Fortunato Russo Neto*

Parece inacreditável como entra século e sai século e as medidas tomadas por governos de diversos países que enriqueceram ou empobreceram só mudam seu local na linha do tempo. Do século XI ao século XVI as cidades-estados do norte italiano dominaram a economia, a política e a cultura mundial. O comércio internacional era o “motor do crescimento” italiano. Fornecia os materiais brutos vindos de todas as partes do mundo conhecido para serem transformados e reexportados. Veneza, de tão importante, era conhecida como o “quinto elemento” da natureza.

A partir do século XVII houve uma mudança no sentido dos produtos. Começaram a entrar os produtos manufaturados e a sair os produtos brutos italianos. Não foi meramente um equilíbrio “ricardiano” das vantagens comparativas. Veremos adiante. No longo prazo, o comércio internacional acentuou a queda italiana.  O capital e o trabalho mudaram dos setores secundário e terciário para a agricultura e a pecuária; redução do número de profissionais capacitados e de empresários; aumento da pobreza e fortificação da nobreza (!!). A nobreza firma sua posição econômica, social, política e administrativa.

E o que levou  uma economia que era o centro do mundo durante seis séculos a tornar-se subdesenvolvida quando comparada às novas potências Inglaterra e Holanda? De acordo com Carlo Cipolla, historiador italiano, em seu magnífico “Before The Industrial Revolution”, três fatores ocorreram. Em primeiro lugar, o controle excessivo das guildas, ou corporações, que coagiam os fabricantes italianos a continuar usando seus métodos obsoletos de produção e organização. As associações impediam a concorrência entre seus integrantes, constituindo um grande obstáculo às inovações tecnológicas e organizacionais. Em segundo lugar, a tributação perversa e excessivamente alta.  E finalmente, o descompasso entre os salários pagos na Itália quando comparados aos salários dos países concorrentes. Devido à existência das fortes corporações, os trabalhadores passaram a exigir salários maiores, ligados ao aumento do preço dos produtos. Se o aumento dos salários fosse proporcional ao aumento da produtividade, talvez os produtores italianos não tivessem sofrido tanto com a concorrência dos rivais.

Séculos depois, aqui no Brasil, assistimos ao excesso de tributos,  cobrados de forma perversa da sociedade, à desindustrialização, e a gente desqualificada para atender à nova economia. (Em 06 de maio de 2019, o Estado de São Paulo traz a seguinte manchete: Em um país com 13% de desempregados, sobram vagas na área de tecnologia”). Sofremos o efeito da chamada “Nova Matriz Econômica”, que de novidade nada trouxe, a não ser dívidas, incentivando a produção de navios, automóveis e outras indústrias velhas, financiadas com dinheiro dos impostos pagos pelo resto da sociedade, e salários que subiram além do aumento da produtividade brasileira durante anos. A desregulamentação é fundamental, o foco no investimento em educação e inovação, o empréstimo e o incentivo às industrias nascentes, a redução dos gastos do Estado e a formação de instituições políticas e econômicas inclusivas e atuantes, inclusive no sentido de tornar o país cada vez mais tolerante às diferenças, uma das principais causas do desenvolvimento de uma sociedade.

*Fortunato Russo Neto é Mestre em Economia e Finanças pela EPGE/FGV.