Muitas pessoas acharam um absurdo Sara Winter e seus 300, que na verdade eram 30, permanecerem tanto tempo acampados na Esplanada dos Ministérios com barracas, tochas e armas fazendo cosplay da SS e pregando o fim do Congresso Nacional. Eu espero, porém, sinceramente, que essa mesma indignação tenha se manifestado quando foices e martelos se levantaram contra as instituições no período em que o ex-Presidente Lula esteve na prisão. Pois os 300 de Winter e os companheiros e companheiras do ex-operário mostram que ele e o mito estão muito mais próximos nas suas práticas políticas do que poderíamos imaginar. Ambos possuem, cada um a seu modo, exércitos dispostos a combater com unhas e dentes qualquer um que ouse atacar seus líderes ou questionar seus princípios e estratégias de dominação política.
Desde os protestos de 2013 o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que alguns insistem em chamar de golpe, os extremos começaram a se organizar nas redes sociais destilando ódio e desinformação, além de atacar reputações de adversários políticos ou de anônimos, papel esse exercido anteriormente pelos Haters e hoje quase que exclusivamente pelos Bots da Internet. Com o tempo, os grupos mais extremistas perceberam que poderiam esticar cada vez mais a corda, como costumamos dizer , gerando tensões no debate, o que fez com que a barbárie e falta de civilidade produzissem tragédias cotidianas na nossa jovem democracia. Conseguimos chegar ao ponto em que uma militante se acha no direito de chamar um ministro do STF para a troca de soco, e pessoas simulam um bombardeio à Suprema Corte, como se essas fossem as coisas mais normais do mundo.
Para não ser acusado de proselitismo político, devo lembrar das invasões promovidas pelas entidades estudantis e da destruição de lavouras de laranja em São Paulo por parte de movimentos de trabalhadores do campo .
Tanto o Lulopetismo inflamado, que se nega a dialogar com a própria esquerda, quanto o Neo Conservadorismo Tupiniquim Bolsonarista, que protestava contra o kit gay nas últimas eleições, possuem métodos muito parecidos na construção de sua práxis política. Apesar de se xingarem constantemente no Twitter, parecem ter o mesmo ódio às instituições e às regras do jogo democrático. Talvez o pior disso tudo é que os bolsominions que querem o fechamento do congresso e os lulopetistas que querem formar uma frente ampla apenas com o partido dos trabalhadores (PT) não conseguem sequer dar um simples bom dia para quem está do outro lado.
Xingamentos, ameaças , fakenews e agressões físicas se tornaram uma unanimidade no debate político e, todos aqueles que, de alguma forma , não se utilizam desses métodos baixos são atacados de forma covarde por ambos os lados, parecendo que querem disputar quem é o mais opressor . Diante deste cenário, faço uma analogia dos dois líderes populistas Bolsonaro e Lula com o do Deus romano de duas faces Jano. Esse Deus está associado aos ritos de Ano Novo, cujo nome dá origem ao primeiro mês do nosso calendário. O Deus do autoritarismo tem duas faces: do lado esquerdo, Lula e a frente ampla, que não avança por causa do golpe; e do lado direito, Bolsonaro e o combate ao Globalismo e marxismo cultural pregado por Olavo de Carvalho. Espero que possamos fazer o mesmo que Kratos fez com os seus deuses, ou teremos um futuro frio e sombrio similar ao Ragnarok da mitologia Nórdica.
Ralph Oliveira – Jornalista e ativista político, membro do movimento Centrismos.
@Ralph_atbm
Parabéns pelo artigo, explicitou muito bem o que queria dizer utilizando a mitologia greco-romana. Ótima analogia.
É preciso romper a polarização entre o lulopetismo e o bolsonarismo, os quais se nutrem reciprocamente.
muito bom o texto