Quando a Polícia Federal entrou no Palácio Guanabara e apreendeu o computador e o telefone celular do governador Wilson Witzel, o Presidente da República parabenizou a instituição policial e comemorou a afronta ao seu desafeto. Entretanto, quando o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, pretende apreender o seu próprio celular, o Presidente da República e alguns militares do seu governo ameaçam com uma ruptura institucional. E quando a mesma Polícia Federal faz uma operação para aprofundar a investigação sobre as chamadas “fake news”, que objetiva desestruturar a fábrica de mentiras da “milícia digital” do bolsonarismo, Bolsonaro volta a ameaçar com a quebra do equilíbrio institucional. Este se apresenta como um grande defensor da liberdade de expressão, que estaria sendo desrespeitada pelo ministro Alexandre de Morais, do STF, ao autorizar a operação policial.
A mentira, senhor presidente, a distorção dos fatos e a propagação de boatos infundados, para benefício pessoal ou partidário, constituem a maior ameaça à democracia. O que diferencia a imprensa desta máquina organizada de falsificação é a apuração dos fatos, a escuta dos interessados e envolvidos na informação, é o teste e a busca de comprovação da verdade.
A liberdade de expressão permite a propagação de opiniões divergentes e contrapostas, a crítica dos governos e das instituições. A montagem de uma rede orquestrada de difusão de mentiras e provocações não se enquadra no conceito de liberdade de expressão, principalmente quando difunde o ódio a pessoas e instituições, quando confunde a opinião pública e induz a mobilizações fanáticas e, ainda pior, a agressões físicas a qualquer possível adversário.
Mais ainda, quando tenta intimidar a imprensa e dificultar a cobertura dos fatos e sua divulgação. Esta sim, é uma grande ameaça à democracia, e não a investigação dos propagadores da mentira e do ódio. O Presidente da República e seu filho, Eduardo Bolsonaro, estão dando sinais claros de que se preparam para uma ruptura institucional. O deputado Bolsonaro não poderia ser mais explicito na sua intenção de quebra das estruturas democráticas, quando afirmou que “não é mais uma questão de SE, e sim de QUANDO vai haver essa ruptura”. Será que os brasileiros vão se calar diante destas ameaças? E será que as Forças Armadas embarcariam numa aventura golpista, para dar poderes ditatoriais ao mentecapto Jair Bolsonaro?
Editorial certo para o momento. Meus “instintos” (no sentido de Daniel Kahneman) me dizem que o perigo maior para a democracia no atual momento não é golpe militar, vindo das Forças Armadas, e sim a pretensão do Presidente Bolsonaro de armar seus milicianos e dar a eles direitos especiais de difundir “fake news”. O perigo é este Messias populista que temos na Presidência pretender copiar o caminho que trilhou Hugo Chavez depois que foi re-eleito em 2006, um misto de “parlamentarimo das ruas”, criação de milicias, e “invasão” lenta e gradual da máquina administrativa, do Judiciário e do Congresso.