Recorte do mural Guerra e Paz, sede da ONU  – Portinari.

 

No meio de um desastre sanitário sem precedentes – 350 mil mortos, fila de espera por leito de UTI, suspensão de vacinas em alguns Estados, escassez de oxigênio e esgotamento do estoque de medicamentos indispensáveis para intubação de pacientes graves do Covid 19 – o presidente da República não governa, atrapalha e agride quem tenta governar, provoca conflitos federativos e institucionais e, ainda por cima, ameaça “tomar providências” contra decisões do Supremo Tribunal Federal que estariam levando ao limite.

Como costuma fazer cada vez que abre a boca, o presidente Jair Bolsonaro voltou a falar de crise institucional, dizendo que “o Brasil está no limite” e que “tem um barril de pólvora por aí”, que iria levar a uma crise enorme daqui a pouco. Sem explicitar de que se trata, Bolsonaro afirmou que “o pessoal fala que eu devo tomar providência, eu estou aguardando o povo dar uma sinalização”, levantando três perguntas incômodas: “Que pessoal é este que o aconselha, presidente?”, “Que providências defendem?” e “Que sinalizações o senhor está esperando do povo?”

Pelo histórico político e pelo diagnóstico psiquiátrico do presidente, ficam evidentes suas pretensões golpistas para as quais precisa de algum nível de comoção social que justifique um estado de sítio ou manobra parecida. Ele não sabe governar e não tem nenhuma disposição de lidar com os problemas econômicos e sociais, e não suporta conviver com regras democráticas de decisão.

No seu último pronunciamento, ele falou da fome, da miséria e do desemprego do Brasil, como se não tivesse nada a ver com isso, como se não tivesse responsabilidade pelo destino do país. No fundo, Bolsonaro move-se por um impulso psicótico de agressões e ameaças, estímulo ao ódio e ao conflito social e político e desmonte de valores e instituições. Bolsonaro está destruindo o Brasil em todas as áreas de atuação, do meio ambiente à educação, potencializando o efeito devastador da pandemia, e desestabilizando as regras democráticas. Quando o presidente se sente acuado e isolado, como agora, existe um grande risco de que ele embarque numa aventura golpista, mesmo que não conte com apoio das Forças Armadas e da esmagadora maioria dos brasileiros.