Em palestra recente, em evento do Cine PE 2022, o economista Edmar Bacha resumiu a sua sensação em relação ao Brasil com três palavras: regozijo, esperança e interrogação. Regozijo porque “em 1º de janeiro, o país vai despertar do pesadelo dos últimos quatro anos” e pela resistência das instituições e da sociedade aos intentos autoritários de Bolsonaro. Esperança de que o novo governo reverta a política de terra arrasada implementada pelo atual presidente. A interrogação, segundo Bacha, diz respeito à forma como o governo que assume em janeiro irá conduzir a política econômica, considerando que existe um risco real de descontrole fiscal e macroeconômico, se o presidente Lula da Silva não abandonar a gastança e o intervencionismo do Estado na economia.
A uma semana da posse de Lula da Silva, a Revista Será? compartilha sentimentos semelhantes aos manifestados pelo economista e membro da Academia Brasileira de Letras: alívio, confiança e receio. O alívio vem do fim do governo desastroso e desastrado de Jair Bolsonaro e suas ameaças à democracia. A confiança em um novo governo que, mesmo sem ter anunciado com clareza uma estratégica para a reconstrução do Brasil, deve assegurar os fundamentos democráticos. E, por mais que cometa erros e desvios, em pelo menos quatro áreas fundamentais – educação, meio ambiente, saúde e relações exteriores – será um governo infinitamente melhor que o desmantelo destrutivo de Bolsonaro. Como Bacha, o receio da Revista Será? está na economia. E parte de uma experiência real: os governos populares (para não dizer populistas) se caracterizam pela ganância nos gastos, descuido (para não dizer desprezo) pelo controle e equilíbrio fiscal. A PEC da transição, aprovada pelo Congresso nesta semana, elevou as despesas primárias de 2023 em 168 bilhões de reais e, o que pode ser mais grave, tirou o Teto de Gastos da Constituição, autorizando sua substituição (através de lei ordinária) por uma “nova regra fiscal” (a ser anunciada pelo governo até agosto). Tudo indica que a nova regra vai acabar com a limitação das despesas, a ser substituída por um controverso e duvidoso teto da dívida. Como diz Benito Salomão, o teto da dívida é falho porque “não cria constrangimentos aos políticos na origem do endividamento, que é o gasto primário”. Sem uma âncora fiscal rigorosa, a ganância de gastos do PT e seus aliados (inclusive os novos aliados do Centrão), combinada com as enormes pressões sociais acumuladas nos últimos anos provoca um grande receio em relação ao futuro do Brasil.
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