Em menos de uma semana, dois importantes eventos políticos armaram um muro de proteção da democracia e, mais diretamente, do sistema eletrônico de votação e apuração das eleições. A “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros”, assinada por cerca de um milhão de juristas, empresários, intelectuais e políticos, e lida em público no dia 11 último, condenou os ataques à lisura do processo eleitoral e ao estado democrático e as intoleráveis “ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”. A cerimônia formal de posse do presidente do TSE-Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, ganhou uma clara conotação política, diante da sistemática tentativa do presidente da República de desqualificação da instituição. Num discurso sóbrio e contundente, o novo presidente do TSE destacou que o sistema eleitoral brasileiro é o mais ágil, seguro e transparente do planeta. “Somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, afirmou. E adiantou que o TSE não irá admitir fake news, mentiras e agressões às instituições na campanha eleitoral, tudo que Bolsonaro vem fazendo e, seguramente, preparando para sua propaganda eleitoral. O discurso de Moraes foi aplaudido de pé pela plateia formada pelas mais altas autoridades da República, 22 governadores, senadores e deputados, ministros e ex-ministros de tribunais superiores e várias delegações diplomáticas. Totalmente constrangido, entendendo o recado direto de Moraes, Bolsonaro teve que ouvir calado que a “Constituição não permite propagação de discurso de ódio e ideias contrárias a Estados democráticos de direito”, que liberdade de expressão não é liberdade de agressão nem de destruição da democracia.
Os dois eventos, principalmente a posse de Alexandre de Moraes, desmontaram, antecipadamente, a narrativa de fraude eleitoral que Bolsonaro já vinha alimentando e que pretende intensificar, na medida em que vá ficando evidente a sua provável derrota nas eleições. E que seria a chave para a mobilização dos seus fanáticos seguidores, provocando uma comoção social que, imagina ele, atrairia o apoio das Forças Armadas para a interrupção do processo eleitoral. Bolsonaro está preparando o troco nas comemorações do Sete de Setembro. Mas a Carta às brasileiras e aos brasileiros e a posse do presidente do TSE montaram um cerco de proteção da democracia.
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