Cristo e os Vendilhões do Templo – autor não identificado.

 

Diante das críticas e da pressão da Controladoria Geral da União, o governo de Jair Bolsonaro decidiu liberar a informação da agenda de visitas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura ao Palácio do Planalto. O dano já estava feito. O ridículo decreto de sigilo por cem anos de uma simples agenda de visita, para garantir a segurança do Presidente e da sua família, violava a Lei de Acesso à Informação e levantava mais suspeitas que a divulgação dos movimentos dos pastores nos corredores do Poder. Sem falar na agressão do Presidente da República, respondendo, de forma debochada, ao questionamento de um cidadão: “Em 100 anos saberá”. O governo preferiu recuar, para minimizar o impacto do decreto de sigilo. A liberação da informação confirma o lobby dos pastores, mas reduz óbvias especulações de possíveis dados e fatos graves da movimentação dos religiosos no Palácio do Governo. “O que pode conter uma simples agenda de reuniões que leve o presidente da República a decretar sigilo de cem anos, violando a Lei de Acesso à Informação?” ou, “Como estas estranhas visitas de pastores ameaçam a segurança de Bolsonaro, senão por evidenciar sua responsabilidade direta na corrupção que se instalou no Ministério da Educação?” 

De acordo com a agenda divulgada agora pelo Gabinete de Segurança Institucional, foram 35 visitas do pastor Arilton e dez do pastor Gilmar, em pouco mais de 36 meses do governo Bolsonaro. Seria um sinal de extrema religiosidade do Presidente e seus dois assessores diretos, se não fossem as denúncias e suspeitas de lobby e corrupção desses pastores, “vendendo” a liberação de recursos do Ministério da Educação para Prefeituras. A intensa movimentação dos pastores no Palácio tende a reforçar a afirmação anterior do ministro demissionário da Educação, Milton Ribeiro, de que estava obedecendo a ordens do presidente quando recomendou à sua equipe prioridade para atender interesses dos pastores, que negociavam com Prefeituras a liberação de projetos. E coincide com a declaração do insuspeito ex-ministro Abraham Weintraub, de que teria recebido ordens diretas de Bolsonaro para entregar ao Centrão a gestão do FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, principal fonte de recursos do Ministério. São muitas as evidências do envolvimento do presidente nas atividades ilícitas do seu governo, sua participação no mundo obscuro da corrupção e da compra escancarada de votos.