Revolução Pernambucana.

 

O pernambucano do século 21 é um mascate tecnológico. O Porto Digital está aí pra nos confirmar. A mascataria açucareira é uma paisagem de Lula Cardoso Ayres.

Pernambuco tem dois temperos: o tempero revolucionário e o tempero reformista. Nas revoluções, fizemos três em trinta e um anos: a revolução dos maçons, de Domingos José Martins, em 1817. A revolução dos padres, de Frei Caneca, em 1824. E a revolução Praieira, de 1848. Esta, a única revolução social brasileira, segundo Amaro Quintas. Os pernambucanos, viciados em eventos revolucionários, perseguidos pelo Império, passavam fome.

Mas, Pernambuco mostra outro matiz genético pouco falado. E, menos ainda, assumido: o reformismo. O pernambucano alimenta também uma vocação reformista. Cito dois reformistas: Joaquim Nabuco, no Império. E Josué de Castro, na República.

Nabuco foi um conservador que defendeu teses liberais. Proprietário de escravo que se tornou abolicionista. E monarquista que se tornou o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, designado na República.

Josué de Castro foi o mais cientista dos políticos. E o mais político dos cientistas. Estudou a fome com olhos de humanista. E escreveu sobre nutrição com a vontade política do fazer.

Para Josué, a fome não foi só um sentir de ciência. Foi principalmente um sofrer de consciência. Suas linhas de inspiração científica e política formaram uma geografia da fome. E produziram arquitetura social que virou denúncia. E, ao virar denúncia, transformou-se em bandeira. Que permanece, até hoje, viva, como condenação do poder.

Mas, o que eu quero falar mesmo é sobre antecipações pernambucanas. Vamos celebrar, a 7 de setembro de 2022, duzentos anos de nação independente. Só que, em agosto de 1821, os pernambucanos proclamaram a independência de Portugal. Por meio de movimento constitucionalista que expulsou os portugueses do massapê pernambucano.

A chamada Convenção de Beberibe consagrou bandeira, constituição, liberdade de opinião, aos nascidos neste torrão. Pernambuco passou a ser governado pela Junta de Goiana. Presidida pelo comerciante Gervásio Pires Ferreira.

Portanto, Pernambuco constitucionalista, republicano e autônomo na determinação política, está datado. E, se foi assim antecipado politicamente, há duas outras confirmações desse timbre. Passadas em dois cartórios do talento pernambucano: no de saúde mental e no de teatro de costumes.

No campo da saúde mental, Ulysses Pernambucano extinguiu as práticas de violência vigentes até os anos de 1920. E as substituiu pelas noções modernas de convivência social e de criação artística.

No campo do teatro de costumes, Nelson Rodrigues foi um implacável autor contra o politicamente correto. Polêmico, retirou véus de conveniência que empanavam o olhar cru da realidade nacional.

Na comemoração de duzentos anos de independência, é justo recordar os que teceram os fios que sustentam, até hoje, a nacionalidade brasileira.