Editorial

Os presidentes dos Estados Unidos Donald Trump e da Republica Democrática da Coreia Kim Jong-un se reuniram na ilha de Sentosa em Singapura, com muita pirotecnia. A substituição do bombardeio retórico entre o “homemzinho dos foguetes” (cf. Trump) e o “velho caquético” (cf. Kim) por elogios mútuos surpreendeu o mundo. Houve tour de Kim Jong-un por Singapura tirando selfies, sua 1ª vez no exterior, fora as viagens à China em março e abril. Um vídeo promovido pela Casa Branca elogia as praias coreanas e diz a Kim que é melhor o desenvolvimento, com hotéis na praia em vez de canhões mirando o mar. A Cúpula de Singapura começou com o demorado aperto de mão diante da fileira de bandeiras dos dois países em alternância. Logo aí começaram interpretações: Trump teria reconhecido a ditadura dos Kim. Em seguida, os dois presidentes (ou dois ditadores, na gafe de um apresentador na TV americana) se reuniram sozinhos, e jornalistas especularam se “haveria química”. O resultado por ora é a Declaração de Sentosa, mais curta, porém mais imprecisa que a Declaração de Panmumjon (já analisada na “Será?” em 4 de maio pp). Kim reafirmou explicitamente a Declaração de Panmumjon e seu “compromisso com a desnuclearização da Península Coreana” e Trump se comprometeu a “oferecer garantias de segurança” à Coreia do Norte, e ambos reconhecem que isso depende de “construir confiança mútua”. Prometeram continuar negociações. Trump anunciou depois do encontro o fim dos exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul e os reconheceu como “provocação”.  Porta voz da China, o principal ator oculto nessa história toda, já declarou, poucas horas depois do encontro, que o Conselho de Segurança deveria aliviar as sanções. O segundo ator mais importante, o Presidente da Coreia do Sul Moon Jae-in, disse que o acordo de 12 de junho ajuda a enterrar “o último legado da Guerra Fria no mundo” e há esperança de que se formalize o fim da Guerra da Coreia com um acordo de paz entre as duas Coreias. Na verdade, cartas de intenções como essa foram acordadas antes mais de uma vez e ficaram sem cumprimento. Dessa vez, pela primeira vez, foi assinada por POTUS, na sigla que os americanos usam (President of the United States). Mas é POTUS com reputação de romper acordos internacionais em série. Junto do alívio com a suspensão dos testes atômicos e declarações de apoio à iniciativa, o que existe por ora é ceticismo. A construção de confiança mútua vai demorar.