Editorial

O último editorial da Revista Será? do ano passado, intitulado “Vai-te 2015!”, expressava o sentimento de que, no novo ano (2016), os brasileiros poderiam respirar aliviados depois da prolongada agonia de um país paralisado e rachado politicamente no qual faltava governo e sobrava incompetência e manipulação politica. Mas, longe de se iludir com simples desejos, o editorial completava: “os pessimistas dizem que vamos sentir saudades de 2015” pelas turbulências que se anunciavam para 2016. Não, decididamente, o Brasil não sentiu saudades de 2015. Este ano de 2016 que agora termina foi cheio de surpresas, grande instabilidade e muitos desmantelos, carregou ainda mazelas e desequilíbrios do passado recente e terminou com uma avalanche de denúncias de corrupção que atinge o núcleo do poder. Mas 2016 foi bem melhor que 2015 em quase todos os aspectos, ao menos para o Brasil. É verdade que a economia continua estagnada e o desemprego persiste afetando milhões de brasileiros, mas a inflação está em declínio permitindo movimento de redução da taxa de juros e, o que é mais importante, o Brasil saiu da inércia política. Mesmo o governo de transição, impopular e frágil, tem agora uma direção clara na política macroeconômica, sustentada por uma equipe de alta qualidade e responsabilidade, e demonstra uma inusitada capacidade parlamentar para aprovar medidas estruturais que viabilizam a recomposição das finanças públicas do país. Mesmo com a popularidade muito baixa, que leva até aliados a pedirem a renúncia do Presidente, o governo Michel Temer mostra decisão e iniciativa com propostas estruturais como a Reforma de Previdência, indispensável para o equilíbrio das finanças públicas. Ao mesmo tempo e de forma independente do governo, ao longo deste ano que se encerra, a operação Lava Jato aprofundou e intensificou as investigações e denúncias de empresários e políticos avançando no combate à corrupção no Brasil. Mas no mundo, ao contrário do Brasil, 2016 vai entrar para a história como o ano do desastre da eleição do fanfarrão, imprevisível e despreparado Donald Trump para presidente dos Estados Unidos e do vergonhoso e desumano massacre de Alepo, para não falar da onda de terrorismo na Europa.