Alguns analistas sugerem que os militares constituem o lado racional do governo Jair Bolsonaro, uma referência de sensatez para conter os desequilíbrios e os delírios medievais de vários ministros e, particularmente, dos filhos do Presidente. Ao lado de ministros mais técnicos, como Paulo Guedes, da eocnomia, e Sérgio Moro, da Justiça e Segurança, os militares, especialmente o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro do GSI-Gabinete de Segurança Insitucional, general da reserva Augusto Heleno, vêm chamando a atenção pelos pronunciamentos equilibrados e republicanos. Nesta semana, contudo, o ministro Augusto Heleno surpreendeu os analistas com uma reação autoritária e intolerante contra a Igreja Católica, que está organizando o Sinodo da Amazônia, para discussão de temas (Amazônia, povos indígenas e mudanças climáticas) que, a seu juizo, constituem “pauta da esquerda” e provocarão críticas ao governo brasileiro. Como que traido pelo hábito da caserna, Augusto Heleno não admite as críticas que, eventualmente, virão do encontro da alta cúpula da Igreja Católica. Na sua avaliação, a Amazônia é um tema de segurança nacional, e a Igreja é uma tradicional aliada da esquerda e do PT. “Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”, afirmou o ministro, que teria mesmo pensado em solicitar a intervenção do governo italiano para influenciar no encontro religioso. O ministro deveria lembrar que numa democracia e num Estado republicano toda pessoa e qualquer instituição têm o direito de analisar, discutir e fazer críticas ao governo sobre qualquer tema. Independentemente dos seus autores, as eventuais críticas às políticas ambientais e indigenistas do governo brasileiro não constituem ameaças à segurança nacional. Nada impede que uma instituição religiosa se manifeste sobre temas seculares e mesmo políticos, e cabe lembrar que não é apenas a Igreja Católica que tem atuado politicamente no Brasil. As igrejas evangélicas são parte ativa do governo Bolsonaro e formam parcela relevante da bancada parlamentar, sem falar da sua grande contribuição para a eleição do presidente. Com agendas diferentes, o Brasil tem hoje a igreja do governo e a igreja da oposição, fenômeno incomum e mesmo inadequado num sistema político democrático. Fenômeno que reflete, em última instância, a enorme fragilidade dos partidos políticos, na representação da sociedade. Esta é a democracia brasileira, que o ministro Augusto Heleno deve respeitar e fortalecer.
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Muito bom!
Estamos, mais do que nunca, entre as diversas cruzes e as diversas espadas! Beco que está difícil de vislumbrar saída, até nas análises polícias.
Concordo!
Talvez eu esteja afetada pela tal da judicialização, mas lembrei que o Vaticano tem assento na ONU. Verdade que como observador, como a Palestina, com direito a voz sem voto. Mas cansei de ver o representante do Vaticano discursando contra o planejamento familiar e apelando que os governos retirassem suas contribuições do UNFPA (United Nations Population Fund). Desde 2015 o Vaticano tem até sua bandeira hasteada junto aos demais países. Eu não enxergo uma religião na oposição e outra no governo, são variações do mesmo. E quando lembro da campanha da CNBB pelo calote da dívida pública acho bom mesmo o governo, por seu componente mais sensato hoje em dia, acompanhar o que se está pretendendo no Sínodo da Amazônia, mesmo que não seja tema de “segurança nacional”, e só uma questão de imagem do Brasil no mundo. Acho boa a ideia aventada de realizar em Roma, um mês antes do Sínodo, um simpósio para discutir as ações institucionais do Brasil relacionadas com a Amazônia. Como eu não tenho razão para confiar na CNBB em finanças internacionais (assunto sobre o qual organizou há poucos anos uma Conferência Ecumênica em São Paulo), sou desconfiada, também, no que possa inventar em relação à Amazônia, à floresta, aos indígenas, aos quilombolas. A CNBB nunca foi uma instituição religiosa apenas, sempre foi uma instituição política. Como o Vaticano.