Pipoca

Pipoca

Os Estados Unidos são um país digno de ser imitado. Dou três razões para tanto, dentre muitas outras que também poderiam ser lembradas: 

(1) Quatro universidades dos EUA (MIT, Harvard, Stanford e Berkeley) estão entre as dez melhores do mundo, segundo a QS World University Rankings para 2024. Nas 25 primeiras, são onze; das 50 mais bem classificadas, 16 são norte-americanas.

(2) Desde 1901, quando a distinção foi criada, 965 pessoas receberam prêmios Nobel (nobelprize.org). Dessas, 413 tinham vínculo com universidades dos EUA (Superinteressante). Somente Harvard tem 150 ganhadores do Nobel (Geniun Education).

(3) Dentre os dez países mais inovadores do mundo (a lista começa com a Suíça e inclui a Coréia do Sul, Singapura, China e Israel), os norte-americanos ocupam a segunda posição. (Organização Mundial da Propriedade Intelectual). 

O Brasil poderia ter imitado os americanos em alguma – se não em todas – dessas modalidades. Isso nos ajudaria a construir uma sociedade mais rica, mais produtiva, com menos pobreza, menos parasitismo, menos política de compadres. Mas, não o fizemos.

Nenhuma instituição de ensino superior brasileira está entre as 50 internacionalmente mais respeitadas, de acordo com a QS World University Rankings. (Pela primeira vez, a Universidade de São Paulo entrou na lista das 100 melhores: ocupa agora a 85ª posição. É algum consolo.) Entretanto, países que, trinta anos atrás, eram miseravelmente pobres e educacionalmente inexpressivos, hoje têm universidades entre as 50 melhores do mundo: a China tem seis; a Coreia do Sul, uma. Mesmo um minúsculo país-cidade como Singapura possui duas universidades nesse grupo seleto.

O Brasil não teve jamais um único ganhador do prêmio Nobel. Pelo menos, nenhum que haja recebido a distinção por trabalhos feitos aqui, ou que tenha sido vinculado a qualquer instituição de ensino ou pesquisa do nosso país. Em inovação tecnológica, também ficamos muito longe dos países líderes. Talvez o símbolo desse atraso seja a Lei de Informática, monstrengo protecionista que há cinquenta anos alimenta um cartório de empresas cujas realizações em matéria de inovação ninguém nunca ouviu falar.

Ou seja, não temos universidades excelentes, nem cientistas premiados, nem produção relevante de inovações. Em nada disso imitamos os Estados Unidos. Daquele país, ao contrário, importamos o chatíssimo “politicamente correto” (e sua projeção na ideologia identitária); a adoração pela fábrica de idiotas Disneyworld; os restaurantes destruidores do paladar tipo McDonald’s; a estratégia empresarial dos pastores especializados em explorar os fiéis pela TV. (Na verdade, nossas igrejas evangélicas aprimoraram muito os métodos deles. Não deixa de ser uma inovação tecnológica.)

Ademais, já não sabemos viver sem o Big Brother, o Halloween, a Black Friday e outras desgraças semelhantes. Nossa língua está contaminada por anglicismos desnecessários. Nos cinemas, valorizamos mais o sabor da pipoca do que a qualidade dos filmes. Na verdade, gostamos tanto de comer no escuro que o governo vai lançar o programa de desenvolvimento sustentável, includente e solidário Pipocas para Todos. 

Será um fracasso, claro. Mas, quem quer saber disso?