Par délicatesse j’ai perdu ma vie (Rimbaud)
O governo Temer durou um ano. E foi um bom governo. Chegou lá sem precisarprometer nada. E seguiu direitinho a agenda certa. Depois, começou a ser demolido. Primeiro, foi a ação do comando formado por três patriotas: Joesley, Janot e Fachin. O que rendeu dois pedidos de impeachment no Congresso. E uma campanha tóxica, feroz de desmoralização vinda de todos os lados: da esquerda (rancorosa, desempoderadacom Dilma), e da direita e do centro (piedosos, de catecismo na mão). Da sociedade civil e de corporações do Estado. E quase não lhe sobraram energias para mais do queescapar aos tiros. Tiros, porém, que atingiram gravemente seu governo. Daí o paradoxo: à medida que a safra de bons resultados surgia, sua popularidade vinha ao rés do chão. E o apoio congressual, por reflexo, caía a ponto de ele não mais conseguir aprovar nenhuma medida importante. Caso da vital reforma previdenciária e da privatização da Eletrobrás, recém-retirada da pauta de votações. (E quem prometerá?… No atraso do último ano, perdeu-se uma década, ou uma geração?).
Agora, nesse ambiente, vem a “ação direta”, soreliana, da greve dos caminhoneiros. Greve à primeira vista visando à queda do preço do diesel (e o IPVA de abril foi o menor do real…). Só que, no fim de semana, depois de ganhar no grito, o movimento continuou (com enorme apoio popular e a quase-passividade do aparato de segurança pública). O que deixou claro que, no fundo, mira-se algo mais amplo. O que?! Era evidente que uma ação assim só podia dar ao certo na paralisia da economia. Nosacrifício absurdo de produção, de empregos e de vidas de brasileiros, que o noticiário vem mostrando. E não se viu nada ainda…
Espera-se que isso provoque a imediata substituição do governo?! Quanta impaciência!Não estamos a quatro meses da solução constitucional das eleições diretas? Na oportunidade, a população por decisão majoritária dirá o que quer. Por que e comonão aguardar? O sintomático é que alguns, de peões a comandantes do movimento, falem, sim, abertamente, com aplauso de boa parte da população, na alternativa militar.É ir longe demais. Combinaram com os russos? Faz 30 anos, depois de 21 no poder, ospróprios militares, e não apenas os civis, acharam melhor o governo civil. Como encerrou ontem, 29/5, o gen. Etchegoyen, chefe do GSI, “regime militar é pauta do século passado”. Estamos, então, diante de quê? Pelos resultados, de um baita, um giga-ato de sabotagem contra nosso país.
E encerro com dois comentários amargos, que espero reflitam só o humor da hora. 1) Para alguns, a culpa é mais uma vez de Temer. Temer, o Calmo, a quem se acusa, agora, pelo errado e pelo certo. E, se não concluírem antes o “serviço”, seu governo vira e vaizumbi até o fim (que está perto). 2) Dizem que o povo tem o governo que merece. E isso, noto agora, vale geral, para massa e glacê, e se comprova também pelo avesso: quando aparece o mais, o povo vai e recusa. E sente saudade de Dilma, sob quem não se viu nada igual. Então, viva Dilma! E viva o Brasil eternamente triste.
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