Tarde demais. ? preciso reconhecer que fomos derrotados. ? forte dizer isso, pois ainda estamos a mais de uma semana antes das elei??es, e estas s?o sempre eivadas de incertezas. Mas, salvo um ?fato novo? ? que sempre pode ocorrer – teremos Bolsonaro e Haddad no segundo turno. A famosa escolha entre a cat?strofe e o desastre.
Durantes meses, as for?as democr?ticas, conservadores e progressistas,? movimentaram-se na busca de uma alternativa aos extremos pol?ticos que envolveram e conduziram a pol?tica brasileira recentemente. In?cuos esfor?os. Bolsonaro conseguiu, como ningu?m, galvanizar os sentimentos de rep?dio, tanto ? pol?tica tradicional, quanto ao petismo (menos tradicional). N?o importa se ele n?o ? novo na pol?tica e sempre esteve envolvido com partidos e pol?ticos tradicionais. N?o importa se ele tem comportamentos antirrepublicanos, homof?bicos, racistas, machistas e nunca combateu de fato a corrup??o. O sentimento de indigna??o encontrou nele seu escoadouro. Afinal, n?o votamos ou escolhemos pessoas, mas imagens que fazemos do selecionado ou escolhido. Imagens constru?das por ind?cios, interpretados segundo os receptores, que s?o m?ltiplos, diversos e, por vezes, divergentes. Cada qual tem seu filtro interpretativo. Que pode ter ou n?o correspond?ncia com os fatos.? Diferenciamo-nos dos animais, entre outras coisas, exatamente por isso: a capacidade de criar uma realidade fict?cia.
A tese de que os eleitores de Bolsonaro s?o fascistas, al?m de simplista, ? falsa. H? um segmento numeroso de fascistas, de personalidades antidemocr?ticas, autorit?rias. Mas h? tamb?m segmentos conservadores democr?ticos, indignados ? pouco interessa se com raz?o ou n?o – com a pol?tica do PT nos governos recentes. E segmentos que se movem apenas pela indigna??o com a pol?tica estabelecida, em que a imagem predominante ? de rep?dio ? corrup??o que parece a todos abra?ar. Ou segmentos movidos pelo medo com o aumento da criminalidade, que o candidato capit?o promove acabar com uma bala. Queiramos ou n?o, gostemos ou n?o, Bolsonaro ? um fen?meno. Nenhum partido ou pol?tico conseguiu ter uma milit?ncia t?o numerosa e ativa como ele.
O perigo de Bolsonaro n?o ? que ele ? de direita, ou mesmo autorit?rio. Autorit?ria Dilma tamb?m era (e ?). Algo normal em uma democracia. O que assusta ? sua intimidade com as For?as Armadas em um clima de indigna??o e rep?dio ? pol?tica, de descren?a crescente na democracia no Brasil e no mundo. O paradigma da China permanece de p? e tentador.
O outro lado ? melhor, por?m nem tanto. H? sinais claros de que Haddad ser? um grande retrocesso. Pela amea?a de mudan?as na legisla??o relativa ? m?dia, tentando amorda??-la; pela amea?a ao combate ? corrup??o, com a extin??o da Lava Jato; pelas press?es para que n?o se prendam corruptos condenados em segunda inst?ncia, mantendo o corredor quase infinito de recursos de que se valem os mais ricos para permanecerem soltos, apesar dos crimes cometidos; pela promessa de recuperar a nova matriz econ?mica que nos levou ? recess?o, pela aparente irresponsabilidade fiscal e dom?nio do populismo.
Bolsonaro periga ganhar pela esperteza de seus movimentos. Enquanto ele declara que manter? o atual presidente do Banco Central, Haddad declara que o erro da Dilma foi n?o ter radicalizado a ?nova matriz econ?mica?. Claro, o empresariado caminha para os bra?os do capit?o. E a classe m?dia mais esclarecida fica estupefata pela amea?a de nova recess?o.
