Entre as manobras financeiras e fiscais feitas pelo Congresso no Orçamento deste ano, reduziram a migalhas os recursos previstos para o IBGE e necessários para a realização do Censo Demográfico. Com isso, o Brasil vai ficar às cegas e os governos em todos os níveis vão tomar decisões no escuro, sem conhecer a realidade na sua complexidade e nos múltiplos e importantes detalhes.

Se o planejamento já não é o forte deste país do imediatismo e da improvisação, sem as informações precisas e atuais do Censo vamos avançar numa meia escuridão, que não é maior porque o IBGE realiza pesquisas por amostragens de alta qualidade. O Governo é coautor deste absurdo, porque não forçou a manutenção do orçamento e cedeu às pressões dos congressistas para ampliar as emendas parlamentares, com as quais vão fazer clientelismo nas bases eleitorais, projetos que variam de cem mil a nove milhões de reais.

Deputados e senadores tiveram direito de alocar R$ 51,8 bilhões em emendas de seus interesses, superestimando receita futura e tirando de outras rubricas, entre as quais os R$ 2 bilhões previstos para o Censo Demográfico. É lamentável que tenha sido autorizado a cada parlamentar destinar até R$ 16,3 milhões para suas emendas individuais, oito vezes o que o IBGE precisava para realização da pesquisa.

Utilizar a pandemia como desculpa para a não realização do Censo Demográfico é uma falácia: os entrevistadores poderiam ser vacinados, e utilizarem equipamentos e medidas redobradas que impediriam a contaminação dos entrevistados. Provavelmente, o Censo custaria um pouco mais dos dois bilhões. Mas o benefício seria inestimável: disponibilidade de informação atualizada sobre a realidade brasileira, captando as grandes mudanças registradas na última década. O que possibilitaria melhorar eficiência e efetividade dos investimentos públicos, e mesmo das decisões privadas. Como inestimável é o prejuízo provocado pelo Governo e pelos parlamentares, com a suspensão do Censo.