Alvo do maior escândalo de corrupção do país, consequência máxima do chamado crony capitalism, ou numa tradução livre, “capitalismo de compadrio”, a construção civil brasileira sofreu sua débâcle. Em parte, pela saída de cena de grandes players nacionais, sua redução de tamanho, suas recuperações judiciais ou falências e as consequentes prisões de seus comandantes. Em parte por uma política econômica maluca que começou no segundo governo Lula, quando este declarou, com mais uma frase rasa que lhe é comum, que a crise internacional seria “uma marolinha” no Brasil. No início, com os investimentos feitos pelo governo, o país segurou o crescimento e, além dos investimentos públicos, fomos ajudados pelo dólar desvalorizado internacionalmente, o que segurou a inflação no Brasil, e também pelas exportações de commodities, demandadas principalmente pela China, em um ciclo de alta que se iniciou em 2003, ano do primeiro ano do governo Lula, e foi até 2011, primeiro ano do governo Dilma.
A partir daí, o que se viu foi o país “descer a ladeira sem freios”, espatifando-se finalmente no impeachment da presidente, devido às suas “pedaladas” fiscais, em uma falta de compromisso com o Orçamento e com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Vivemos desde então um ano após outro de crise, o país atingiu mais de 13 milhões de desempregados, o governo, completamente asfixiado, precisando fazer as diversas reformas de uma só vez, para soltar as amarras da nação. Inicialmente com a reforma trabalhista no governo Temer, e agora com a reforma da previdência, o país começa a se preparar para uma mudança institucional. O foco na reforma do funcionalismo público é fundamental. Não dá para um país ter incentivos tão diferentes para a sua população. A implantação da simplicidade tributária já é um avanço, mas o ideal seria a redução da carga de impostos. Para sustentar a “festa”, ou se aumentam os impostos, ou se reduzem os gastos. A primeira opção não cabe mais.
Reformas microeconômicas são fundamentais, para eliminar legislações tributárias complexas, em que as empresas gastam mais tempo e dinheiro preocupadas em não serem multadas do que investindo e trabalhando, em uma redução incrível de sua produtividade. Aliás, essa é a palavra que a sociedade deve perseguir: produtividade. E ela só aumenta com instituições fortes, que respeitem sua posição. A começar pelos três poderes da república, a manutenção dos contratos, o afastamento do estado da vida dos cidadãos, redução de controle, liberdade para empreender, uma mudança na atuação das agências reguladoras, abandonadas nos governos do PT e transformadas apenas em agentes de reajustes de concessionárias.
E finalmente, para fechar a equação, o tão batido investimento em educação. A componente produtividade precisa fundamentalmente da parcela educacional. Hoje há uma forte corrente da retomada dos investimentos em construção, com a justificativa da geração de empregos imediatos. Seja através de investimentos públicos (com que recursos?) ou através de privatizações ou concessões. Sabe-se que é preciso gerar emprego, colocar comida na mesa, pagar as contas atrasadas. Assistimos ao mundo do subemprego no país. Apesar da corrente de investimentos em construção, para se tentar uma geração de empregos no curto prazo não se pode deixar de pensar mais adiante. É de uma mesquinhez enorme pensar no futuro, gerando-se empregos de baixa formação no presente. Mata-se a fome agora. E o futuro, só no futuro.
Lamento dizer que não entendi bem quais são as propostas concretas para o futuro. Quais reformas tributária e administrativa? O governo ainda não enviou ao Congresso suas propostas nessas áreas.
A tributária será próxima a do Appy. Simplificando, mas não reduzindo carga. A administrativa focada na mudança dos contratos do funcionalismo. Para enriquecer é preciso focar na produtividade e não no capital. E isso só com instituições e educação. E não adianta apenas focarmos em geração de emprego a qualquer custo. Empregos baratos e de baixa produtividade. Pode resolver o curtíssimo prazo, mas não resolve o futuro.