Decaying house by Michal Matczak.

 

Com a popularidade em baixa e ameaçada pela crise econômica que deve se aprofundar no ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro recorre à fórmula mais conhecida do populismo: abertura dos cofres públicos para ampliação dos gastos. Tinha uma pedra no meio do caminho: a norma constitucional que define um teto para os gastos públicos, obrigando a manter o valor total do orçamento aprovado em 2016 (corrigido pela inflação). Esta pedra, introduzida na Constituição em 2016, é uma muralha contra o populismo e a gastança de governantes cujo sucesso político depende da irresponsável distribuição de renda e favores eleitorais. 

O último recurso eleitoral do presidente é o aumento dos benefícios com o chamado Auxílio Brasil (que substitui o Bolsa Família) e a criação de um adicional justo até o final do seu mandato. Ninguém pode negar a necessidade de ajuda social aos milhões de brasileiros vítimas da crise econômica e social, mesmo sabendo que a recente generosidade de Bolsonaro tem claras intenções eleitorais. Não se pode, contudo, aceitar o rompimento do teto de gastos sob o risco de liberação da fúria gastadora dos populistas, deste e do que poderá vir depois. 

Para conceder o auxílio sem romper o teto de gastos, o governo teria que tirar recursos de outra rubrica, e a equipe econômica, ignorada pelo ministro Paulo Guedes, tinha várias propostas na mesa, incluindo a redução dos recursos do Fundo Partidário e Eleitoral e das emendas parlamentares, ou a suspensão da dedução de impostos sobre despesas de saúde, que poderiam gerar R$ 20 bilhões. Bolsonaro não quer, e o Centrão não deixa, porque são recursos para compra dos políticos, e porque temem perder a simpatia da classe média e alta, e da corporação médica. Resta a manobra orçamentária que rompe o teto de gastos, abrindo a porteira para o populismo e provocando graves consequências políticas e econômicas. A estagflação (combinação perversa de estagnação e inflação) será um alto preço que os brasileiros terão que pagar por mais esta irresponsabilidade de Bolsonaro. O troco será dado nas urnas, em outubro do próximo ano.