já universalizados. É a desmontagem das politicas sociais, responsáveis pela inclusão de cerca de 40 milhões de brasileiros, que passaram à cidadania. O “projeto” do Senador José Serra e de total entrega da Petrobrás ao capital internacional, por isso tanto se esmeram em destruí-la. Afinal, de quanto e de quem será mesmo o grande prêmio da delação premiada?
Mas, tem gente que acredita que coisas como Marina Silva poderão salvar o Brasil. Primeiro, é preciso dizer que o Brasil não precisa de nenhuma salvação. Temos uma crise, mas não temos bancos quebrados ou quebrando, nem teremos, como tivemos e temos nas crises Europeias, que ostentam grandes taxas de desemprego, diferente do Brasil, onde o desemprego é bem menor. Segundo, sem o PT, qualquer governo vai cair nas mãos da direita neoliberal, com seu programa de desmonte do Estado, do fim das politicas sociais e da entrega da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Seja PSB, seja PSOL, seja Rede, seja evangélico, seja o diabo. Todos, sem o PT, cairão nos braços da direita. Talvez seja isso mesmo que eles queiram. E aí é puro cinismo. O objetivo é só acabar com o PT. Custe o que custar. Custe até mesmo o presente e o futuro do país.
Por isso, professor Elimar, não posso ceder aos seus apelos e ainda me dou o direito de duvidar (Penso logo duvido. Não é assim, na sua revista?) de seus reais propósitos. Perdoe-me, mas exercitando a dúvida, quando se trata de política, os santos não tem espaço.
Assim nada melhor do que os fatos. Desta forma, gostaria de lembrar que compartilhamos responsabilidades no Governo do PT do então professor Cristovam Buarque no Distrito Federal (1995-1998), que entre outros rótulos foi conhecido como a “República da UnB”, pois o professor e outros professores ocupavam altos cargos de confiança. Até natural e compreensível, já que Cristovam era egresso da UnB, tendo sido seu primeiro reitor eleito pelo voto direto, quando o PT dominava praticamente toda a UnB. Nesta época até, de ascensão do PT, o professor, me parece, era até petista. Orgulho-me de ter ajudado, ainda na década de 1970, a erguer este caminho, no DF. Cheguei a ser Secretario de Meio Ambiente neste governo, do que muito me orgulho, mesmo sem ter sido da “república”. Nossa gestão na Secretaria foi das poucas que deram um resultado politico positivo, em todo o governo, com a vitória do ex-secretário de meio ambiente a deputado distrital, pelo PT. Atualmente não sou filiado ao PT, me desfilei ao fim do Governo Cristovam, por grandes decepções. Mas, agora voltei a defender o PT, por perceber o grande perigo que corre a democracia e as necessárias politicas sociais no Brasil.
Lembro-me ainda que o professor foi indicado pelo então governador Cristovam Buarque para me persuadir a retirar um processo da justiça contra o então CDS – Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB, do qual fui sumariamente excluído do processo de seleção para mestrado, a que havia me candidatado, com uma mera inscrição, sem qualquer formalidade. Lembra professor? Pois é, tal processo foi originado porque naquela época, os concursos para mestrado e doutorado eram verdadeiras confrarias (é lamentável dizer, mas era isso mesmo), pois não havia edital de convocação, não havia qualquer regulamentação do processo de concurso e as chamadas “bancas de seleção” é que de fato decidiam quem teria o direito de ingressar em uma instituição mantida por recursos públicos, que a principio é direito de qualquer cidadão, portador dos requisitos acadêmicos, como o de possuir graduação, como eu possuía.
O juiz concedeu-me uma imediata liminar determinando a minha participação nas etapas do concurso (pois eu havia sido eliminado, preliminarmente, sem qualquer avaliação), tal a gravidade dos procedimentos de “escolha” dos candidatos. Para assegurar a minha participação na prova de inglês foi necessário a presença de um Oficial de Justiça e por pouco um dos professores da “banca” não foi preso, por desacato à decisão judicial. Lembra professor?
