A Praça dos Três Poderes, este símbolo urbanístico e arquitetônico da democracia e da república brasileiras, virou um grande circo. Um circo triste e deprimente. Os contorcionistas circulam pelo picadeiro e transitam entre os poderes, com a sua habilidade para confundir o “respeitável público”, alternando as posições e revirando as formas, com desprezo pelos espectadores. Com desenvoltura, os trapezistas saltam de um ponto a outro da praça, garantidos por uma larga e confortável rede de proteção, para o caso de provável desequilíbrio e eventual queda. Do alto, leves e soltos, ignoram completamente os olhares desconfiados da plateia. Os mágicos entram em cena, habilidosos na arte da dissimulação, diante dos olhares atônitos, transformando esterco de elefante em dólares, para aumentar o seu próprio patrimônio. E saem, correndo, sorrindo, tripudiando sobre a desolada assistência. Os movimentos rápidos dos acrobatas, malabaristas e equilibristas envolvem o público, confundindo a sua percepção, desviando a atenção das manobras cavilosas dos vários artistas do diabólico circo. Ah! Os palhaços! Muitos palhaços sem humor, que não alegram ninguém! Ao contrário, riem de nós, brasileiros comuns, que pagamos a entrada e, portanto, sustentamos o circo. A plateia, indignada, não pode fazer muito, vaia e grita em protesto. Quando aparece o domador, ela torce pelo leão. Humilhado pelas cruéis chicotadas, uma hora, quem sabe, o leão se revolta, salta sobre o seu algoz, solta as outras feras enjauladas, que correm pelo picadeiro, derrubam os trapezistas e contorcionistas, botam pra correr os mágicos com seus mal cheirosos dólares, e empurram os palhaços, numa vingança em grande estilo da degradação da Praça dos Três Poderes transformada em circo. Os animais correm para o cerrado e, antes que o circo pegue fogo, o “respeitável público” retoma a praça, símbolo urbanístico e arquitetônico, resgatado, da democracia e da república.
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