Sérgio C. Buarque

O país está paralisado e o governo, perdido. Vossa Excelência já demonstrou que não tem capacidade de governar e, sem governo, a crise econômica se aprofunda a cada dia pelo imobilismo e pela incerteza. Precisamos de governo, urgente. Mas a senhora, como todo respeito, no segundo ano do seu mandato, esgotou suas chances de construção de uma base política para implementar medidas de reversão da crise, equilíbrio fiscal e recuperação da economia. Esqueçam a corrupção. É sério, mas não é a questão principal. O problema central está no desgoverno, no despreparo e incompetência política da nossa presidente, para não falar da irresponsabilidade com que conduziu a política econômica. Com um mau governo, um país sobrevive, mas com o governo perdido (ou sem governo) no meio de uma grave crise, caminhamos para o desastre.

O Brasil não pode esperar mais alguns meses de travamento político e ausência de governabilidade. O barco está afundando. Se não houver uma inflexão política nesta situação de desconfiança e paralisia econômica, o país vai mergulhar numa profunda depressão. Terminaremos 2016 com uma queda acumulada do PIB de 8% (2015 e 2016 depois de zero em 2014) com uma redução de 10% do PIB per capita, fato único na nossa história. Com isso, o drama do desemprego, que já bateu na porta de quase dez milhões de brasileiros, continuará crescendo ao longo do ano. Tudo isso, somado à alta inflação e inflado pela frustração social e a desesperança, forma um ambiente social altamente explosivo de desdobramentos imprevisíveis.

O processo de impeachment, que pode ressurgir nas próximas semanas, é um caminho demorado, tenso, doloroso e traumático. E qualquer que seja o seu resultado, vai deixar graves sequelas políticas, amplificando a insatisfação e/ou o confronto político. A melhor solução para o Brasil neste momento seria a renúncia de Vossa Excelência, com humildade, reconhecendo que não tem mais (ou nunca teve) capacidade de conduzir o governo e aceitando seu fracasso como chefe de Estado. Claro, a sua renúncia, Presidente, não leva a uma solução automática e segura, mesmo porque o país carece de lideranças. Mas abre o caminho para uma negociação que permita a construção da governabilidade e a formação de um governo com capacidade de ação para lidar com a gravidade da crise brasileira. A única certeza que podemos ter, no momento, Presidente, é que a sua permanência no poder está paralisando o Brasil e levando o país ao abismo.

A renúncia de Vossa Excelência seria um gesto de nobreza. Estaria fazendo um enorme bem à nação, abrindo caminho para novas alianças políticas que podem recuperar a governabilidade. Renunciando, a presidente Dilma Rousseff entra para a história como uma política generosa que colocou o Brasil acima dos seus interesses, do seu poder, e do orgulho pessoal.  Renuncia, Dilma! O Brasil agradece.

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