Miguel Nicolelis e Natália Pasternak são dois cientistas brasileiros que ajudaram a salvar milhares de vidas ao se engajarem na recente batalha contra o obscurantismo e a favor da vacinação contra a COVID.
Por isso merecem toda a nossa valorização e admiração. E quando recentemente lançaram seus livros não tive dúvida em adquiri-los e lê-los. São eles “O verdadeiro criador de tudo” do Dr. Nicolelis e “Que bobagem” da Dra. Pasternak.
O objetivo do livro do Professor Nicolelis é valorizar o papel do cérebro humano na gigantesca criação do conhecimento e da ciência. Ele busca mostrar que o edifício cultural do que sabemos foi construído pela humanidade, num percurso nada linear, por gerações e gerações, e é maravilhoso, único e especificamente humano.
Logo no início do livro, na pag. 14, ele cita Marcelo Geisel e faz suas as palavras dele. “Massa e carga não existem por si mesmas; elas somente existem como parte da narrativa que nós, seres humanos, construímos para descrever o mundo natural.” *
Ele chega até a imaginar um alienígena se encontrando com um homem: eles não se entenderiam nunca pois cada um construiu um edifício cultural próprio, criado sem comunicação, autônomo e específico de cada processo de desenvolvimento.
Mas é aí que está o equívoco.
Não são só criações e nem tão autônomas assim. Ambas são baseadas nos fatos de um universo que é, em grande medida, único para os dois!
A maior parte do conhecimento humano é formado de constatações. Sem dúvida a criação do cérebro humano é significativa. Mas o determinante é a realidade que está lá, fora dele.
Vejamos um exemplo bem simples: 2 + 3 = 5. Criação humana ou constatação dos fatos? Certo que o sistema decimal e a simbologia árabe são criações geniais.
Mas o 2 está lá. E o 3 também. Junta-se e conta-se de novo, e dá o 5.
O alienígena pode ter outra modelagem, mas os fatos são os mesmos.
O desentendimento não é definitivo. Com algum esforço poderão se entender pois seus edifícios do conhecimento são construídos sobre uma mesma realidade.
O objetivo do livro da Professora Pasternak é denunciar as pseudociências e crendices sociais sem fundamento experimental, sem evidências empíricas que comprovem sua veracidade.
Objetivo importante principalmente no campo da saúde. Tratar uma pneumonia com ervas sem uma eficácia comprovada põe em risco a vida do paciente, assim como a prescrição de cloroquina para combater a COVID, que causou a morte de milhares de brasileiros.
Mas de seu interessante livro quero me dedicar com cuidado ao capítulo sobre a psicanálise.
Não tenho nenhuma dúvida que nesse assunto ela está totalmente equivocada!
Além disso foi muito mal-educada. Misturar Freud com o sacrifício de animais e com aquele lixo do Hellinger é uma total falta de respeito a renomados cientistas e colegas médicos.
Para um estudioso do método científico, a questão central do equívoco está na forma elementar como ela aborda a especificidade das evidências empíricas relevantes nessa, relativamente nova, ciência.
Em vários momentos ela refuta conclusões de Freud e seus seguidores por se basearem em observações acumuladas de vários casos analisados na experiência clínica.
Segundo ela, e o que me parece o erro central, determinante, a experiência clínica, a observação de casos não pode ser usada. Alega que esse tipo de evidências tem muitas armadilhas, dificuldades e vieses. E em vez de sugerir cuidados com esse tipo de informação, resolve rejeitar totalmente seu uso.
E principalmente na observação sistemática e prevenida da experiência clínica é que vão se forjando os pilares das evidências empíricas da ciência psicanalítica
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* A ilha do conhecimento, Editora Record, 2014
Esse artigo não é meu. Só vi este artigo agora aqui na Será? Acho até um artigo interessante. E eu também defendo a psicanálise e Freud. Mas acho também espantoso o engano dos editores da “Será?”, que não repararam que eu jamais escrevi e jamais escreveria um texto nesse estilo de sequência de frases em staccato. O autor do artigo se chama ULRICH HOFFMANN. Solicito correção.
Como racionalista que sou, resisto em dar foro de ciência à psicanálise. E não estou sozinho nessa posição. Ao meu lado estão, de pronto, um cientista prêmio Nobel e a nossa prata da casa, o pensador José Guilherme Merquior. Para mim, a psicanálise é mitologia. Pois se o objeto do seu conhecimento é a alma humana, que é imaterial, como viabilizar os recursos da experimentação e da observação? É por isso que categorias como os complexos de Édipo, de Electra, de castração, as fases oral e anal da sexualidade, a interpretação dos sonhos, carregam um elevado grau de artificialismo. (Ver artigo meu nesta revista: “Mitologias Modernas”). Como técnica de cura pela conversa, numa espécie de “curandeirismo moderno”, ainda vai. Muita gente precisa disso.
Só mais uma pergunta: quem é o Marcelo Geisel referido no quarto parágrafo do artigo?
Algum parente do nosso ex-presidente?