Editorial

A cena é aterrorizante: grupo de parlamentares ao lado do presidente da República sorrindo e fazendo o sinal de uma pistola atirando, no momento em que o chefe de Estado assinava o decreto que libera o porte de arma de fogo para várias categorias e segmentos da sociedade. Embora este governo não tenha uma cara nítida e consistente, esta é a mais fiel imagem do presidente da República, que parece disposto a transformar o Brasil num faroeste tropical. Em total desacordo com o Estatuto do Desarmamento, o decreto escancara as possibilidades de porte de arma de fogo, num país com grandes tensões sociais e elevados índices de violência. Além disso, autoriza o porte para políticos em exercício de mandato, advogados, oficiais de justiça, caminhoneiros, agentes de trânsito, entre outros, criando as condições para a explosão da violência no Brasil. E como autoriza o porte para colecionadores de armas e sócios de clubes de tiro, basta que o cidadão se matricule num desses clubes e registre a sua arma para poder circular armado pelas ruas das cidades. O decreto ainda libera a compra de até cinco mil munições anuais por pessoa, quase um arsenal privado de alto risco. Felizmente, o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, está pedindo um parecer técnico para demonstrar a inconstitucionalidade do decreto, e a base evangêlica do Congresso, normalmente bolsonarista, percebeu a irresponsabilidade da medida e se articula para forçar a sua retirada.  Em pouco mais de quatro meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro e sua “entourage”, com destaque para os filhos neuróticos, limitam-se às sistemáticas e permanentes agressões contra o “fantasma do comunismo”. Excetuando a proposta de Reforma da Previdência e as medidas de liberalização da economia que, quase como um governo paralelo, avançam apesar do Presidente, o governo Jair Bolsonaro é um desastre político e social,  e uma ameaça ao futuro do Brasil.