Bem, o CDS foi criado, entre outros, pelo professor Cristovam Buarque e também pelo professor Elimar Nascimento, autor de tão propalado artigo, que me debrucei a comentar.
O professor deve se lembrar que teve pleno êxito em sua missão, pois eu acabei por declinar do processo judicial, solicitando ainda, de oficio, o meu desligamento do concurso. Não seria eu o promotor de um escândalo, pois o curso corria o risco de ser até mesmo extinto, dado o grau de irregularidades detectadas em meu processo e plenamente aceitas pelo juiz. Não seria eu a tripudiar sobre um governo que não teve a competência de se reeleger, quando o professor Elimar era conselheiro politico de primeiro escalão. Meu papel, inclusive politico, eu cumpri. Elegemos um deputado distrital. Sobre a assessoria do professor Elimar, o Cristovam perdeu a reeleição, reconduzindo o Sr Roriz, de triste memória, ao governo do Distrito Federal. Todos sabem. Não foi professor?
Fui absurdamente injustiçado e perseguido, e só posso atribuir o fato a mais um professor da “república” do CDS, professor Marcel Bursztyn, que preterido de ter sido Secretário de Meio Ambiente, montou uma sórdida vingança contra minha pessoa. Foi isso, não foi professor?
O fato é que depois do meu processo, em todo o Brasil, todos os concursos para mestrado e doutorado passaram a ter editais e processos legais de seleção, que não tinham. As confrarias tiveram que, pelo menos, obedecerem a lei. Orgulho-me muito desta vitória, embora tenha desistido, definitivamente, de fazer mestrado.
Porque falar disso agora? Bem professor, quando falamos de fatos em que a ética é algo de grande destaque, devemos olhar a história real das pessoas e o que elas de fato praticaram em suas vidas.
Fato real, também nunca investigado é o fato de que o CDS fazia ainda da UnB, uma “grife” de fachada, para burlar processos de licitação na contratação de profissionais em consultorias pelo Brasil afora. Isso talvez explique o fato de professores da UnB, serem portadores de grandes patrimônios, como casas no Lago Sul. Patrimônio absolutamente incompatível com o salário de professor.
O professor Elimar Nascimento, por exemplo, deu consultoria para o Consorcio Belo Monte, em Altamira, Estado do Pará. Isso, muito antes do inicio das obras da Hidrelétrica de mesmo nome, ainda nos anos 2000, sob o governo FHC, sob o manto da grife UnB/CDS, sem qualquer licitação, recebendo dinheiro público, além daquele que já recebia como professor.
Muitos outros, entre eles o professor Bursztyn, também prestou serviços para o Ministério do Meio Ambiente, sem licitação, igualmente sob o manto da mesma grife. Fez um “documento técnico” de Revisão de Meio Termo do Subprograma de Politica de Recursos Naturais, reconhecidamente de baixa qualidade, amplamente criticado, que ainda assim foi pago. Tudo sob o governo FHC, sendo ministro do Meio Ambiente o Sr. Sarney Filho.
Quanto ao professor Cristovam Buarque, que tanto questiona a ética alheia, pois no fundo é disto que trata o artigo em tela, não posso deixar de me referir aos “mecanismos” da estabilidade politica, da base aliada de seu governo no Distrito Federal.
Na estabilidade politica do governo Cristovam Buarque, sob assessoria politica direta do professor Elimar, desenvolvia papel preponderante o Sr. Waldomiro Diniz, assessor parlamentar do governador. Numa Assembleia Legislativa com 21 deputados, o partido do governo – o PT, só dispunha de 6 deputados distritais. A base aliada do governo Cristovam foi alicerçada por estes 3 personagens: o próprio Cristovam, o professor Elimar e o Waldomiro Diniz. Este último fez escola de construção de base aliada no governo do professor Cristovam Buarque e depois foi tentar dar aulas no Palácio do Planalto, quando foi surpreendido em negócios escusos com o Sr. Carlos Cachoeira, com desdobramentos na compra de base aliada. A astúcia dos estadistas do triunvirato distrital andava em torno destes limites.
