A menos de dois meses da conclusão do semestre, mais de mil escolas e universidades do Brasil estão ocupadas pelos estudantes como protesto contra a reforma do Ensino Médio e a PEC-Proposta de Emenda Constituiconal 241 que define um teto para os gastos públicos nos próximos 20 anos. Meio legítimo de luta em condições muito especiais ou por objetivos relevantes, esta ocupação das escolas é um recurso desproporcional às reinvidicações e inapropriado para um regime democrático, seja porque os estudantes podem se manifestar livremente por qualquer outro meio (sem interromper as aulas) – passeata, panfletagem, manifestações de ruas, pressões diretas no Congresso – seja porque as duas medidas rejeitadas não são uma imposição de governo e estão sendo discutidas e votadas pelo Congresso Nacional. No que se refere aos objetivos declarados das ocupações, não existe nenhum fundamento para dizer que a PEC 241 vai reduzir os recursos para e educação, menos ainda para o ensino médio, onde estão se concentrando os protestos e as ocupações. O teto definido pela PEC, não custa repetir, trata do total do orçamento e não de cada um dos seus itens e rubricas de modo que, a cada lei orçamentária, cabe à sociedade e ao Congresso definir a real prioridade que dão (ou não) à educação. Por outro lado, é importante lembrar que o orçamento da União para a educação é quase totalmente destinado ao ensino superior na medida em que o ensino médio é de responsabilidade dos Estados. E o FUNDEB, instrumento federal de apoio ao ensino fundamental, não terá seu orçamento afetado pela PEC porque se baseia em regras de alocação proporcional aos gastos realizados por Estados e Municípios. E o protesto à reforma do Ensino Médio? Embora a rejeitem em bloco, a única crítica do movimento estudantil tem sido à não obrigatoriedade de duas ou três disciplinas (educação física, artes e sociologia). Simplesmente porque não há como se opor à redução do excesso de disciplina, com flexibilizaçao da grade nos três últimos semestres, e à elevação da carga horária (vale lembrar que a União ampliou os recursos para apoiar aos governos estaduais na implantação de escolas em tempo integral). E como a reforma não proibe a oferta das três disciplinas (apenas não a obriga), bastaria que os estudantes lutassem para que as escolas as incluissem na grade curricular. Não precisavam ocupar as escolas. Na verdade, tudo indica que o movimento de ocupação das escolas e universidades é apenas uma extensão da luta perdida contra o impeachment e do esvaziado “Fora Temer”. Por isso recorrem a meios tão drásticos.
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Muito bom editorial. Conciso e direto ao que importa.
Excelente texto. Suponho que a grande maioria dos estudantes não leu a proposta de reforma do ensino médio. Obedecem palavras de ordem o que é lamentável. Os grandes prejudicados vão ser eles próprios, contribuindo para piorar um já deteriorado sistema educacional.
O texto está mal escrito. E em qualquer grupo a maioria não consegue entender uma proposta complexa como essa medida provisória desse governo golpista. A maioria confia em seus líderes. Veja o discurso de Ana Julia no YouTube.
Pessoal da Revista Será? eu vi algo mais fantástico do que essas escolas ocupadas pelos estudantes. Vi, vi sim! Vi um magote de índios fechando a BR 101 logo ali na Cidade Universitária. E eles cantavam e dançavam em círculo: rô-rô-rô; xi-xi-xi.
A pergunta capciosa que queria fazer seria de onde vieram esses nativos. Seriam do município de Pesqueira? De Palmeira dos Índios? Logo ali,de Aldeia? De algum rolo de filme perdido num cinema extinto? E mais! Vieram de trem? De lotação? A pé? Numa igara? De ônibus? E mais! Quem pagou o transporte?
Confesso que fiquei comovido com a dança e com o canto dos inimputáveis. Por fim, pergunto por que os índios estavam protestando contra a PEC 241?
POR QUÊ?
Porque a PEC 241 é uma peça importante do pacote de contrarreformas de cunho neoliberal do governo golpista. Os objetivos estratégicos do “governo” Temer é transformar o Brasil no paraíso do capitalismo decadente internacional (encabeçado pelo capital financeiro anglo-americano. A esses agiotas internacionais interessa sufocar o país num garrote vil financeiro. O Brasil de dimensões continentais e com a riqueza natural que dispõe já era para ser uma das três maiores potência do planeta. Aos imperialistas não interessa que o Brasil seja uma potência capitalista (espécie de Japão tamanho gigante) nem comunista (que daria numa potência superior à antiga URSS). O projeto que os gringos têm para o Brasil é de uma potência colonial exportadora de commodities. Para tanto precisa de um povo imbecilizado pelos meios de comunicação de massa (a mídia golpista). Tudo o que os morcegos mundiais e seu sócios golpistas brasileiros não querem que uma moça como Ana Julia faça a cabeça da meninada.
Eles são a maior prova que precisamos SIM valorizar a Educação. Mas, como colocar também o bom senso na cabeça dos professores??
Pior é saber que as grades do ensino médio só que serão definidas após ampla consulta pública, e que só está definido que três matérias serão obrigatórias: português, matemática e inglês. Cogita-se ainda tornar três matérias opcionais :ed. física, artes, sociologia. Ou seja, é um projeto em construção, em que seus eixos básicos são muito bons.
Excelente editorial. Tranquilo. Da minha experiência de líder de movimento estudantil, há muitas décadas, eu concluo que essa garotada é manipulada, foi “feita a cabeça” deles nos bastidores e anteriormente. Considero os partidos que apoiaram as ocupações das escolas responsáveis pelo assassinato de um desses garotos em uma escola do Paraná invadida. Ocupar escolas que são prédios públicos, quaisquer que sejam os ocupantes, e ainda por cima impedir a entrada de terceiros, é criminoso e é contra a educação. Isso tem que ser dito aos adolescentes. O grosso dos ocupantes é de menores de idade! Democracia, isso? Isso é anarquia.
