O ministro Fernando Haddad se afirma como o elo responsável do Governo, e se mostrou um competente negociador, com a aprovação do texto base da nova regra fiscal na Câmara de Deputados com uma maioria confortável (372 votos favoráveis). Os deputados surpreenderam com a seriedade no tratamento das finanças públicas, incluindo no texto aprovado pontos relevantes de controle e contenção do ímpeto gastador do presidente Lula da Silva. O resultado demonstrou ainda que, apesar, ou por cima do fisiologismo que domina a política brasileira, o debate político e a negociação de alto nível permitem construir instituições sólidas e confiáveis. Foi uma indiscutível vitória de Haddad e uma vitória do Brasil, na medida em que a nova regra restaura a confiança dos agentes econômicos numa trajetória de equilíbrio fiscal, embora já seja evidente que, neste ano, não será alcançada a meta de 0,5% do PIB de déficit primário. Claro que o Centrão e o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, vão cobrar a fatura (ou já cobraram com a liberação de 1,1 bilhão de reais em emendas parlamentares).

No mesmo dia em que o Governo conseguiu aprovar a nova regra fiscal sinalizando para a melhoria do ambiente econômico, a Comissão Mista do Congresso que analisa a Medida Provisória da reestruturação dos Ministérios realizou um profundo esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, retirando vários e importantes órgãos subordinados à pasta de Marina Silva e do Ministério dos Povos Indígenas, que perde a FUNAI-Fundação Nacional do Índio. Tudo indica que o Governo não se empenhou na defesa da proposta de estrutura contida na Medida Provisória, cedendo às pressões do Centrão, e demonstrando que, apesar dos discursos ambientalistas, o presidente Lula considera o crescimento da economia a grande prioridade do seu governo. 

O conflito entre economia e meio ambiente no seio do Governo explodiu um pouco antes, com a resolução do IBAMA vetando a prospecção de petróleo pela Petrobrás na chamada Margem Equatorial, em torno da Foz do Rio Amazonas. Diante dos sinais de Lula em favor da Petrobrás e da tolerância do Governo com o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, a ministra Marina Silva foi clara e contundente: “Não basta a credibilidade do presidente Lula ou da Ministra do Meio Ambiente. O mundo vai olhar para o arcabouço legal e ver que a estrutura do Governo não é a que ganhou as eleições. É a estrutura do Governo que perdeu. Isso vai fechar todas as nossas portas. É um erro estratégico”. Se não houver um empenho do Governo para condicionar o crescimento econômico à conservação ambiental, não se pode falar em desenvolvimento sustentável, economia verde ou economia de baixo carbono, conceitos repetidos nos discursos governamentais.