No meio das apresentações de trapezistas e malabaristas, o palhaço tocou fogo no circo. Vestido de verde e amarelo, o empresário que enche suas empresas de Estátuas da Liberdade (seguindo o seu líder, que presta homenagens à bandeira norte-americana), o palhaço tentava mostrar o patriotismo que, no dizer do escritor inglês Samuel Johnson, é “o último refúgio dos canalhas”. 

O patriota não é um canalha, mas os canalhas utilizam o patriotismo para manipular a opinião pública e esconder seus inconfessáveis interesses. A CPI da Covid, importante espaço de denúncia das barbaridades do governo Jair Bolsonaro diante da pandemia, tem gerado um grande debate nacional, e demonstrado o descaso do presidente da República com a vida dos brasileiros. Mas, convenhamos, a CPI vinha servindo como um palco para o exibicionismo de vários atores circenses, preço que se paga pela enorme visibilidade das reuniões e dos temas abordados. 

Com a sua participação espalhafatosa, a começar pela vestimenta grotesca, o senhor Luciano Hang tentou desmoralizar a CPI, mas terminou por reforçar as suspeitas de propaganda do tratamento preventivo da Covid-19 com medicamentos sem eficácia e com risco à saúde (o chamado kit-Covid), como também do financiamento de grupos de propagação de fake news e de estímulo à contaminação do vírus. 

Com certa ironia, o empresário se disse favorável à vacina, mas insistiu que não tinha tomado o imunizante porque, repetindo o argumento utilizado por Bolsonaro quando desmoralizado por Boris Johnson, teria “altíssimos níveis de anticorpos”. A palhaçada dessa sessão com o empresário bolsonarista confirma a opinião de vários senadores que eram contrários à convocação do empresário, porque previam a cena e já teriam documentos suficientes para a denúncia. 

Em todo caso, se algumas vezes a CPI escorregou para outros temas fora dos seus objetivos, o interrogatório do senhor Hang a trouxe de volta à questão central: o crime cometido pelo presidente da República contra a vida dos brasileiros, atrasando a vacinação, tentando desqualificar o poder de imunização da vacina, divulgando os falsos medicamentos, dificultando as quarentenas, enfim, apostando na chamada imunização de rebanho, que cobraria milhões de vítimas. Falta agora o relatório.