Bolsonaro despertou o movimento estudantil. Anestesiada ao longo dos governos do PT–Partido dos Trabalhadores, a UNE levantou-se esta semana, junto com os professores, numa grande mobilização de dezenas de milhares de pessoas nas grandes cidades, instigadas pelos gestos arrogantes e pelas falas grosseiras do Presidente da República e do seu ministro da Educação. A bandeira dos movimentos docentes e estudantis foi o combate ao corte no orçamento das Universidades anunciado pelo governo, mas a principal motivação foi o discurso do ministro Abraham Weintraub, anunciando o corte como uma punição a três universidades acusadas de “balbúrdia”. Com as manifestações nas ruas, o presidente Bolsonaro jogou gasolina na fogueira da indignação social, chamando os manifestantes de idiotas. Quem é idiota, afinal? Os manifestantes, que aproveitam os deslizes agressivos dos governantes? Ou os que fornecem, de graça e sem graça, os argumentos mobilizadores de estudantes e mestres? A crise fiscal é muito grave, e obriga o governo a apertar o cinto, reduzir gastos e promover um arrocho orçamentário. Mas a educação deve ser a última função orçamentária a ser sacrificada na tesourada do governo. E, mesmo se fosse inevitável o corte na educação, o impacto político teria sido mínimo se, em vez de usar argumentos debochados e discriminatórios, o ministro tivesse convocado os reitores para expor o problema e negociar os ajustes. Mas, para isso, o ministro teria que ser outro. E o presidente também. O certo é que uma conversa aberta e fundamentada sobre os problemas orçamentários teria evitado esta reanimação do movimento estudantil e docente. Mas parece que o governo gosta mesmo é de criar tensões sociais, como se precisasse despertar o inimigo, nem que fosse para poder gritar contra o chamado “marxismo cultural”. O curioso nas manifestações foram as faixas e cartazes contra a reforma da Previdência, sem a qual o Estado não vai ter mesmo mais recursos para manter os gastos públicos, inclusive das Universidades. E, no entanto, são exatamente os professores universitários, que têm aposentadorias especiais, os que protestam contra os cortes de gastos, ao mesmo tempo em que rejeitam a reforma da Previdência. Quem são mesmo os idiotas?
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Acho comovente o esforço insano que as pessoas de boa vontade fazem para dar a Bolsonaro o indulto da razoabilidade. Pois eu digo aqui na “Será?” o que sempre disse. Querer isto, é a mesma coisa que esperar que um quati aprenda trigonometria. Este homem é um ser desnaturado na essência, pobre coitado. Este homem não sabe o que é uma risada, um amigo, um drinque, um livro, uma música, um amor, uma dor, uma alegria, o remorso, a compaixão ou a largueza. É um mineral solitário de olhos clorofilados e um acervo de 16 frases prontas, não muito diferente do que têm os primatas na forma de se expressar. É uma proeza que tenha conseguido falar 11 minutos em Dallas num simulacro de português. Vive, não há dúvida, os piores dias de sua vida estreita e outros muito piores virão até a renúncia ou a tentativa de auto-golpe, que acho inevitável. Não adianta querer lhe atribuir – ainda que em devaneios do mais cândido “wishful thinking” – qualquer capacidade de mediar, arbitrar, entender, argumentar, negociar, motivar, criticar, enfim, do que quer que exija um mínimo de cabedal de cognição. Devemos à escumalha petista e a seu viés odioso de fazer política, a eclosão de tal aberração (perdão pela rima). Se lhe restou algum mérito, foi o de evitar que tivéssemos caído na esparrela da guerra civil, que era o que nos esperava se o candidato do PT tivesse ganho. No mais, é hora de cair na realidade. Os filhos desse senhor ainda vão lhe valer talvez os únicos desgostos que o aproximarão minimamente de um simulacro de humanidade, no sentido bem geral. Estamos em queda livre. Perdemos velozmente altitude e a água se aproxima. Resta ver se será um “nose diving” ou se poderemos amerissar de forma a não danificar toda a fuselagem, matando quem está a bordo. A desaceleração começou. As luzes do painel já piscam.
Bom Editorial, considerando que a situação com tanto idiota está difícil de resumir. Se pensarmos a cena do momento como parte de uma peça de teatro gongórica, o personagem central, o Presidente da República, homem de idas e voltas, tropeços, ainda é mais coerente que reitores, professores e altos funcionários a se manifestar ao mesmo tempo contra cortes e contra a reforma da Previdência.
Dourado, concordo com você: não há possível “indulto da razoabilidade” a Bolsonaro. É o que você muito bem descreveu. Ele refoge a qualquer enquadramento.
Abraço.