Ele vai embora, abandonar o país antes da conclusão do seu mandato e da transmissão do cargo para o novo presidente. Fugirá para a Flórida, no derradeiro ato de um bufão que, por uma covardia do destino, foi eleito presidente do Brasil para os últimos quatro anos. Os cientistas políticos e os psicólogos sociais têm farto material para pesquisas e debates que tentem explicar esta aberração na história política do Brasil que, como diz editorial do Estado de São Paulo, teve “um governo conduzido durante quatro anos sob o signo de Tânatos”. Na verdade, desde a derrota eleitoral, Jair Bolsonaro mergulhou no silêncio e no mutismo, supostamente deprimido, abdicando das suas responsabilidades como presidente. Foi até bem melhor assim porque, quanto menos ele fala e age, mais o Brasil respira aliviado. Embora o seu silêncio tenha estimulado o delírio golpista dos bolsonaristas que ainda esperavam uma manobra final dele para impedir a posse do presidente Lula da Silva, eleito em outubro. Agora, acabou.
Rigorosamente, ao longo dos quatro anos do seu mandato, ele não governou, limitando-se a soltar farpas, agredir as instituições republicanas, promover um clima de tensão e desordem, e adotar medidas dispersas do seu arsenal anti-civilizatório. Não governou, mas deixou um rastro de destruição, e alimentou o fanatismo de grupos violentos e armados que degenerou em atos terroristas, como a tentativa de explodir uma bomba sob um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília. As investigações da Polícia encontraram um arsenal de armas e dinamites, e evidenciaram que existia mesmo um plano para “criar um caos” que justificasse a decretação de estado de sítio, que impediria a sucessão presidencial. No seu primeiro depoimento, o terrorista George Washington de Oliveira Sousa declarou que se inspirara nos discursos de Bolsonaro para organização das ações terroristas. Com a partida de Bolsonaro para a Flórida, o Brasil fica mais leve, abrindo caminho para a pacificação nacional. O terrorismo dos grupos fanáticos é uma grande ameaça, mas pode contribuir para a pacificação nacional, na medida em que deve isolar o bolsonarismo radical, afastando-o da grande massa de eleitores de Bolsonaro que, mesmo com valores conservadores, desejam um Brasil com paz e segurança.
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