Inami S. Magalhães
Autora do site mais visitado da América Latina
Festa no pedaço com a ida de Cunha. Agora, é se preparar para mandar os outros, começando pelo Renan. Será?
Na segunda feira minha querida Dilma vai fazer um pronunciamento à Nação. Pela TV ou pelas redes, ninguém sabe. Vai dizer o que fez de bom para o País. O problema é que o povo não quer saber disso, pois o que importa é o que ela fez de ruim.
Pelo visto a minha querida amiga vai mesmo para casa, pois ela não tem chance de ter 41 senadores ao seu lado para parar o processo de impeachment. Tchau, querida. Pelo menos por enquanto.
A querida Dilma já resolveu a questão das denúncias do senador Delcídio. Ela falou em alto e bom som na quarta feira que era tudo mentira. E como ela já disse isso várias vezes, está definido que as denúncias são falsas. Simples assim. Mas não é só. Se Delcídio é mentiroso, Anastasia, o senador que relatou o seu processo de impeachment, recomendando a admissibilidade do processo, é “ingrato” porque ela agiu de forma republicana quando ele era governador. Estranho, não? Quando um presidente age de forma republicana com um governador ele tem dívida com o presidente? É uma relação republicana, prevista em lei, ou favor?
Dizem que líderes de movimentos sociais estão programando uma caminhada com Dilma do Palácio do Planalto até o Palácio da Alvorada no dia em que o Senado decidir por sua saída para aguardar o julgamento em casa. Os 35 decretos que assinou, incluindo demarcação de terras indígenas tem a finalidade de engrossar a tropa da procissão, digo, da caminhada. Minha cabeleireira petista disse que não vai, pois, arrisca parecer enterro.
Outro boato na Esplanada. Dizem que minha querida Dilma vai se prender a sua mesa de trabalho com algemas e engolir a chave. Vamos ter que esperar mais dois dias para o Temer assumir. Outros dizem que os governistas vão cercar o palácio presidencial para o Temer não assumir. Até miss Bumbum vai estar nessa. Na linha de frente, com o detrás amostra. Os marmanjos já estão se preparando para tirar uma lasquinha. É uma pouca vergonha, diz minha tia.
A inspiração é a guerra napoleônica. Terra arrasada para vencer o inimigo. Fazê-lo patinar e não sair do lugar. Se o inimigo não avançar nos próximos três meses a batalha estará ganha. O leitor deve estar se perguntando sobre o que estou falando. Da tia e sua tropa na Esplanada. O pessoal está queimando os papeis e apagando os computadores. Ahahahaha! O Brasil que se lixe, dizem os assessores de minha querida.
A pergunta que não quer calar. Quem apoiará Dilma depois que ela for apeada do governo no dia 11 ou 12 de maio? Lula e o PT querem distância para poder se recuperarem, pois, ela é sinônimo de incompetência. E os boatos de que Lula não foi ao primeiro de maio porque estava “deprê” corre de boca em boca. Outros dizem que foi dona Marisa quem proibiu. Tá tudo mundo de saco cheio com a minha querida.
O senador Cristovam Buarque estava na fila do caixa da Livraria Cultura quando foi agredido por um “cidadão” (sic) de outra fila que o chamou de traidor. O senador, calmamente, como é de seu hábito, respondeu-lhe que não entendia porque ele o chamava de traidor se nem sabia de seu voto, pois ele ainda não decidiu. O “cidadão” respondeu em voz mais alta e as pessoas presentes saíram em defesa do senador que terminou por receber uma salva de palmas e o agressor se retirou constrangido (José Abreu, na sua ignorância habitual, já teria escrito covardemente, mas cuspir na cara da mulher não é covardia?). Os defensores do governo falam em golpe contra a democracia e não sabem respeitar a diferença, o princípio primeiro e fundante de um regime democrático, onde não existem inimigos, mas adversários.
A ordem no Planalto é: abrir a torneira do populismo praticado desde 2003 e fechar as informações para os adversários, aliados de ontem. Afinal quem foi mesmo quem escolheu o hoje bandido e traidor Temer para vice? E o Brasil? Quem do governo se importa com os interesses nacionais? Minha cabeleireira, eleitora petista, está morrendo de vergonha. Só desconversa, a bichinha.
Prática exemplar de oportunismo. É o que a Presidenta vai fazer até o dia 12 de maio. Já assinou prolongação do programa mais médico (que é um de seus melhores programas), e ela imagina que Temer não gosta; aumentou o valor do benefício da Bolsa Família, que ela declarava não ser possível e como o Parlamento ameaçava fazer ela contestou dizendo que teria que cortar beneficiários. E o Temer anunciou que ia fazer. Aumentou o % para a dedução do IR com o intuito de agradar a classe média – reivindicação antiga que a Presidente sempre disse não ser possível atender. Passou 5 anos e meio sem demarcar terras indígenas, agora disse que vai fazer (mas parece que sua amiguinha Katia não está de acordo). Tudo que era impossível fazer, porque ia agravar a situação fiscal do Brasil agora ela faz. Quer sair como boazinha. Dois pesos duas medidas? Por enquanto ela tenta tirar as benesses que o Temer poderia fazer, mas vem mais coisas por aí. Todas nós sabemos que mulher ofendida é bicho brabo.
A comparação de Janaina com o José Eduardo é malvadeza. A diferença é evidente. A advogada perde de 7 x 1. A descuidada caiu na pegadinha do Randolfe que leu decretos suplementares de crédito e perguntou se era motivo para impeachment. De ingênua respondeu que sim. Eram decretos assinados por Temer. E agora, minha querida Janaina? Novo pedido de impeachment?
O peso da velha política é demais. Temer começou prometendo cortar 15 ministérios, já reduziu para 5, com as pressões dos partidos que querem cada qual uma lasquinha. Periga não fechar nenhum. E pelo que está se desenhando vai ser um governo com a cara do Parlamento. Este mesmo que o povo odeia. Está começando ruim, ruim, meu amigo mordomo.
Só uma pequena observação técnica: 1. os decretos suplementares de crédito não são a parte mais importante do pedido de impeachment. 2. a parte mais importante, com os maiores volumes de dinheiro, é a violação da lei de responsabilidade fiscal; 3. pedidos de crédito suplementar não são crime; por lei só são crime se os montantes são incompatíveis com a meta fiscal do ano; 4. os decretos de crédito suplementar assinados por Dilma Rousseff eram, no total, incompatíveis com a meta fiscal aprovada (ainda que uma parte – mas só uma parte – tivesse sido compensada por cortes de gastos em outros itens); 5. para que os decretos de créditos suplementares possam desrespeitar a meta fiscal, precisam de aprovação do Congresso; 6. o Congresso nunca votou esses pedidos de créditos suplementares de 2015. 7. É preciso distinguir as datas dos decretos assinados por Temer e dos decretos assinados por Dilma, e verificar em que data o governo pediu alteração da meta fiscal. Os decretos assinados por Temer não feriram a meta fiscal. Finalmente: todas essas regras e leis não são firula jurídica, são parte do arcabouço criado pelo Plano Real para combater a inflação. Foi o desmonte desse arcabouço no segundo governo Lula e nos governos Dilma que trouxe de volta a inflação chegando aos 2 dígitos.