José Arlindo Soares*

 

Como toda pesquisa feita há mais de um ano da realização do pleito eleitoral, a enquete recém-publicada pela CNT não pode ser tomada como um prognóstico do comportamento do eleitor no momento da eleição, embora possa apresentar tendências valorativas, que, se cristalizadas, podem ser decisivas no momento do voto.  Não deixa de ser preocupante que 90% do eleitorado afirme não acreditar haver algum partido livre da corrupção.  Em tese, isso não significa concordar com a corrupção, mas pode deixar margem para o apoio a arrivistas fora do escopo partidário tradicional, portanto sem nenhum compromisso com as instituições democráticas. Por outro lado, pode revelar a aceitação do discurso de que toda a classe política rouba e que cabe ao eleitor movimentar-se em direção àqueles mais identificados com o discurso fácil das soluções mágicas na resolução das demandas populares.

Outra tendência apontada pela pesquisa é a perda do capital político do governo Temer, nos seis meses de mandato.  O presidente já entrou com um déficit de legitimidade, e aumentou esse déficit, ao não aproveitar o tempo político que é concedido pelo eleitor a todo governante no início do mandato. Suas vacilações tornaram mais claras a submissão ao jogo da velha política, de escamotear qualquer investigação ou promover mudança substantiva na condução do presidencialismo de coalizão.   O velho vício oligárquico, exacerbado pela nova corrupção sistêmica liderada pelo consórcio PT/PMDB, trouxe para a entourage presidencial a sensação de que não existem limites para as suas espertezas, a ponto de a população não perceber algumas virtudes do próprio governo, como a blindagem da área econômica e o encaminhamento de reformas essenciais para o futuro, reformas que arriscam ser anuladas se não forem acompanhadas por novas práticas na condução da política.

Para reforçar a explicação sobre o sentimento de desânimo que toma conta da grande maioria da população, tomo emprestadas as observações do cientista político Celso de Melo sobre a conjuntura política nacional. “A governabilidade do presidente Temer é feita nos mesmos moldes que levaram ao impeachment da presidente Dilma………..O  Brasil se  acostumou  a não negociar projetos e programas. O pessoal vai direto à veia, começa a negociar cargos e recursos”(Celso de Melo – entrevista à UOL) .  O problema é que, com barulho ou em silêncio, a população percebe a doença provocada pelo esgarçamento do tecido político, de forma mais clara e contundente do que a percepção da medíocre classe política que se vem perpetuando no País.