Guilherme Robalinho foi, antes de tudo, um humanista. Como médico, político e gestor público, sempre pensou, formulou, discutiu e agiu orientado pela dignidade e pelo bem-estar humanos. O humanismo e a busca pelo conhecimento científico foram a marca da sua relação com o mundo, como registram alguns dos que o conheceram e com ele conviveram, e deixam aqui o seu depoimento.
Robalinho foi um dos melhores aglutinadores de minha geração de militantes políticos em Pernambuco. Sempre disputou, apoiou, fez oposição sem romper o diálogo e os laços de amizade. E foi um médico responsável, com militância política ativa. Neste cenário de extremismo, Robalinho não apenas parte, ele deixa um vazio.
Cristovam Buarque
Robalinho foi um personagem muito importante para o sistema de saúde em Pernambuco. No período em que era professor da Faculdade de Medicina da UFPE, teve destaque na sua especialidade, Gastroenterologia. Talvez tenha sido um dos primeiros a destacar a área psicossomática na medicina do Estado. Como gestor da saúde, implantou os Distritos Sanitários no Recife, o Centro de Zoonoses, deu outro destaque à Epidemiologia e à Vigilância Sanitária, e estruturou o Controle e Avaliação na Secretaria de Saúde do Recife. Criou o SOS Recife, que depois veio a ser transformado no SAMU.
Na sua gestão na Prefeitura do governo Jarbas Vasconcelos, soube dar liberdade de ação para seus colaboradores, com decisões definidas por um colegiado. Era uma “usina de ideias”, o que pude constatar nas inúmeras reuniões das quais participamos. Já como Secretário de Saúde do Estado, contribuiu decisivamente para a manutenção do LAFEPE como laboratório do Estado, em um momento em que muitos tentavam privatizá-lo. Investiu nessa época 17 milhões, com apoio do Governo Federal, implantando novo “chão de fábrica“ com áreas de medicamentos voltados para combate à AIDS.
Agradeço a ele e a Ruy Pereira as oportunidades que tive de participar do processo de construção do SUS em Pernambuco. Não posso deixar de destacar que nos anos de chumbo no país, em 1973, nos acolheu (a mim e outros estudantes) para dormir em sua casa, quando a polícia política estava prendendo estudantes do diretório acadêmico de medicina. Descanse em paz.
Tito Lívio de Barros e Souza.
Entre caminhos tortos
Robalinho era um anjo reto.
Entre amigos certos
Robalinho nunca me faltou.
Médico, conselheiro, parceiro da política de convivência.
Conheci Robalinho no Recife há quarenta anos.
Atravessamos o Janga. O estio. E o outono. Jornada infinda.
Luiz Otávio Cavalcanti.
Nos sete anos em que convivi com Guilherme Robalinho no Secretariado do Governo do Estado sempre admirei a sua quase obsessão de ver a saúde, primeiramente, pelas suas causas sociais. Sempre preocupado com as necessidades da maioria da população. Essa concepção ele traduzia muito bem no Programa “Governo nos Municípios”. Em todos os módulos do Programa, ele participava e levava toda a equipe para – tanto nas Plenárias, como nas Câmaras Temáticas – explicar aos Prefeitos, aos movimentos populares e à sociedade em geral a importância do SUS, dos Agentes de Saúde e dos cuidados sanitários para a saúde e longevidade da população. Geralmente ele ia na direção contrária às reivindicações mais comuns, que eram o financiamento de novos equipamentos, para orientar sobre as causas reais dos principais problemas de saúde da maioria da população. Impressionava como Robalinho tinha o sentimento geral da responsabilidade e do papel do Estado, não ficando apenas nas questões que diziam respeito à Saúde.
José Arlindo Soares
Guilherme Robalinho, além de médico reconhecidamente competente, foi gestor público visionário e pessoa de fino trato pessoal. Ele também se destacou pela sua consciência e ação política. Teve uma militância política lúcida e qualificada. Como médico foi um grande defensor do SUS, tendo também inspirado políticas públicas na área da saúde que trouxeram grande benefício para Pernambuco e os pernambucanos. Foi meu companheiro de secretariado na gestão de Jarbas Vasconcelos como Governador do Estado, solicitava recursos sempre com bons projetos e argumentos convincentes. Deixou legado respeitável como médico, gestor e cidadão politicamente ativo.
Jorge Jatobá
Falar de Robalinho é falar de uma pessoa que guiou sua vida, como médico, movida por profundo senso de humanismo. Tanto na vida pública, como no contato individual com seus clientes. Tive o privilégio de ser seu cliente e amigo, assim como vários membros da minha família. Era o médico da família e que, em momentos cruciais, como quando identificou um aneurisma de aorta em meu sogro, de forma surpreendentemente precisa, nos orientou com o equilíbrio, mas também com a franqueza profissional necessária para aquele momento. Sempre que ia fazer os checkups periódicos, minha consulta tinha o tom agradável de longas conversas sobre a política, um componente fortíssimo na sua formação, desde o tempo de universidade. Nosso último encontro se deu em debate, via “live”, onde nos apresentou, em meio à pandemia, sua participação e de muitos outros médicos e políticos na criação do SUS.
João Rego
Em agosto do ano passado, no auge da pandemia de Covid-19, Robalinho fez uma “live” organizada pelo Movimento Ética e Democracia sobre o Sistema de Saúde no Brasil – contradições e necessidades de reformas, quando fez uma defesa contundente do SUS-Sistema Único de Saúde, que ajudou a construir, e uma crítica fundamentada do sistema de saúde privado, controlado por “lobbies” da indústria farmacêutica e de equipamentos, e dos grupos privados de diagnóstico. Nesta palestra, Robalinho critica as distorções do sistema privado de saúde, que tem gerado exageros de procedimentos, para viabilizar o retorno dos investimentos realizados, sem qualquer planejamento. (Para acompanhar a palestra de Robalinho, clique no link https://www.youtube.com/watch?v=zv91pxiq5cc)
Não poderia haver classificação mais justa: HUMANISTA. É o que ele foi, essencialmente.
Nosso conhecimento datava do movimento estudantil, quando ele era vice-presidente da União dos Estudantes de Pernambuco e eu vice-presidente da UNE. Depois disso, só tivemos breves encontros. Como quando o encontrei convalescendo do grave acidente que sofreu em viagem de carro pela Rio-Bahia, em que ficou horas desacordado, antes de ser socorrido, e afetou, parcialmente, o movimento de uma das suas pernas. Mas sempre acompanhei sua trajetória de profissional e cidadão: competente, consciente, engajado, cordial, solidário. Como o afirmam todos os que o conheceram e aqui deixaram seus depoimentos.