A democracia brasileira foi salva por muito pouco. São muitas as evidências de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas prepararam um golpe de Estado no apagar das luzes do seu desastrado e desastroso governo. Por trás do estranho silêncio após a confirmação da derrota eleitoral, o ex-presidente escondia uma intensa conspiração para impedir a posse de Lula da Silva, legitimamente eleito presidente da República, conspiração que parece ter fracassado porque Bolsonaro não conseguiu o apoio político e, principalmente, militar para a assinatura do decreto de Estado de Defesa. O decreto estava pronto para a assinatura do presidente, o que demonstra a minuta encontrada na residência do ex-ministro bolsonarista Anderson Torres, determinando uma intervenção direta no TSE-Tribunal Superior Eleitoral que deveria manipular e alterar o resultado das urnas em favor de Jair Bolsonaro. Desta forma, pretendia impedir a posse de Lula da Silva e impor a permanência de Bolsonaro no poder, violentando o processo eleitoral democrático e transparente. 

O golpe de dezembro fracassou. Bolsonaro não conseguiu a adesão e foi embora para Miami, o presidente Lula tomou posse com grande mobilização social e ampla simpatia internacional, mas a conspiração golpista continuou preparando novas investidas contra a democracia. A invasão violenta e destrutiva das três instituições da república democrática por delinquentes bolsonaristas, no dia 8 de janeiro, foi uma segunda tentativa, também frustrada, de atrair as Forças Armadas para uma aventura golpista. A condenação pela comunidade internacional e a reação de todas as forças políticas do Brasil e das instituições, incluindo todos os governadores de Estado, expressa, de forma emblemática, na descida coletiva da rampa do Palácio do Planalto, deu mais força à democracia brasileira e deve isolar os grupos extremistas da esmagadora maioria dos eleitores de Bolsonaro. Mesmo fortalecida, a democracia corre riscos enquanto não for desmontada a rede de conspiradores bolsonaristas na estrutura de poder e, particularmente, nos estamentos militares.