A concorrência de empresas e países pela produção de uma vacina segura e eficaz contra o Covid 19 gerou resultados excepcionais num intervalo muito curto de tempo, demonstrando o enorme avanço da ciência mundial. No entanto, a concentração do conhecimento científico e do poder econômico leva a uma profunda desigualdade no acesso às diversas vacinas testadas e produzidas.

O Reino Unido saiu na frente, os Estados Unidos e a Europa seguem logo atrás, China e Rússia também vão iniciar o próximo ano com uma vacinação em massa da sua população. Se a OMS – Organização Mundial da Saúde não entrar em cena com a aquisição e a distribuição das vacinas nos países de menor desenvolvimento, milhões de pessoas no mundo vão ainda conviver por mais tempo com o virus.

O Brasil tem vantagens pela competência científica e pela parceria com dois dos principais laboratórios de pesquisa, e tem pressa, no momento em que mergulha numa nova onda. Mas, a concorrência no nosso país tende a atrasar a vacinação, por conta de uma contaminação ideológica ridícula do presidente da República e uma disputa política com o governador de São Paulo, seu potencial concorrente às eleições presidencais.

Bolsonaro diz que não vai comprar a “vacina chinesa”, e o Ministério da Saúde anunciou a compra de 100 milhões de doses da vacina da Astrazeneca – Universidade de Oxford, prevendo a vacinação no primeiro semestre do próximo ano. O Instituto Butantan deve chegar primeiro. Começa, na próxima semana, a produção de 46 milhões de doses, prometendo iniciar a vacinação em janeiro, desde que seja aprovada pela ANVISA. Boas perspectivas para 2021. Mas desde que a disputa volte aos limites da racionalidade e do rigor técnico que merece a saúde pública. Dá para acreditar?