Se foi Brecht que disse que “ai do povo que precisa de heróis”, me ocorre o quão desvalidos estamos a essa altura do campeonato. Isso porque é a jovem Ana Julia e sua simpática mensagem no Youtube – toda feita de singeleza e da veemência própria da idade – que vem em socorro de quem não consegue enxergar os fatos à luz do que eles são hoje, nesse final de 2016. No próximo ano, nessa mesma data, a Revolução Bolchevique completará um século. Mas só no calendário. Pois na prática, se afogou em sua própria retórica e num colossal banho de sangue. Convenhamos…
Essas manifestações não fazem sentido, na medida em que, ao lermos a proposta, que não foi elaborada pelo atual governo, verificamos, comparativamente ao que está em prática, poucas mudanças. Há por detrás de todas essas invasões movimentos políticos que se interessam pela desestabilização e de causar prejuízos à Sociedade, legalmente constituída, oprimida. Quem está ocupando os espaços públicos comete dois grandes erros. O primeiro de não entender que aqueles espaços não são só seus. O segundo, que não estão prejudicando somente aos seus colegas que não aderiram a esse movimento, mas também a sí próprios. A grande mudança que se faz necessária deve levar em consideração vários fatores. Seria cansativo para o leitor enumerá-los, mas, limitando-os neste espaço temos alguns: Nem todo mundo que conclui o primeiro grau deseja continuar seus estudos. Uma parcela desses alunos preferiria fazer cursos profissionalizantes e poder começar a trabalhar logo. Nem todos os que concluem o segundo grau desejariam cursar uma faculdade. Também muitos desses gostariam de adquirir conhecimentos que os habilitassem a desempenhar atividades produtivas. E assim a “banda toca”. O País é desigual, o País é imenso, com múltiplas características que não se restringem ao linguajar ou ao biotipo.
Desproporcional é a repressão selvagem contra os estudantes que está sendo desencadeada em todo o Brasil. O debate lembra os argumentos e contra-argumentos de 1968.
Meu caro Homero. Ando meio estarrecido com a imposição dessas ocupações de iniciativa (???) de adolescentes, usurpando os direitos de maiorias de colegas estudantes, que ficam sem condições de assistir aula ou de fazer o ENEM. Mais ainda agora, com sua declaração sobre a existência de “repressão selvagem”. Esta semana li alguém falando de “tortura como na época da ditadura”. Será que não se está exagerando? Será que faltam argumentos para um diálogo minimamente construtivo?
Caro Aécio: são ângulos de visão diferentes. Aí por 68, as manifestações das quais participamos também eram chamadas de baderna, subversão e financiadas pelo “ouro de Moscou” pelo regime e pelas classes conservadoras de então. Vamos dialogar, sim. Talvez haja exagero nos paralelos que eu e alguns gatos pingados (não me refiro ao PT, nunca fui petista, nem concordo com muitos dos métodos usados por eles) que eu e alguns gatos pingados fazemos entre o momento político atual e os idos dos anos 60. Talvez haja exagero na turma que fez a autocrítica dos métodos da esquerda dos idos dos anos 60 e agora usa argumentos muito próximos dos que os antigos reacionários usavam contra os revolucionários de então. Abraço cordial.
Embora prescinda sobejamente de minha defesa inócua, gostaria de reproduzir aqui o comentário que fiz a propósito de um intrigante artigo de Homero Fonseca, datado de ontem, e que apareceu em seu blog, sob o título de “(Moro) O homem mais poderoso do Brasil”.
Se faço minhas as indagações acima de Aécio Gomes de Matos, não poderia deixar de registrar que o ensaio de Homero Fonseca supra referido tem muitos méritos e, conforme se verá, achei-o tão intrigante quanto o “E se…?” , de Sérgio, outra peça fundamental desse ano que já se vai.
A seguir, minha carta para Homero:
Prezado Homero,
Meu apreço pelo grande intelectual que você é só cresce ao ler seu brilhante ensaio sobre o verso e o reverso das verdades estabelecidas. Não resta dúvida de que você se apoia em argumentos de grande força para defender uma posição que, embora não seja a minha, merece respeito e reflexão.
No coração do leitor de boa fé não deve haver muita dúvida de que o populismo foi catastrófico para o Brasil e que a orquestração de esquemas para projetos de poder foi inequívoca, para não dizer escandalosa.
Isso não invalida a tese de que os jovens arautos do Judiciário estão sim anabolizados por seus próprios projetos de poder e que o messianismo latente das gerações do mundo digital os embala diuturnamente. Mas tudo isso está dito e bem dito em seu texto que, pelo brio, só pode refletir a essência mesma de seu arcabouço de convicções e história pessoal.
Jamais tamanho esforço estaria a soldo do oportunismo como seria de se esperar de algumas penas que conheceram seus melhores dias quando amparadas pelas prebendas oficiais. Jamais seria seu caso.
Estou, portanto, recomendando seu texto a todos que me leem. E, sobretudo aos que não pensam como eu. Seu artigo lhes dá sim argumentos honestos e intrigantes para que eles se libertem dos chavões e do ódio em estado puro para dar um primeiro passo rumo à reflexão madura sobre a catástrofe que se abateu sobre o País pouco depois da virada do milênio.
A intrigante euforia do Judiciário nada mais é do que uma consequência disso. Em linha com peças do quilate da sua, tenho também recomendado a leitura de “E se…?” , da lavra de Sérgio Buarque, esta publicada na revista eletrônica Será? , e também de grande qualidade. Parabéns e um abraço, Fernando Dourado