N?o bastassem estas considera??es, o vencedor ter? uma imediata contesta??o do advers?rio. Quase escrevia inimigo, linguagem de guerra e n?o de diverg?ncias democr?ticas. Um dizendo que n?o venceu porque seu verdadeiro candidato foi preso injustamente, o outro alegando que foi esfaqueado por um esquerdista.
Ambos se preparam para a contesta??o. Apesar de ter sido eleito cinco vezes com as urnas eletr?nicas, Bolsonaro se declara, agora, e s? agora, desconfiado com a seguran?a de seus resultados. O PT entra na justi?a contra a decis?o de retirar o direito de votar dos que n?o fizeram inscri??es biom?tricas, em n?mero superior a 3 milh?es de eleitores.
Os democratas progressistas, por sua vez, se dividem. Permanecem divididos. Alguns se mant?m fi?is aos seus candidatos ? Ciro, Geraldo, Marina, Amoedo, ?lvaro, Meirelles. Outros pregam voto ?til naquele que estiver, dentre estes, mais perto de alcan?ar o segundo turno. No caso atual, Ciro. Ter? resultado esta estrat?gia? Talvez. S? os pr?ximos movimentos poder?o nos dizer se os extremistas chegaram ao teto e os centristas t?m chance de crescer. E a decis?o do voto ?til s? tem sentido a ser tomada nas v?speras.
A grande quest?o do momento, caso se confirmem os progn?sticos das pesquisas, ? se os democratas progressistas ter?o a clarivid?ncia de unir-se contra o capit?o, maior amea?a ? democracia. Ou se ir?o, irresponsavelmente, pescar. Unir-se em torno do mal menor, exigindo compromissos de respeito ? liberdade de imprensa, ? continuidade das a??es da lava Jato, ? n?o interven??o no Judici?rio, parece ser a ?nica sa?da, no cen?rio eleitoral mais prov?vel, hoje.
Temos que nos preparar para tempos tenebrosos, que colheremos com o nosso insucesso, com o fracasso da democracia. Resta a esperan?a de que tenhamos aprendido a li??o: o caminho normal de sa?da do populismo ? o fascismo. Uma sa?da distinta exige esfor?o, clarivid?ncia e tenacidade.
Muito bom, Elimar! Suas preocupações estão muito bem fundamentadas!
Caro Elimar N.,
Gostaria de ter argumentos para discordar de sua interpretação do atual momento. Circunstância em que iniciaria este breve comentário com a expressão “fomos vencedores”.
Mas temos de encarar os fatos. Salvo o imponderável, não há como evitar “o pior dos mundos” em termos eleitorais. O eleitor haverá de escolher entre “a catástrofe e o desastre”, como você bem disse. Para mim, ambas alternativas são autofágicas.
Nesse sentido, ouso discordar de sua assertiva de que escolher o representante do lulopetismo é o esperado de um “democrata progressista”. No primeiro turno, ainda insistirei em uma saída pelo centro. E no dia da decisão final (por certo não irei pescar) não me sentirei omisso se votar nulo.
Diante do quadro crítico da situação política, social e econômica do país, qualquer que seja o resultado dessa eleição – que cindiu a sociedade brasileira em “nós e eles ou eles e nós” -, resta-nos “trabalhar com coragem para a mobilização dos segmentos sociais mais esclarecidos, em defesa das políticas públicas mais prementes” – como proclama Aécio G. Matos, em artigo nesta mesma edição de Será?
Receba o abraço e a admiração do seu leitor assíduo,
Sérgio A.
Prezado Sérgio
Fomos derrotados quando tivemos treze anos de governos PT. Chamar o Adadd de esquerda progressista é demais.
Essa sua escrita cairia bem para Pernambuco, onde seja quem for o vencedor Pernambuco perdeu.
Irajá Borges
Elimaar,
A expressão “fomos derrotados” é muito forte mas necessária.Seguindo a mesma trilha do comentário anterior, vou, entretanto, usar essa sua provocante reflexao para fazer, em prol da candidatura que abracei, a justa propaganda.