Em 7 de junho de 2019 publiquei um artigo nesta Será? intitulado “Qualquer semelhança não é mera coincidência”. Naquela ocasião fiz um comparativo da queda da economia italiana, a maior do mundo do século XI ao século XVI, com cidades-estados pujantes. Mostrei sua queda devido às decisões de políticas econômicas e institucionais erradas, o que abriu espaço para o crescimento de potências tais como a Inglaterra e a Holanda. Trouxe medidas que levaram à derrocada italiana, mutatis mutandis, eram muito similares ao que estávamos assistindo no Brasil e muita coisa nesses dois anos não mudou.

Dessa vez não precisarei voltar tanto no tempo. Talvez apenas alguns anos no governo petista de Lula II (2007-2010) e Dilma I (2011-2014). Dilma II não merece comentários. Foi a coração da catástrofe. Antes que os amantes de Lula falem do primeiro governo (Lula I), adianto que fez o que devia fazer. Continuou com a política “neoliberal” do PSDB, e foi logo tachado de gênio por seus fãs. Criou o “Fome Zero” e foi um fracasso. Quase que se perde com o mensalão, mas escapou graças à oposição. Tomou forças para terminar bem o governo e ser reeleito até que começou, a partir de 2008, a fazer sua própria política e assim se deu início às trevas.

O mundo vivia uma crise sem precedentes, que atingiu em cheio as economias avançadas. A crise da bolha imobiliária americana em 2008, quando os títulos podres de seu mercado estavam nas mãos de milhões de investidores embalados e misturados com títulos bons, ameaçando inclusive as aposentadorias de americanos e cidadãos de outras nacionalidades ao redor do planeta. Uma crise gerada pelos mercados financeiros que bateu às portas da economia real e tal como em um castelo de cartas prometia derrubar as economias uma atrás da outra. Crise que fez o governo americano virar acionista de bancos e fábricas de automóveis, embora depois tenha vendido suas ações ao mercado privado assim que a crise foi debelada. Fosse isso no Brasil, o governo teria nomeado de imediato alguns “parceiros estratégicos” para cargos no conselho da empresa, ganhando altos salários e é claro contribuindo com uma parte gorda de suas retiradas para o partido. Sem esquecer que jamais essas ações voltariam para o mercado. Ficariam lá dentro do BNDESpar.

Já é mais do que sabido, mas não custa repetir, que nosso líder à época com suas declarações, comparativos e metáforas estapafúrdias, tomou medidas que inicialmente foram corretas para que a crise fosse contida (no início era uma “marolinha” e que não iria “cruzar o atlântico”!), mas o sabor da intervenção e do estado gordo é muito bom.  Ao invés de parar e sair do mercado como fez o governo americano, nosso líder-mor continuou despejando dinheiro nas empresas privadas através do BNDES e seus coirmãos, e aumentou os tentáculos das estatais e das empresas “parceiras”.

A continuação já se sabe. Dilma Rousseff foi eleita e reeleita. A continuação do governo dos petrolões e mensalões a que o populismo fez questão de dar vitória. Pobre povo pobre. Que é obrigado a pensar com o bolso no imediatismo. E é correto pensar assim. A fome faz a barriga doer. Dilma fez um primeiro governo desastroso e maquiado quando demonstrou toda sua incompetência em decidir e em escolher assessores, com sua contabilidade criativa e sua “nova matriz econômica”, jogando o país na maior crise de sua história. Sofreu um impeachment e quando se pensava que seu vice-presidente iria terminar bem o governo, tivemos o fatídico “Joesley Day”, e quase todo o capital político do presidente Temer foi gasto para sustentá-lo no poder, em vez de ser aplicado na continuação das reformas de que o país precisava.

De uma política intervencionista, de um estado inchado, elegeu-se um presidente que se posicionou no outro ladro do espectro político, pregando redução do estado, privatizações e o combate à corrupção tão explicitada pela Operação Lava Jato, quando milhões de reais desviados foram devolvidos aos cofres públicos. O mundo mergulhou em uma pandemia e o que se viu não foi um líder, mas um sujeito beligerante, que não desceu do palanque nenhum minuto de seu governo, defendendo seus familiares e suas “travessuras”, convocando as multidões para  o seguirem como num tanger de gado. Aquelas promessas eleitorais não foram cumpridas. Não se viu privatização alguma. Uma gestão maluca e disfuncional. Um “Posto Ipiranga” que mais parece uma borracharia de quinta categoria. Todo dia se acorda sem saber que “lambança” o presidente fará. E assim como o outro lado, com seus zumbis de estimação, em que “Pai Lula” é considerado a salvação, e que de salvação não tem nada. É simplesmente a representação do atraso, do esquema, dos favores e do fisiologismo. O último capítulo da proximidade entre os dois extremos foi o furo do teto pelo governo atual. Totalmente populista e eleitoreiro, logo se viu apoiado por ninguém menos do que o ex-presidente pretendente ao cargo.

Será que o Brasil não merece um outro perfil de líder? Um presidente firme e negociador. Um presidente que reduza o tamanho do estado e invista na educação, na infraestrutura e na inovação? Um presidente que seja realmente um liberal. No sentido do respeito às liberdades individuais e dos direitos de propriedade. Que realmente combata a corrupção inclusive dos seus. Que respeite a escolha dos cidadãos e que consiga manter a ordem através do diálogo e do respeito à democracia.

 

 

*Fortunato Russo Neto é engenheiro civil (UFPE) e mestre em economia e finanças (FGV/RJ).