Recebi de uma amiga. A quarta Pesquisa do Fórum Econômico Mundial. O relatório 2023 sobre “O Futuro do Trabalho”. Uma análise sob a ótica das empresas, principalmente das grandes empresas.

Traz a visão de 803 firmas que empregam mais de 11 milhões de funcionários, em 45 países, de diferentes segmentos industriais. O objetivo é compreender como o mercado de trabalho evoluirá nos próximos cinco anos, ou seja, até 2027. Um cenário que pode ser bem diferente do da época atual.

Duas premissas chamaram a atenção. 

Em primeiro lugar, a alta aderência das empresas para princípios norteadores, três principalmente, a preocupação crescente com as questões ambientais, a relevância da responsabilidade social, com os empregados e com o ambiente em que estão inseridas, a busca de transparência na sua governança, para clientes, fornecedores e setores governamentais.

Em segundo lugar, a consciência de que o nível do emprego nos países de maior renda per capita vem se recuperando celeremente após a pandemia, enquanto isso não se observa nos países de médio e baixo desenvolvimento. O pleno emprego está longe de ser alcançado nos países em desenvolvimento.

Há uma clara noção de que a nova onda tecnológica é um dos propulsores principais da recuperação do emprego para os próximos anos nos países mais desenvolvidos. Novas tecnologias com um maior acesso às tecnologias digitais tendem a forçar uma postura disruptiva que modificará a matriz de produção. 

Computação nas nuvens, inteligência artificial, big datas tem grande probabilidade de introdução na maioria das empresas consultadas, modificando o perfil das pessoas a serem utilizadas e o perfil de capacitação necessário.

O comércio eletrônico, bem como o digital, serão utilizados por mais de três quartos das empresas. As empresas se dispõem a investir em capacitação nessas novas áreas e a robotização dos processos deve avançar significativamente nesse período.

As tecnologias de gestão ambiental e a preocupação com os impactos no clima devem ter um efeito positivo no emprego, aliadas a uma evolução crescente no campo de segurança no cyber espaço. Isso garante, aos países centrais, recuperação crescente na matriz de empregabilidade.

No entanto, espera-se que um quarto dos empregos atuais exija uma renovação, principalmente devida à introdução disruptiva de novos processos industriais. Segundo os entrevistados, seriam criados cerca de setenta milhões de empregos, e eliminados oitenta e quatro milhões, resultando em uma perda de empregos de aproximadamente catorze milhões. O preocupante é saber que isso teria uma maior concentração, bastante acentuada, nos países menos desenvolvidos.

Interessante notar que, frente às pesquisas dos anos anteriores, o ritmo de automatização, nos próximos cinco anos, tende a diminuir, centrando-se mais nas áreas de tecnologia stricto sensu, digitalização de processos e sustentabilidade. Nestas, é importante investir pesadamente para ampliar os processos digitais e virtuais.

Chamam a atenção as características esperadas no perfil profissional daqueles que se inserem nesse movimento. Mais de quinze habilidades são levantadas. No entanto, duas são fundamentais e devem merecer enfoque principal. 

A necessidade de pensamento analítico é fundamental. Não basta conhecer as rotinas e dominá-las. Fundamental é entender as lógicas dos processos, questioná-las e, sempre que necessário, modificá-las. Pensamento analítico, questionamento sistemático, faz parte do perfil de habilidades desejado para o profissional de 2027 valorizado pelas empresas.

O segundo aspecto, muito ressaltado, foi a necessidade de criatividade. Uma pessoa inventiva, que consiga modificar os algoritmos existentes nos processos, que faça avançar com idéias novas os mecanismos preexistentes, é altamente desejável no modelo atual de empregabilidade. 

Essas duas características têm sido norte para os caçadores de talentos das grandes empresas na atualidade.

Os empregadores consultados chamam a atenção de que cerca de metade das habilidades atuais dos funcionários serão afetadas neste curto espaço de tempo. Também prevêem que seis em cada dez funcionários terão que se submeter a um processo de requalificação, mas chamam a atenção que apenas cinco terão essa oportunidade, o que significa que um décimo dos funcionários corre o risco de ser descartado. 

Em geral, as empresas consultadas dizem ter planos de capacitação e de automatização dos processos. E terem planos de contratação que priorizam mulheres, jovens de 25 anos e pessoas com deficiência. 

No relacionamento com os Governos veem como prioritário o financiamento, seja por programas por eles desenvolvidos, seja pela redução de impostos que permita às empresas estruturar programas para desenvolver as habilidades que lhes são necessárias.

Este é o panorama em 2023 para as grandes empresas consultadas. Evidentemente, deve ser atentamente analisado e mostra tendências importantíssimas para países como o nosso. Mas é importante fazer algumas ponderações.

Em primeiro lugar, infelizmente, nossa matriz produtiva não segue muito de perto esse modelo. Temos empresas de porte bem diferente e os processos de modernização se darão a ritmo menor.

Muito de nossa matriz ainda é de perfil taylorista, precisando de uma rotinização crescente. Também a recuperação do período de pandemia será mais morosa, e é fundamental a criação de empregos menos qualificados que absorvam a grande massa de desempregados que temos. Evidentemente, há uma significativa parcela de nossas empresas que segue os rumos que a pesquisa indicou, e devem ser envidados esforços para que se acompanhem essas tendências.

As perspectivas do mundo do trabalho em nosso país têm, necessariamente, que levar em conta esses dois caminhos, e gerar condições que nos permitam resolver o problema da geração de empregos de menor qualificação, que é crítico, mas também acompanhar a produtividade das grandes organizações, para uma inserção cada vez mais vantajosa para nossa sociedade.