David Hulak

The Rain Room – MOMA.

Fico pensando em não mais escrever, muito menos publicar. Não há motivos para o chiste, para uma charla. Mas não posso parar de pensar, o que me incomoda desde que meu filho, então entre os seus cinco a seis anos, após uma longa demora no banheiro, saiu perguntando: “por que a gente não para de pensar?” .

Poderia ficar pensando em coisas várias, alegres como o barquinho a navegar, lindas como a simetria das asas das borboletas, em o que se ouvia seria a cotovia ou o rouxinol. Mas não, viciado em ler e ouvir o que se passa aqui e no resto do mundo, qual um fugitivo dos LNA, Ledores Neuróticos Anônimos- não paro de pensar. Fico estarrecido com a genialidade dos Dalí, Breton, Èluard ou Apollinaire, os que ao seu tempo avisaram o que se materializaria hoje em dia, nesta semana, ontem.

Ouvi que o Homem que Tuitava, em entrevista à Fox, o seu canal favorito, nos alertava que os montenegrinos, se entrassem na OTAN, poderiam deflagrar a Terceira Guerra. Me pareceu um indigno pastiche do Rato que Ruge, aquele com Peter Sellers, este sim, um impagável comediante.

Leio sempre as notícias no G1 e em outros “canais de informação”, na busca infrutífera de boas notícias. Todo dia tem vários homens que mataram mulheres com o receio de carregarem chifres, mesmo que invisíveis, não como os que seriam obrigados a carregar, ao vivo e a cores, nas “terribilis”, pelas punições das Ordenações Vicentinas. desfilando-os para o manso e velado escárnio de outros como eles. São muitos os que esfaqueiam, atiram, torturam e matam.

Apesar das bravas Marias da Penha.

Parafraseando o antropo-sociólogo Elimar Nascimento, por que somos assim?

Por que bandido não desiste de sê-lo? Já nem falo da bandidagem lavajatense, pois esta está entranhada desde a época das Ordenações supra- citadas.

Apesar das diuturnas operações da Federal – que Deus as mantenha – continuam a crescer os crimes menores do que os tratados no Foro Privilegiado, isto é, contrabando, estelionato, assalto a mão armada, roubo de cargas, cirurgias calipígias, bombardeios de caixas eletrônicos e demais tipificações puníveis pelas modernas ordenações.

Diz-se que no Rio, fagueiro e belo, desde que nele intervieram, com o Exército e tudo, aumentaram os homicídios e as chacinas. Estas até no Ceará, tão belo quanto, e antes pacífico, onde apenas se ouviam vitupérios, xingamentos e bravatas.

Cansei de pensar nos motivos pelos quais, mesmo após Joaquim Nabuco, Patrocínio, Isabel, Ângela David, Luther King, Mandela, Betty Friedan e seus desdobramentos em sete cores, pipocam aqui e alhures o ódio e a discriminação ao diferente. Alguém me disse, explicando, que é culpa da Tecnologia da Informação, dos polegares nervosos tuitando, uatzapeando, instagrameando. Mas não só naquelas curtas mensagens, meu teimoso leitor, nos jornais. Deve ser culpa também da tal liberdade de imprensa.

Soube que um deles, antes tabloide em papel, hoje virtual, o resistente Komsomolskaya Pravda, vibrante órgão que já foi o da Juventude Comunista na URSS e orientador da moçada aquém da Cortina, inclusive este que vos fala, entrou no clima de fora os outros. Transcrevo:

“…Como a África ganhou a Europa”, da jornalista Darya Aslamova. No texto, Aslamova afirma que não foi a França que ganhou a Copa, mas a África, já que muitos dos jogadores franceses são negros e não brancos. “Vamos parar de fingir que a vitória foi da seleção francesa. A Croácia era o último time branco neste campeonato. Nossos valores são o cristianismo, o patriotismo e as tradições europeias. Africanos e árabes não têm nada a ver com esses valores”, argumenta. Ela diz ainda que, durante o jogo, recebeu ligações dos amigos franceses do partido de extrema-direita Frente Nacional, e eles diziam que estavam torcendo para a Croácia, já que não havia brancos no time francês. E concluiu: “Meus amigos das antigas regiões brancas francesas, que agora estão ocupadas por imigrantes, encontram com mais facilidade uma mulher de burca com uma penca de filhos do que uma mulher branca”.

Agora, neste momento, ouço que a insana busca por tempo de televisão, quando nossos postulantes afinal dirão o que e como farão para resolver os problemas que nos afligem, e como proporão nos “primeiromundar”, ficou adiada para a semana que vem.

Foi uma reunião de diversos Partidos, em Brasília, que não chegou a nenhuma conclusão. Sobre a quem oferecer a televisão, não sobre o que nela será dito.

Por tudo isso, me lembrei de Ziraldo, e poupo o editor J. Rego de procurar ilustração para este texto.