Depois da chegada discreta, o ex-Juiz e ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro foi logo assumindo as vestimentas de político e pré-candidato a presidente da República, desenvolto em negociações de alianças e apoios, e voz modulada por tratamento de fonoaudiologia, discursando em vários eventos para diferentes públicos. Com cerca de um mês de presença na cena política, Moro está provocando movimentos nas placas tectônicas das forças políticas que se preparam para as eleições do próximo ano.
Em evento recente no Recife, ficou evidente o novo estilo solto e efusivo de Sérgio Moro e, principalmente, a sua capacidade de atração de antigos eleitores de Bolsonaro que estão insatisfeitos, ou mesmo indignados, com o desmantelo do governo, conservadores e antipetistas que, no entanto, rejeitam a irresponsabilidade e irracionalidade demolidora do presidente da República.
De acordo com a última pesquisa de opinião da Genial/Quaest, o ex-juiz já teria 10% das intenções de voto, o dobro das intenções de voto em Ciro Gomes, provocando uma desarrumação nas candidaturas da chamada terceira via. A pesquisa Genial/Quaest confirma a tendência de migração de votos de Bolsonaro, que pode, contudo, encontrar resistência no núcleo duro do bolsonarismo. Por isso, embora a busca dos votos de descontentes com Bolsonaro seja parte da estratégia de Moro, ela não terá chances se não formar alianças com segmentos do centro do espectro político brasileiro. Até porque o seu potencial eleitoral será contido por uma taxa de rejeição elevada (60% dizem que conhecem mais não votariam nele), abaixo apenas da rejeição a Bolsonaro (64%).
Ele deve ainda disputar com Bolsonaro o voto antipetista, e transferir para o atual presidente a sua campanha de combate à corrupção, principalmente para tentar distanciar-se da sua participação no governo. Mas, ao fazê-lo, Moro vai assustar o Centrão, que morre de medo da Lava Jato, e tende a firmar sua aliança com Bolsonaro. Mesmo sem uma base política sólida, partidos com estrutura e fundo partidário que alimentem sua campanha, Moro pode exercer um efeito de gravidade sobre as outras candidaturas alternativas, caso, nas próximas pesquisas, amplie as intenções de voto e diminua a diferença para Bolsonaro.
O “efeito tectônico ‘” que Moro pode produzir (se subir nas intenções de voto apesar de seu nivel de rejição ser semelhante ao de Bolsonaro) é que vai ter um bocado de gente votando em Lula já no primeiro turno, para evitar que se tenha um segundo turno MoroXLula (cópia borrada de BolsonaroXHaddad, em mais de um sentido).
Com minhas desculpas, é preciso muita prevenção de espírito para comparar Moro a Bolsonaro, em qualquer circunstância…
É estarrecedora a atual prevalência de intenção de voto no lulupetismo cleptocrático, em detrimento de candidaturas fora da polarização populista estabelecida.