Todo brasileiro que pensa fora das bolhas das redes sociais sabe que o governo Bolsonaro foi uma catástrofe, em vários aspectos criminoso, e que ele estava levando o Brasil ao abismo. Mesmo muitos eleitores de Bolsonaro sabiam disto, mas não admitiam que Lula da Silva voltasse à presidência da República. Também é amplamente sabido que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado, e que continua conspirando para derrubar o presidente Lula. Por que, então, a cada discurso e entrevista à imprensa, Lula precisa repetir à exaustão as acusações ao governo passado, à “herança maldita”?
Há seis anos, a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada do governo em um processo de impeachment, seguindo todos os ritos constitucionais, antecipando o fim de um dos mais desastrosos governos da República. Por que, então, Lula insiste em chamar aquilo de golpe, elogiar Dilma, e acusar nominalmente de golpista o ex-presidente Michel Temer, um dirigente destacado do MDB, que apoiou sua eleição e faz parte do seu governo? Por que ele vem trazendo Dilma de volta à cena política do Brasil e, como se comenta, pretende levá-la à presidência do Banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)?
Finalmente, o que explica esta violenta reação de Lula à manutenção da taxa básica de juros? Apesar de divergências em relação à calibragem da Selic, todo brasileiro bem informado sabe que o Banco Central é independente, e tem a responsabilidade pela definição dessa taxa que, portanto, não vai mudar, por mais que o presidente grite e esperneie. Aliás, quando ele esperneia cresce a incerteza da economia, que tende a provocar a elevação dos juros. Então, por que ele abriu esta guerra contra o BC e, mais diretamente, contra o seu presidente? Com um detalhe: a taxa de juros Selic não foi elevada nesta última reunião do COPOM – Comité de Política Monetária. Foi mantida nos 13,75% que vigem desde agosto do ano passado.
Parece haver uma única resposta para estas perguntas: o presidente Lula não saiu do palanque, e continua preso na bolha petista, falando para os seus fiéis seguidores, muito parecido, aliás, com o comportamento do predador Jair Bolsonaro, no seu famoso cercadinho. O governo Lula tem dado sinais bem positivos em vários ministérios. Mas ele mesmo, na sua incontinência verbal, não sai da sua bolha, e se empenha em agredir vários setores políticos que ajudaram, e muito, na sua eleição, e fazem parte do seu governo. Ou seja: Lula continua apostando da polarização. Nada a ver com suas promessas de pacificação nacional.
Verdade. Mas que tristeza.
Obscurantismo, bem explicado em O Obscuro e radical Hamann.
O discurso de privilegiar valores tradicionais se servindo do Estado e a manutenção da exploração da classe trabalhadora é a Elite do Atraso bem representada por Abílio Diniz que “tenho medo de uma reforma tributária Robin Hood”.