Elimar Nascimento

Crossroad 1986 (Autor Desconhecido).

O grande problema atual é quando vai aparecer o cisne negro. Se é que ele vai aparecer.

Em 1989, Ulysses Guimarães, candidato à Presidência, era o político nacional de maior prestígio. Uma folha de serviços prestados invejável; reconhecimento em todas tribos urbanas; sem qualquer suspeita de corrupção; largo tempo de TV, muitos recursos financeiros e um partido gigante (em 1987 o PMDB elegeu 26 dos 27 governadores do País). No final do pleito, teve reles 4%. Neste mesmo pleito, o primeiro após o regime militar, havia uma única certeza, em janeiro daquele ano: Brizola estaria no segundo turno. Não foi. Perdeu por menos de 1% do Lula. Quatro anos depois, a grande expectativa, depois do fracasso rotundo de Collor de Mello, era a vitória do presidente do PT. Perdeu no primeiro turno.

Pleito eleitoral é caverna de incertezas, e surpresas. Às vezes ela é bem menor, como em 1998. Lula sabia que não tinha qualquer chance contra FHC. E não teve. Portanto, nada estranho que estejamos em face de novas incertezas. Para alguns, uma incerteza enorme. Para outros, nem tanto. O pessoal do Bolsonaro está certo que ganha. A tropa de Ciro está começando a se animar. Os marinistas nunca perdem a esperança. Mas o pessoal do centro está desesperado. Apesar de os especialistas dizerem que pesquisa de intenção de voto neste período tem pouco valor (será?), nenhum de seus candidatos caminha.

Na opinião dos democratas e reformistas, é preciso tirar o País da encruzilhada perversa, ou seja, a decisão entre a catástrofe (Bolsonaro) e o desastre (Ciro), como gosta de dizer o senador Cristovam Buarque. No entanto, nenhum de seus pretendentes consegue alçar voo. Meirelles e Maia são piadas, Alckmin, mais ainda. Tudo chuchu. Sem qualquer sabor. Os novos, Amoêdo e Flávio, são inexpressivos. Iguais aos esquerdistas do PSOL, e também do, não tão de esquerda, PCdoB. Ninguém percebe que eles existem. Somando tudo, mal chegam a dois dígitos. Alguns, como Meirelles e Alckmin, acreditam que, com o tempo de TV, podem dobrar a opinião dos eleitores. Outros, como os empresários, acreditam que possuem a imagem que o povo deseja: basta ele saber que são candidatos e tudo mudará. Até o Afif Domingos quer entrar no páreo. Aquele mesmo da linguagem de surdo-mudo na TV em 1989, em que a Globo apostou em vão. Não existe personagem mais matreira e ingênua que candidato político. Alimentam-se, sempre, de surpresas pretéritas. Citam inclusive Collor de Mello, esquecendo que em janeiro de 1989 ele tinha 2% e em junho já ultrapassava os 12%. Hoje, a esperança se alimenta no silêncio do eleitor que não escolheu, não se interessa e foge da política, ou prefere “ninguém”.

Os movimentos no centro se aceleram, dirigidos por figuras como FHC e Cristovam Buarque, e apoiados por um punhado de partidos. Há, inclusive, uma grande reunião proposta para 28 de junho em São Paulo, reunindo organizações não partidárias. E dezenas, senão centenas de artigos e opiniões, percorrem as redes sociais. Contudo, a sensação é de que todo movimento é inercial, nada sai do lugar, não há mudanças. Seus personagens não conseguem se reunir em torno daquela que tem melhores condições de se tornar a alternativa, Marina. Está fora da Lava Jato, não tem envolvimento com Temer – ao contrário sempre propôs Fora Dilma e Temer – e tem experiência política. Como Ministra do Meio Ambiente conseguiu um feito: reduzir, simultaneamente, o desflorestamento, e aumentar a produtividade agrícola.  Além de duas belas votações nos pleitos pretéritos, com 19% e 21% em 2010 e 2014, respectivamente. Marina reúne um pensamento liberal no campo econômico, conservador nos costumes e progressista na política. Parece razoável que ela tenha melhores condições do que os outros candidatos do centro, e congregue todos aqueles que querem evitar a catástrofe e o desastre.

Aparentemente, o clima não está favorável para a razoabilidade. Há pouco espaço para qualquer argumento racional.  A emoção é tudo. E as piores possíveis: ódio, intolerância, raiva, xenofobia, homofobia. E mesmo o bom sentimento da indignação alimenta a irracionalidade. A história tem exemplos de suicídio coletivo, que parece ser a tendência atual. Felizmente, tendência não é destino.

A irracionalidade domina o clima da sociedade ocidental. Não se trata apenas de Brasil, ela está presente de maneira geral no mundo que vota em Trump, que defende o Brexit, ou aplaude o fascista da Venezuela, ou o doido da Coreia do Norte. Irracionalidade em um mundo que não acredita em aquecimento global, apesar das evidências científicas. Aliás, estas tendem aos poucos a ser desacreditadas e rejeitadas. Inclusive em seus sucessos: a IA será o próximo monstro a ser abatido, pois retira nossos empregos, exclui segmentos humanos importantes, ajuda a concentração da riqueza. E de roldão, lá vai a democracia? Afinal, a China cresce sem ela, e nós decrescemos com ela.

No campo dos sentimentos, o mundo se encontra entre o catastrofismo (preparando o maior espetáculo da decadência humana) e a indiferença (não adianta fazer nada, porque tudo continua como antes).

Nesta hora, não posso deixar de lembrar-me de Edgar Morin (A via). Em 2012, ele me lembrava que em 1941 o mundo parecia condenado a ser subjugado pelo nazismo. Em 1945, Hitler era derrotado. O cisne negro existe.