Desnecessário nos referirmos a toda sorte de processos movidos contra FHC, todos engavetados, pelo conhecido Engavetador Geral da Republica Sr. Geraldo Brindeiro. Desnecessário falar, que na maioria dos municípios deste país as Câmaras Municipais estão plenas de vereadores que só apoiam prefeitos sob benesses, de toda sorte. Desnecessário lembrar as palavras do empresário Ricardo Senmler, que denunciou as mazelas da Petrobrás no governo FHC e que relatou trilhões de reais desviados neste período. Desnecessário lembrar que foi a oposição que elegeu o Cunha, que dispensa comentários, sendo hoje ele o líder real da oposição, com cujo coro de impeachment, todos os irresponsáveis para com o país ou o apoiam abertamente ou fazem de conta que não apoiam, mas torcem para acontecer.
São assim os governos, professor. São assim as instituições em nosso país e pelo mundo afora. Foram, são e serão, enquanto estivermos sob uma sociedade, que tem como pressuposto uma fabulosa acumulação de capital, paralela a uma profunda desigualdade social.
Tarefa difícil é ser e se manter na esquerda, professor. Sempre foi. Tarefa difícil é defender o PT, professor, principalmente, quando as mazelas do capitalismo, conseguem nos acuar. E esta não é a primeira vez na história, nem será a ultima. Estamos preparados. É dai que floresce o oportunismo, que ora ataca pela direita, quando pede a extinção do PT, ou pela “esquerda” quando demoniza o PT. Vivemos hoje no Brasil, num mar de oportunismos, de direita e de “esquerda”. Mas, nós da esquerda histórica, que não nos envergonhamos de dizer que somos de esquerda, que nos orgulhamos de nosso passado de lutas, que lutamos e conquistamos a democracia no Brasil, nunca enfrentamos nada fácil. Enfrentamos e vencemos o nazi-fascismo, fomos os primeiros no mundo a lutar contra o racismo e pelo direito das mulheres, dos negros, dos indígenas, dos homossexuais, pelos direitos humanos de uma maneira geral. Fomos pioneiros e impomos importantes derrotas às lites brancas mundiais. Sempre foi assim. Em todo o mundo. Seguiremos nossa luta. E pode ficar tranquilo, professor, pois seremos, de novo, vencedores, pois as forças vivas da nação, os trabalhadores e o povo, com forte apelo, sim, no nordeste, estão alerta e não permitirão o grande retrocesso que seria o retorno da direita ao poder.
Por isso fico com o PT, sem ser ter aí muitos amigos, sem ter qualquer cargo no governo. Não se trata de amizade, professor, e muito menos de cargos. Pelo contrário, o PT por ter que se aliar com toda a sorte de canalhas, da tal base aliada (perdoe-me mais uma vez, a falta de educação), caiu numa armadilha. Afinal, a tal maioria necessária no Congresso não é uma confraria de mestres e doutores. É o espaço da cretinice parlamentar, como bem remarcou Vladimir Ilitch Uilianov – Lênin, cujas ideias foram desfiguradas no dito brilhante artigo do professor. Mas o PT tem uma grade diferença: o PT respeita o povo e trabalha incessantemente, no governo, para retirar o povo brasileiro de sua histórica exclusão, da fome e da miséria, o que os herdeiros da corrupta e assassina ditadura tentam impedir, agora com outros novos aliados. Estas, sim, são as maiores vergonhas de nosso país: a fome, a miséria e a exclusão. Mais vergonhoso ainda é que ainda existem aqueles que querem perpetua-las.
Por isso duvido (penso, logo duvido), duvido muito, destas controvérsias todas contra o PT. São muitos, talvez incontáveis os personagens que hoje atiram no PT, mas cuja história não confere a menor autoridade moral para tal.
Viva o PT!
