Conheci Clemente Rosas, em 1967 ou 1968. Eu, estudante de Economia da Universidade Católica de Pernambuco; ele, professor do mesmo curso. Nos anos subsequentes, vi-o poucas vezes, todas elas, em minhas andanças pela Sudene, onde Clemente fez grande parte de sua carreira profissional. Nunca fomos próximos, embora tenhamos muitos amigos em comum.

Estou escrevendo essas coisas por ter acabado de ler seu livro “Sonata de outono” (Sal da Terra, João Pessoa, 2022). Li e gostei. Por várias razões, a mais importante das quais é que Clemente tem o que dizer e dá seu recado com clareza. Como clareza é o que eu quero ter em meus próprios escritos, simpatizo com todo mundo que cultiva esse propósito e, ainda mais, com quem consegue atingi-lo. 

Mas, não foi só isso. Descobri que nossas histórias familiares têm um capítulo na cidade de Santa Rita (Paraíba). Minha mãe, Stella, nasceu lá, em 1917, e lá passou a infância. No Engenho Velho, que meu bisavô comprou, em 1899, e na Usina Pedrosa, que meu avô construiu, em 1920. A casa “nova” do engenho, erguida em 1914, ainda está lá, bem conservada, na hoje chamada Usina Agroval.

Por seu turno, o pai de Clemente administrava duas fazendas pertencentes à fábrica de tecidos Tibiri, também em Santa Rita. A construção dessa fábrica (que hoje não existe mais), foi feita por outro de meus bisavôs, o engenheiro Francisco Dias Cardoso. Depois de pronta a obra, Francisco tornou-se administrador da empresa por vários anos.

Acho que as ligações dos meus bisavôs com Santa Rita são anteriores às do pai de Clemente. Mas, gostei de saber que temos esse ponto em comum. Stella, minha mãe, adorou a infância vivida no Engenho Velho transformado em usina pelo pai dela. Por causa disso, me tornei fã – embora não devoto – de Santa Rita.

Devoto eu não sou, de santo nenhum. E falar nisso me lembra de outra coisa que gostei de ficar sabendo sobre Clemente Rosas: sua posição filosófica com respeito à religião é bem próxima à minha. Apenas, talvez, menos radical. Não sei se ele concordaria, por exemplo, em considerar a religião não apenas desnecessária, mas nociva.

Também nossas ideias em política são muito parecidas. (Sobre economia ele quase não fala, no livro.) Compartilhando, na juventude, dos sonhos de uma revolução social que redimiria a humanidade, chegamos ambos à compreensão de que, onde revolução houve, seu legado foi um mundo pior do que o que existia antes. Ou, pelo menos, pior do que o que foi construído no mesmo tempo nos países que rejeitaram a opção revolucionária, quase sempre, de inspiração marxista.

Mas, para não dizer que só tenho concordâncias com o autor da Sonata de Outono, menciono uma divergência. Clemente se lembra com carinho dos bichos do mato que seu pai trazia para casa e que ele e os irmãos transformavam em brinquedos, por um tempo. (Até cobras não venenosas entraram nessa história.) Bem, eu gosto de bichos, mas eles, no lugar deles; eu, no meu. A promiscuidade entre animais e pessoas humanas, para mim, é uma coisa, acima de tudo, anti-higiênica. 

Enfim, embora eu tivesse muitos outros comentários a fazer, paro por aqui. Mas não sem dizer que Clemente Rosas escreveu um livro de leitura instrutiva e agradável. Como autor, eu me sentiria gratificado de ouvir alguém dizer isso sobre um dos meus livros. Espero que ele também fique. (Recife, 30/4/2023)