Há algum tempo se sabe que as células de um país são suas cidades. Nas cidades é que acontecem as tomadas de decisão das famílias e das empresas, o trabalho, o lazer, o estudo, a geração de riqueza, de cultura e as descobertas e inovações.
Diversos trabalhos acadêmicos vêm estudando as cidades com o intuito de tentar explicar seu desenvolvimento, sua ascensão e queda e até sua existência. A evolução da chamada “Urban Economics” acontece fortemente nas academias americanas e europeias, mas é praticamente um campo inexplorado no Brasil, um país que possui aproximadamente 85% de sua população morando nas cidades.
Antes concentrados os estudos nas escolas de arquitetura e urbanismo (architecture and planning), a ciência expandiu para o campo da economia e teve como seu grande expoente o livro “O Triunfo da Cidade”, de Edward Glaeser, professor da Universidade de Harvard. Nesse livro, o Professor Glaeser apresenta a cidade como a semente da inovação, da criatividade, da geração de conhecimento e riqueza. Mostra a importância econômica de uma cidade compacta e dinâmica contra uma cidade espraiada e com grandes custos de transporte (commute). Nele vemos a força dos centros, do foco no setor educacional e na atração de investimentos com taxas e impostos menores, e de profissionais mais qualificados.
Recentemente, um trabalho publicado pelo Banco Central Americano na Filadélfia e escrito por Gerald Carlino, do departamento de pesquisa do banco, e por Albert Saiz, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), foca o desenvolvimento das cidades além do fortalecimento de seu centro de negócios, mas a partir da retomada de um movimento do início do século XX nos Estados Unidos denominado “Beautiful Cities” ou “Cidades Bonitas” numa tradução livre.
Os pesquisadores então mostram que, além dos impostos mais baixos, das boas escolas, da tolerância e da liberdade, do sistema de transporte eficiente e do clássico tamanho do mercado, as cidades com atrativos de beleza, sejam arquitetônicos, naturais, de História, e oportunidades de diversão e culturais, têm crescido aproximadamente 10 pontos percentuais, em termos populacionais e geração de empregos, quando comparadas àquelas cidades que não os têm, nem investem no setor.
E nós? Como estamos? Vivemos em uma cidade com uma grande população, mas pobre, com uma infraestrutura escolar péssima e resultados nos testes internacionais desastrosos, uma carga tributária municipal alta e perversa, uma estrutura pública que gasta muito e mal, um sistema de transporte metropolitano sofrível, nossos pontos históricos precisando ser mais bem explorados e cuidados, e nossa praia suja e insegura. Não temos nenhum projeto de médio/longo prazo para a cidade, apenas emergenciais. A prefeitura apresenta ideias e projetos de assistência social, importantes e fundamentais para uma cidade populosa, pobre e cheia de desempregados como a nossa, mas não podemos ficar apenas na emergência. Precisamos de um projeto conjunto, de governo e sociedade, para desenvolver e enriquecer o Recife.
*Fortunato Russo Neto é Engenheiro Civil (UFPE) e Mestre em Economia e Finanças (EPGE/FGV)
Concordo plenamente com suas afirmações,cada dia que passa nossa linda cidade fica mais esquecida,lembrando que começamos como uma das capitanias mais importantes do Brasil.
Parabéns, ótimo artigo.
Excelente texto, Fortunato. Recife tem um incrível potencial de turismo a ser explorado. Temos história. Cultura. Sabores. Praias encantadoras. Poderíamos em pouco tempo inverter a chave, mas quebrar essa inércia…parece uma batalha de Davi e Golias. Parabéns e abraços
Que desanimador! Eu estou longe, mas não consigo acreditar que não haja algum exemplo positivo, alguns bolsões de excelência. Ás vezes vejo fotos tao lindas do Recife… E vocês estão mais perto da Europa, para atrair turismo.
Prezado Fortunato,
Tenho uma visão bastante simplória da cidade do Recife, apesar de aí ter pelo menos um dos pés e metade do coração. Mais parece uma cidade que tem dono, regida de A a Z pelos interesses pontuais do comércio, dos serviços e da construção. A dimensão humana da cidade, o corpo a corpo com suas massas que sacolejam em ônibus mal conservados e metrôs perigosos, parece ser objeto de ações cosméticas e paliativas.
Isso se aplica a Pernambuco como um todo. Está fora de dúvida que o finado Governador Campos queria dispor de líderes bem comportados e previsíveis. Exagerou na dose mesmo porque não contava morrer tão cedo. Abúlicos, seus designados – e falo aqui do Prefeito especificamente, mas também do Governador – consagram velhas liturgias para a televisão. Sobem o morro nas festas, fingem se esbaldar no Galo da Madrugada, vestem a camiseta de uma troça irreverente, inauguram uma ciclovia, e correm para puxar o saco da meia-dúzia que enfeixa metade do PIB do Estado.
Espantosamente (ou não deveria ser?) têm profundo apego ao cargo e se desesperam com a possibilidade de perdê-lo. O Recife semana passada tinha os mesmos pontos de alagamento de minha infância, meio século atrás. E os caras estavam falando de alianças, frentes e quejandos, em flagrante desrespeito aos governados que, ignorantes em sua imensa maioria, reelegem-nos. Não é que seja muito diferente em Alagoas ou no Maranhão. Mas eu não sou de Alagoas e sequer conheço o Maranhão. Precisamos olhar para frente e trabalhar com o horizonte de 2060 para trás.
Abraço,
Fernando
Prezado Fortunato.
Ótimo texto. Enquanto nossos governantes continuarem com a prática da política populista, com foco na perpetuação do coronelismo urbano, vamos andando do “CAOS A LAMA E DA LAMA AO CAOS”…
Pobre Recife…