O Brasil está perdendo (ou já perdeu?) a guerra contra o crime organizado. Narcotraficantes e milícias já têm o domínio quase intransponível de territórios em algumas cidades, como no Rio de Janeiro e na Bahia, apenas para citar os casos mais dramáticos. Estima-se que 25% da população do Grande Rio vive em territórios controlados pelo crime organizado, como um Estado criminoso, autocrático e extorsivo, impondo o poder às comunidades. Tudo indica que a população destas comunidades prefere continuar sofrendo a dominação violenta dos bandidos a padecer as consequências dolorosas dos conflitos armados entre as forças policiais que, teoricamente, representam o Estado, e os exércitos do crime organizado, o pânico e, mesmo a morte dos cidadãos. 

É evidente que a violência tem causas mais profundas que apenas o comércio das drogas e a atuação das milícias na extorsão das comunidades. Claro que a penetração e a dominação das comunidades pelo crime organizado é o resultado de uma crise estrutural da sociedade, e da ausência do Estado na oferta de serviços públicos, especialmente educação. Cerca de 36% dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham, ociosidade que os torna vulneráveis às drogas e ao crime. E entre os que estudaram, apenas 8% dos que concluíram o ensino médio alcançaram proficiência em matemática, o que os torna totalmente despreparados para o mercado de trabalho. 

Esta é, na verdade, a principal guerra que Brasil está perdendo, e que abre as portas para o crescimento do crime organizado. Para avançar neste terreno são necessários grandes investimentos e muito tempo de maturação, além de medidas emergenciais para ocupar os jovens “nem-nem” e protegê-los dos atrativos criminosos. Enquanto isso, o crime avança e o Estado e a sociedade parecem anestesiados, acordando apenas em alguns momentos, chocados com eventos assustadores de grande violência urbana e ousadia do crime organizado, como os 60 mortos na Bahia, o confronto entre facções criminosas no Rio de Janeiro, bombas jogadas num ônibus por assaltantes, e as cenas da escola de guerrilha das organizações criminosas no Complexo da Maré. As autoridades despertam da apatia porque precisam dar uma resposta à sociedade, lançam planos de enfrentamento do crime organizado, com as medidas de sempre e com recursos de menos. Até que os eventos caiam no esquecimento e a violência torne-se rotina. E tudo volta ao (a)normal. “E la nave va!”