Viva Dilma!
Viva Lula!
Viva o Povo Brasileiro!
Lendo as missivas do dia de hoje sobre o artigo de Sergio, chego à conclusão de que o Carnaval ainda constitui excelente janela terapêutica para muitos de nós. E que, como tal, deve ser aproveitada para que acordemos na quarta feira clarividentes e menos confusos.
Hoje impera o “vale tudo” . Até na hora de rebatizar a Opus Dei, o que fica por conta dos porres cívicos de cada um. Conselho de um homem vivido: se for para desopilar a todo custo, melhor descer e tomar uma cerveja com esse povo que se alega tanto amar, não é mesmo?
Bom Carnaval a todos.
Fernando
Fernando, fico-lhe grato, mesmo sob sarcasmo, por me corrigir. Errei, mas te confesso que não entendo muito, nem nunca cheguei perto de uma organização fascista. No entanto, tanto faz, Opus ou Agnus, o fato é que o governador de São Paulo é ou foi de uma organização nada democrática e obscura, mas, nada se fala, afinal ele é do PSDB, protegido e blindado pela mídia e pela banda podre da justiça brasileira.
Em tempo: gostaria que você comentasse passagens mais importantes da resposta que fiz “a um amigo petista”. Especialmente sobre o que fazia o CDS, com a grife UnB, nos anos 2000, no governo FHC, como também os mecanismos do então governador Cristovam Buarque para manter a sua base aliada.
Aguardo!
“Aqueles que acreditam num diálogo racional com o populismo de esquerda deveriam repensar seu propósito. Negar a discussão racional pode ser um sintoma de intolerância. Existe uma linha clara entre ser tolerante e gostar de perder tempo. O mesmo mecanismo que leva Lula a se proclamar santo é o que move a engrenagem política ideológica do PT. Quando a maré internacional permitiu o voo da galinha, eles se achavam mestres do crescimento. Hoje, com a maré baixa, consideram-se os mártires da intolerância conservadora. Simplesmente não adianta discutir. No script deles, serão sempre os mocinhos, nem que tenham de atacar a própria Operação Lava Jato.” (Fernando Gabeira, em 29 de janeiro de 2016)
Pois é, tivemos aqui nesse debate um petista que é um desses mártires. Por exemplo, ele acha que os estudantes paulistanos, quando fecharam e depredaram escolas sem apresentar um único argumento contra a reestruturação escolar proposta pelo governador Alkmin, não apresentaram argumentos porque já sabiam de antemão que não seriam ouvidos. Brincadeira!!! Além de que não adiantaria argumentar com um governador “fascista”. Está confirmado aqui: o PT acha que debater é se fazer de vítima, ou então pespegar rótulos a torto e a direito.
Realmente é “brincadeira”. Ao falar de intolerância é preciso remarcar e lembrar quem é que foi as ruas, logo após serem derrotados, dando inicio a essa atual onda de intolerância e violência, acusando a eleição de fraude, convocando um golpe dos militares contra a democracia, revivendo marchas com Deus e a família, constrangendo pessoas que queriam participar com suas bandeiras vermelhas e por fim demandar dezenas, senão centenas de pedidos de impeachment contra a presidenta legitimamente eleita e sem motivações jurídicas reais. Quem foi que colocou um homem sem qualquer escrúpulo, que dispensa comentários, na Presidência da Câmara Federal, sendo este um intolerante, inclusive na religião e na opção de sexo das pessoas? Foi o PT?
No entanto, somos intolerantes sim, e seremos: contra o golpe, contra a tentativa de destruir a democracia, contra o racismo, o preceito contra os pobres e o elitismo e contra o fascismo. Se são rótulos, podem ser, mas todo mundo entende e sabe uito bem do que se trata.
Peço ainda que teça outros comentários, como sobre o que falo, em minha resposta “a um amigo petista” sobre o CDS e uso da UnB como grife de consultorias, principalmente nos idos dos anos 2000, sob FHC.