Editorial

 

Há duzentos anos, no dia 6 de março de 1817, os pernambucanos se rebelaram contra o domínio português e implantaram o sistema republicano no território do Brasil, cinco anos antes da independência e 72 anos antes da proclamação da república. A Revolução Pernambucana, que dominou parte do Nordeste brasileiro por mais de dois meses, foi uma reação da elite econômica e intelectual pernambucana aos pesados impostos cobrados pelo Reino de Portugal para financiar o luxo, a opulência e os gastos conspícuos da corte instalada no Rio de Janeiro, em 1808. No início do século XIX, Pernambuco era a mais rica capitania do Brasil, centro exportador de açúcar e algodão, e vivia uma grande efervescência política e intelectual, alimentada pelas ideias iluministas, discutidas e defendidas nas lojas maçônicas e por líderes da Igreja Católica em Olinda e Recife. A combinação do espírito libertário e republicano com o sentimento de exploração pela corte portuguesa desencadeou a revolução, que declarou a independência de Portugal, proclamou a República e decretou a liberdade religiosa e de imprensa. A Revolução Pernambucana foi esmagada pelas tropas apoiadas pela frota naval de D. João VI em 19 de maio de 1817, com a execução de alguns dos seus principais líderes. Mas deixou marcas profundas nas elites econômicas e políticas do Brasil e, principalmente, de Pernambuco, alimentando todo um ciclo de revoltas, como a Confederação do Equador, em 1824, reagindo à monarquia centralizadora do Brasil independente, e a Revolução Praieira de 1848, de inspiração liberal, republicana e federalista, que defendia a liberdade de imprensa, a extinção do Poder Moderador, o fim do monopólio comercial dos portugueses e a instituição do voto universal. Duzentos anos depois, Pernambuco carrega o espírito da Revolução de 1817, expresso na bandeira do Estado, criada pelos revolucionários, e presente na denominação de várias ruas e avenidas do Recife, como Cruz Cabugá, Gervásio Pires, Domingos José Martins, Padre Roma, Frei Caneca, Vigário Tenório e Barros Lima, principais líderes da revolução.