Aproveitei o fim de semana. Tinha recebido vários materiais sobre a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas – COP26. Tema que é básico para nós e gerações futuras. Fui ler para entender um pouco.
A visão geral é de quase nenhum avanço. Mas há alguns. Em um texto vi esforços de países e regiões de elaborarem planos de desenvolvimento sustentável para os próximos 10 ou 20 anos, baseados em emissão de carbono zero. Interessante notar como se condiciona a perspectiva de governabilidade que coloca a questão ecológica como norte para o desenvolvimento sócio-econômico. Inimaginável há poucos anos atrás.
No entanto, críticas foram o que mais se viu. De todas as partes aparecem posições que questionam os resultados alcançados. Avanços tímidos que se resumem à possível redução de emissão de gases causadores de efeito estufa. Os compromissos são vagos e questionados por especialistas. Interesses individuais os amenizam.
No caso do metano e do dióxido de carbono, há dúvidas sobre a posição brasileira. Aderiu aos acordos, mas não diz como. O avanço da pecuária em geral, como grande produtor mundial de carne bovina, o avanço das pastagens em áreas que eram de floresta, o desmatamento crescente, os dados que saem após a Conferência demonstram que o discurso não é coerente com a prática. Se tivermos resultados interessantes na indústria de transformação – parece pelo que foi apresentado – isso não se alicerça nas políticas ambientais e resultados auferidos com avanço crescente da agropecuária e desmatamento de florestas naturais.
As metas estabelecidas pelos grandes países não apresentam mecanismos práticos que lhes deem sustentação. China e Índia amenizam as orientações para substituição do carvão como fonte energética. A declaração final, segundo os textos lidos, terá que ter um marco regulatório a ser definido na próxima COP. Ou seja, deixaram para o Egito a parte complexa do como fazer.
Fico assustado com alguns dados apresentados. Dentre esses, chamam-me a atenção os gastos com catástrofes e desastres climáticos em países subdesenvolvidos. A África, por exemplo, embora seja responsável por cerca de 1% das emissões causadoras de efeito estufa, já gasta mais de 10% de seu PIB para mitigar desastres oriundos de mudanças climáticas como maremoto e cheias, entre outros. Países em que o nível de pobreza absoluta é alarmante.
Nesse sentido, infelizmente, não se consegue aprovar um fundo financeiro realmente significativo de países ricos, de apoio aos menos favorecidos. Não se avança na busca de soluções que permitam criar programas para os países que mais sofrem.
Uma área na qual trabalhei, e sempre vi como uma saída que contribuiria fortemente para a melhoria do futuro da humanidade, também é questionada. Dois artigos sobre Energias Renováveis. Pesquisadores mostram as enormes áreas necessárias para viabilizar as energias eólicas e fotovoltaicas. Alertam para a dependência de materiais cuja fonte é concentrada geograficamente, além de produção de ligas em que poucos países, como a China, são fornecedores mundiais. Também mostram o sucateamento de equipamentos, que se dá em 20 ou 30 anos, e gera a dependência de pesados investimentos para sua renovabilidade. Um sistema que pode levar a processos que têm insumos de energia limpa, mas que pode condicionar a subordinação de uma ordem mundial a impérios de grandes potências.
Nesse emaranhado de informações, lembrei do meu amigo Adriano Batista Dias. Em suas pesquisas, sempre alertava para a dificuldade atual de mitigação da situação climática. Sugeria medidas adaptativas que pudessem efetivamente redirecionar os indicadores e apontar para um novo padrão de consumo e vida.
O mesmo que anos antes Ignacy Sachs nos ensinou numa pesquisa da qual participei: só haveria como alternativa a mudança dos padrões de consumo e produção, em que se respeitassem os limites ambientais, em que a ecologia tivesse condições de reproduzir seus padrões num sistema autorregenerativo.
Mas, mais de vinte anos passados, um questionamento sempre me é recorrente. Como a sociedade capitalista, os mais bem aquinhoados, abrirá mão de seu padrão, como seria possível o compromisso com as gerações futuras?
Nada aponta para essa direção. É um jogo em que uns jogam a culpa nos outros, em que os mais poderosos economicamente definem as regras sem, em momento algum, abrir mão de seus interesses concretos.
Um mundo em que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E as gerações futuras? Ora, as gerações são futuras, não estão aqui para reivindicar seus direitos.
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