Editorial

É lamentável, para dizer o menos, a manifestação contundente de apoio e solidariedade do PT e do PCdoB ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela. Na declaração, assinada no encontro em Manágua, os dois partidos defendem a eleição da Constituinte que, segundo dizem, deve ampliar os poderes do presidente, que já vem ignorando sistematicamente as regras democráticas e os direitos humanos. O país tem centenas de presos políticos, e a repressão às manifestações da oposição já levou à morte mais de 100 adversários do regime, em apenas quatro meses. A Procuradora Geral da Venezuela, Luísa Ortega, nomeada por Hugo Chavez, declarou, recentemente, que os “direitos humanos estão sendo violados como nunca antes na história” da Venezuela. Erika Rivas, diretora da Anistia Internacional, denuncia a violação dos “direitos econômicos, sociais, culturais, as liberdades fundamentais, o direito à associação, a liberdade de expressão”. E é ridículo, para dizer o menos, que os dois partidos continuem utilizando as velhas e carcomidas acusações de conspirações externas, para explicar o desastre econômico e social do bolivarianismo e para justificar a repressão e o desrespeito às regras democráticas. A “revolução bolivariana é alvo de ataque do imperialismo e de seus lacaios”, dizem eles, exaltando a farsa do chavismo e da “revolução do século XXI”. Que revolução, companheiros? É necessário muita miopia ou cegueira ideológica para engolir e, pior, apoiar esta repressão do governo venezuelano, no meio de uma profunda crise econômica e social. Ou então, o que parece mais grave, demonstra o ranço autoritário da velha e atrasada esquerda brasileira.